Em meio a tal imensidão com inúmeros problemas, e também muita resistência e criatividade, há mais de 10 anos encontra-se uma pequena, porém poderosa, experiência de inserção comunitária: o Coletivo Roça!.
Já não se trata de lutar em meio ao povo, “como um peixe na água”. E sim ser a própria água, na qual se afogam os nossos inimigos.
Uma vanguarda não separada da Comunidade, da Terra e do Território.
Comunidade não implica em formalizar uma entidade, seja através de contrato jurídico ou de relações institucionalizadas. E sim gerar uma forma de habitar o mundo.
E habitar é escrever histórias na terra, é o que nos diz a palavra geo-grafia.
Essas são algumas das histórias do Coletivo Roça!. Vida longa!
- Como, quando e por quê começou?
Geandra Nobre: Bom, o processo de construção da Roça! começou muito a partir de uma inquietação que a gente tinha. Por conta dos espaços privados que foram construídos, a princípio prá serem popularizados, que são as ONG.
Mas que no decorrer dos anos, eles acabaram sendo espaços privados e de dificuldade prá gente acessar.
Então, um grupo de amigos com muita afinidade, muito desejo de construir um espaço mais dinâmico, diverso, um espaço que pudesse ser disponível para os moradores e moradoras da Maré, resolveu criar o espaço da Roça!.
A Priscila Monteiro, que é psicóloga e participou da construção do início da Roça!, ela tinha muito um desejo de trabalhar com crianças. Como fazer um diálogo com as crianças aqui da Maré.
A Gizele Martins, jornalista, ela queria criar um espaço em que ela pudesse publicar os trabalhos dela, jornalístico de forma mais independente. Porque quando se está muito vinculado a algum espaço, se limita muito o que se pode falar, o que o que pode ser narrado.
Então a Gisele queria muito ter um espaço mais autônomo prá escrita jornalística dela.
O Timo, por vir da Geografia, está muito inserido nessa de entender a relação do atravessamento dos alimentos do campo pra cidade. Tinha um desejo de construir uma loja, em que pudesse fazer com que esses produtos chegassem ao espaço periférico, em especial o espaço da Maré.
E eu, por ter uma trajetória muito mais de família, que tinha uma construção de espaços mais autônomos, eu queria ter um bar, né?
A minha mãe sempre teve um bar, eu sempre fui criada dentro de um bar. Então eu queria ter um bar, com todas as suas relações sociais como qualquer bar, mas também com uma outra perspectiva.
De que a gente pudesse, ali, nesse bar, ao invés de estar sempre ligado na TV Globo, a gente passar um documentário, ter acesso a livros. Então, um bar diferenciado por conta dessa perspectiva do acesso à comunicação e à informação.
A partir desses desejos todos a gente construiu a Roça!. Obviamente que a gente não conseguiu agrupar tudo isso num espaço só, porque são muitos desejos.
Mas ao longo dos anos, e hoje a gente completando dez anos, conseguimos atingir muitas dessas nossas metas e desejos.
Foi um dia de sol num domingo na Zona Norte do Rio de Janeiro quando fizemos uma visita à Quinta da Boa Vista para deitar na grama e conversar sobre ideias e planos.
Éramos quatro pessoas naquele momento e as nossas trajetórias de participação em movimentos sociais de base nos levou a ter algumas ideias em comum de querer construir um espaço de resistência, um trabalho de base de médio a longo prazo, no qual uma atividade econômica baseada em relações horizontais pudesse fortalecer, se não sustentar, uma atuação comunitária em uma das favelas da Maré.
Timo Bartholl: A Roça! é um pequeno projeto de inserção comunitária, se integra ao território, a nossa conquista de um espaço físico, enquanto espaço comunitário a Roça! se deu gradativamente.
O início foram as entregas de produtos naturais e orgânicos. Conseguimos com as primeiras vendas uma bicicleta de carga. Depois a gente começou com uma barraca na feira aqui do Morro do Timbau.
Através da barraca na feira, descobrimos uma loja que tinha para alugar. Alugamos. E estando aqui no dia a dia, junto com os vizinhos, eles entendendo nossa proposta, recebemos a dica de um pequeno barraco que estava a venda.
Conseguimos comprar esse barraco. E assim a gente conseguiu se estabelecer no território, a longo prazo.
Nossos eixos são: economia coletiva, trabalho em autogestão, geração de renda. Através disso a construção de uma rede com outros coletivos. Troca de aprendizado entre grupos. Agroecologia, nexo campo-cidade.
Tem uma parceira de primeira hora que sempre foi muito importante para o nosso trabalho, e continua sendo, que é a Dona Juliana.
Uma lutadora em prol da soberania alimentar e da agroecologia, que tem um sítio agroecológico em Magé.
Logo no início fizemos visita ao sítio dela. Era numa época antes da gente mandar link pelo Google Maps. Ela mandou a descrição de como chegar lá. Aí, depois de um monte de à direita e à esquerda, ela falou que chegaríamos a um portão onde tem um pé de acerola.
E nós quatro aqui da cidade, a gente se olhou assim, ninguém sabia como diferenciar um pé de acerola de qualquer outro pé, né?
E também atuamos na resistência da favela. Quando tem mobilizações, a gente tá junto. Quando tem urgências, a gente tá junto.
Mesmo não estando na direção da Frente de Mobilização da Maré, mas a gente apoia enquanto coletivo.
E procuramos nos conectar, com resistências, com horizontes da autonomia e da autogestão em outras favelas, com todas as entidades, grupos e pessoas que estão juntos nesse espírito da construção de resistências a longo prazo.
No sentido da construção do poder popular.
Geandra: (risos) Só queria fazer uma correção sobre o nosso espaço. Que não é um barraco, né?
A gente comprou um espaço de alvenaria, que é uma invasão de calçada. É um espaço de tijolo. E a gente acabou conseguindo esse espaço, a nossa lojinha, o espaço Roça!.
Então, pelo amor de Deus, tira esse nome de barraco. (risos, todos riem, inclusive eu)
A gente fez uma reforma há dois anos e meio atrás. Aumentarmos o pé direito, melhoramos toda a estrutura, caixa d’água, dois sistemas de circulação de circuitos de água. É pequeno, mas a gente conseguiu adaptá-lo as demandas.
- Quais as principais atividades atuais?
Alessandra: Bom, principalmente não tem como não falar da cerveja, que gera nossa renda.
A gente faz trabalho comunitário, mas a gente tem o retorno através da nossa venda de cerveja também. E essa é a principal. E agora tem o nosso parceiro, que é o Brejal. A entrega de cestas orgânicas mensais.
Isso é muito valioso prá gente, porque a idéia é trazer qualidade de alimentos prá comunidade, prá nossa favela.
O outra atividade principal é a das crianças. Agora é mensal por conta da pandemia. Fazemos uma atividade ao ar livre.
Essa atividade com as crianças, ela é possível também porque os moradores ajudam a gente a coletar óleo de cozinha usado.
E com essa venda do óleo, a gente faz a atividade. Compra o lanche deles, alguma coisa que a gente precisa pro dia da atividade. Isso também ajuda muito, a comunidade estar junto em ajudar nessa questão também.
Tinha o sarau. Mas como agora a gente está num período de pandemia, essa atividade a gente teve que suspender, por conta da aglomeração.
Por enquanto, a gente faz o papo de bar. Porque tem um limite de espaço das pessoas ficarem juntas. E gente faz esse papo, de forma que não seja de risco.
Colocamos até temáticas. Conversamos muito sobre essa questão de agora, de como é esse processo de distanciamento das pessoas, de como é a experiência dessa pandemia prá cada um de nós.
Foi neste mesmo período que passamos um momento muito tenso, quando, em uma das muitas violentas “operações” da Polícia Militar, um caveirão veio descendo rumo à feira, cujas barracas montadas tomavam, e ainda tomam, a Rua Nova Jerusalém.
O caveirão descendo parou por um momento para logo em seguida, ao mesmo tempo que os policiais militares abriam fogo, passar por cima das barracas.
Fugimos todos, feirantes e clientes da feira, para dentro de becos e casas para salvar nossas vidas em detrimento de nossas mercadorias, que estavam sendo destruídas pelas rodas do caveirão.
Como dizem: “Pacificador…o caveirão passa e fica a dor.”
- Como é o relacionamento com a comunidade (inclusive o tráfico)?
Timo: A idéia de fazer parte de uma favela, enquanto trabalho de base, é entender as relações e rede de solidariedade, todas as lutas históricas, que fizeram com que a favela se tornasse possibilidade, como um lugar enquanto melhor solução possível para quem nela vive.
E tudo isso não é romantizar a favela. Não é desconhecer nenhum dos problemas que se enfrentam nela, que são grandes e muitos também.
Mas reconhecer esse histórico de luta. Entender que se conectando com esse histórico, a gente consegue fortalecer um trabalho de base, que a gente entende como uma resistência explícita.
Ao mesmo tempo, com o nosso trabalho a gente busca também fortalecer esse território. A favela que a gente faz parte.
E nisso a gente não se entende nem como uma vanguarda, nem como retaguarda. A gente se entende como um grupo que está ali no meio.
O MCP (Movimento das Comunidades Populares) vai dizer que é como peixe em meio d’água.É um pouco essa idéia.
Estamos no meio, estamos no cotidiano. A nossa loja, ela é na calçada.
Então, o trabalho, ele é ao ar livre. A gente vê todo mundo passando. As crianças sempre dão um bom dia, boa tarde. A gente conversa com as crianças da vizinhança.
Esse é o nosso pequeno pedacinho de terra aqui na favela. De território que a gente se relaciona.
É um pouco essa relação. Essa idéia de rede. Muitos grupos aqui. Muita gente fazendo coisas. Resistindo. Construindo. Trabalhos.
E a gente sempre procurando sermos o mais aberto possível. Ao mesmo tempo deixar muito claro qual é a nossa linha. Qual é a nossa proposta.
Não trabalhamos com essa coisa de confrontar. A gente trabalha com a proposta de oferecer colaboração. Isso obviamente sem ser cooptado. Sem que ninguém faça uso do nosso trabalho de uma forma que a gente não concorde.
E aí se falou do tráfico. Prá gente o tráfico é uma forma de controle territorial violento, entre muitas outras, que infelizmente existem no Rio de Janeiro.
Prá começar com a polícia. Ela tem um domínio sobre todos os territórios. Sendo que alguns desses territórios ela aluga. E o tráfico é como se fosse um inquilino deles. O Estado mantém esses sub-poderes territoriais nas favelas.
As favelas que tem milícia, principalmente na Zona Oeste aqui do Rio de Janeiro, é muito mais difícil você fazer um trabalho de base, satisfatório e de resistência numa dessas favelas.
Porque são grupos muito mais diretamente articulados com os órgãos de poder, com as instituições repressoras. Muitas vezes são os próprios policiais, por exemplo, que integram as milícias.
Já o tráfico, apesar de todas as mudanças que já sofreu, uma boa parte são jovens das próprias favelas, que tem famílias, que tem amigos na favela, que tem histórico na comunidade.
No nosso caso, a principal relação é que a gente faz um trabalho para a comunidade, junto à comunidade. E não tem nem porque, em algum momento, isso criar um atrito ou um problema com eles.
Então, eles de fato também não vêem nenhum problema, obviamente, no nosso trabalho. Às vezes até apoiam de uma forma indireta. No sentido de a gente precisar fechar a rua, fazer uma atividade maior, algo do tipo, isso não é nenhum problema.
E como a gente trabalha com as crianças, se pode ter certeza que tem crianças também que são de famílias, ou direta ou indiretamente relacionadas aos meninos que são do tráfico.
Então, fazemos um trabalho com a firmeza de que estamos contribuindo com a comunidade. E isso nós dá o que a gente chama na favela de conceito.
Isso nos dá um posicionamento de poder. No sentido que a gente acha importante para a comunidade, de executar as nossas ações. E ter essa certeza que a gente não vai sofrer nenhum tipo de intervenção pelo lado de quem está fazendo esse tipo de controle territorial aqui.
Agora, a polícia, obviamente, já é um outro problema. Ela entra para fazer operações. Ela deixa mortos.
Tivemos um ano de ocupação militar na Maré. A gente sofreu repressão. De várias formas já sofremos, indiretamente ou diretamente, com os agentes.
Felizmente o decreto [do STF] das operações policiais em geral diminuíram, mas não deixaram de acontecer.
A repressão estatal certamente é o principal desafio para a resistência favelada.
Para o trabalho que a gente faz, e diante de um número de problemas que a gente enfrenta, às vezes soa um pouco estranho quando fomos perguntados sobre a questão do tráfico.
Porque a gente tem muitas outras questões. A saúde, a educação. São tantos desafios. Então, diante desses muitos desafios, o tráfico ele é um detalhe.
E aí também destacando que ele gera uma renda para muitos meninos da favela. Ele também é um lugar de trabalho. Dentro de uma lógica perversa, capitalista, obviamente.
Em relação ao nosso trabalho em pequena escala, entendemos que ele é particular,como são os trabalhos de outros grupos que atuam em favelas.
As favelas são diversas, cada contexto local é um contexto diferente e assim cada grupo desenvolverá seu próprio trabalho.
A lógica de ampliar os nossos trabalhos, nesse sentido, não pode ser pensado numa forma de crescimento linear e sim numa lógica de multiplicação e difusão do que é diverso.
- Como tem sido o impacto da pandemia?
Geandra: A gente ficou com a loja fechada durante um ano. E toda a nossa grana, que a gente tinha guardado prá investimento, foi para o pagamento de aluguel.
Então assim, teve uma questão financeira que a gente pode chamar de um rombo financeiro para o Coletivo Roça!.
Sem contar com a questão mais de relação comunitária. E aí a Alessandra fez uma narrativa sobre isso. Só estamos fazendo atividade uma vez por mês ao ar livre. Com as crianças.
E a gente sempre tinha um processo de atividades culturais na roça. Que era feito em especial com as crianças semanalmente. A gente passava o cineminha e tinha uma discussão, um debate sobre o filme.
Mensalmente tinha o nosso sarau cultural. Em que a gente montava uma série de atividades culturais. Colocava a rua como extensão da nossa casa.
Então, essa coisa da pandemia, ela afeta o cotidiano, a estrutura do espaço da Roça!.
E até posso fazer um paralelo que essa afetação da pandemia é como se fosse uma operação na favela. Que a gente não consegue fazer absolutamente nada, né?
A favela fica em silêncio, enquanto a gente vê que a favela é som, a favela é resistência.
Para além disso, acho que tem uma coisa que afeta por a gente ser da Maré, do Morro do Timbau, e não somente sermos ativistas do Coletivo, mas também moradores da Maré.
Tem uma afetação também que atravessa diretamente o nosso cotidiano pessoal. A gente tem o nosso cotidiano coletivo na Roça!, mas o nosso cotidiano pessoal também é atravessado por conta da pandemia.
Timo: A gente também troca com outros trabalhos de base, nas favelas. Eu visitei recentemente o Chapadão (MCP), o Alemão.
E a gente está conseguindo seguir num cotidiano. Nas favelas o nosso isolamento não é individualizado, ele não é cada um dentro de sua casa.
A gente não está partindo para a cidade enlouquecidamente para encontrar aglomerações. A gente circula o que for necessário. Mas aqui estamos sempre se encontrando.
Foi muito boa a reflexão da Inessa, do MCP, que destacou que também discutiram essa questão do isolamento e como fazê-lo. E falaram claramente que a militância, o movimento social de base, o trabalho nele, é um serviço essencial.
Então, a gente não pode simplesmente se isolar e ficar em casa.
Tem até uma experiência particular em relação a isso. No início da pandemia, a gente tinha um monte de brinquedo. E decidimos sortear esses brinquedos entre as crianças.
E, muito provavelmente, foi ali que eu peguei Covid. Fiquei doente em abril do ano passado (2020).
E obviamente, não foi fácil e tal, mas fez parte do cálculo que eu fiz naquele momento. Enfim, foi o necessário naquele momento, na minha avaliação.
Falo como assim um conceito. Aqui é um auto-isolamento comunitário. A gente circula muito aqui ao ar livre. Trabalha ao ar livre. Almoça na esquina da Marinalva, que é ao ar livre. Mesmo estando na rua a gente não se expõe a alto risco de contaminação.
Estamos numa rotina que sentimos no dia a dia que a favela está diferente. Por um lado, as pessoas tem menos dinheiro. Isso significa menos socialização.
E sentimos também que tem uma diversidade de posturas em relação a pandemia. Tem pessoas que não consideram nenhum risco, e agem normalmente. Outras pessoas tentam se proteger. E tem outras pessoas que tentam sair o mínimo possível prá rua.
O ritmo pandêmico é diferente dentro da favela. Nosso cotidiano é um cotidiano agradável, dentro do possível.
Fico até pensando nas crianças das classes médias e altas. Sem escola, sem creche. Muitas vezes ficam isoladas, e não conseguem ver seus amiguinhos durante muito tempo.
As nossas crianças têm muitas carências e falta muita coisa na vida delas. Mas uma coisa que elas têm é umas às outras. Elas se encontram todo dia, estão sempre juntas.
Então, isso é uma coisa bem importante também de destacar.
Sempre nessa perspectiva de pensar o que se tem aqui, que sempre tem a ver também com a forma que as pessoas conseguem se organizar no cotidiano popular.
Timo:
Olha, foi uma sensação de incerteza. Pegar COVID numa periferia urbana do Rio de Janeiro, vendo que era muito difícil conseguir qualquer informação, caso se agravasse o meu quadro. Ou de qualquer outra pessoa próxima. Para onde levar?
Naquele momento [Abril de 2020] não havia nenhum atendimento SUS em toda a Maré. Teria que ser em Manguinhos.
Se o quadro se agravasse, o que se faria? Depender de um SUS que tinha sido muito sucateado.
E aí eu pensava muito sobre como seria o SUS, se tivesse todo o esquema, de agentes comunitários. Poderiam ir nas casas das pessoas, fazer testes, ou na rua, inclusive na frente da casa das pessoas, ninguém correndo risco de se contaminar.
Ou seja, um SUS que seria muito capaz de ajudar a população a enfrentar uma pandemia. E o SUS que a gente tem, que é privatizado indiretamente através da terceirização. Muito sucateado.
É uma crise sanitária que se agrava muito pela crise de gestão, de abandono e sucateamento do sistema público de saúde.
- Quais os fatos que vocês destacariam nesta trajetória de mais de 10 anos?
Geandra: Com toda certeza eu destaco nossa insistência, a persistência ao longo desses dez anos. Prá mim é um superdestaque, de como a gente consegue, mesmo diante de tantas adversidades, de tantos questões e problemas, manter um espaço desses por dez anos.
A gente ainda está aqui, e não só estar aqui por estar, mas estar por desejar estar. Por ficar emocionalmente afetado por esse espaço que está construído.
Porque falar da Roça! nesses dez anos é também falar da minha trajetória de vida de dez anos. Da trajetória do Timo de dez anos. Da Alessandra.
Então, é a gente contar um pouco da nossa história através da Roça!.
E também esse fortalecimento de hoje a gente ter um espaço que a gente inicialmente almejou, sonhou em ter. É um espaço com os seus concretos, mas com muito afeto.
A gente tem uma lojinha que é nossa, a gente tem o nosso espaço afetivo. E esse processo todo de conseguir ter geração de renda. Ter um espaço que agrega muitas propostas de relação.
Mas acho também que tem uma coisa de como a gente se fortalece cada dia estando aqui.
A gente se fortalece quando a gente consegue promover atividade com as crianças. Quando a gente consegue promover uma atividade cultural na loja.
Então, acho que é isso. Eu sou suspeita a falar da loja, fico muito emocionada. Não consigo muito bem elaborar, senão eu choro.
Mas é isso, galera!
Vivendo e atuando em um território popular não acreditamos que a transformação social será fruto da atuação de um pequeno grupo iluminado de pessoas e sim da atuação e organização coletiva das classes populares.
A esperança é que as pequenas resistências ganhem cada vez mais força.
Que viva a resistência indígena, negra e popular, que nas cidades a resistência nas favelas ganhe força e que o povo avance em suas lutas.
- Quais os planos para o futuro?
Alessandra: Nossos planos é que a gente consiga continuar esse projeto. Já são sete anos da produção da cerveja, além dos dez anos do coletivo.
Também tem a experiência com autonomia, com a autogestão, que a gente quer poder passar esse conhecimento prá galera da Maré.
E que chegue e alcançar mais pessoas. E que a gente consiga trazer as pessoas prá gente, se voltem prá gente. E consiga ampliar também.
Porque somos pouco aqui na favela que falamos sobre agroecologia, sobre sustentabilidade. E seria ideal a gente conseguir fazer outros pontos. Porque a Maré é enorme. Aqui no Morro do Timbau temos a Roça!. Talvez na Nova Holanda, ter um outro coletivo, no Salsa, no Pinheiros.
E é isso, é ampliar nossa rede. Esse seria o ideal.
Geandra: Os nossos planos para o futuro, e desejos para o futuro, eu queria só reforçar. O quanto que isso prá gente seria muito valoroso. A gente conseguir de alguma maneira, ainda que de forma pequena, a multiplicação dessas ideias que a gente vem construindo ao longo de dez anos na Roça!.
A gente fica muito feliz disso acontecer, prá que possamos somar cada vez mais e mais pessoas nessa ideia.
E vida longa prá Roça!, vida longa, vida longa!
Acesse a tese de Doutorado de Timo Bartholl, “TERRITÓRIOS DE RESISTÊNCIA E MOVIMENTOS SOCIAIS DE BASE: UMA INVESTIGAÇÃO MILITANTE EM FAVELAS CARIOCAS”, aqui.
Coletivo Roça! na web:
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vídeos:
10 anos de trabalho de base na favelas e lançamento do livro “Movimentos sociais na América Latina. O ‘mundo outro’ em movimento”, com presença do autor Raúl Zibechi.
Conexões Campo-Cidade: Desafios e Diálogos entre Movimentos Sociais do Campo e Periferias Urbanas
sobre Caminhar para a Autonomia:
- aborda casos concretos de comunidades e territórios com lutas e experiências em seu processo de conquistar autonomias;
- um passo além dos Diários da Pandemia, até mesmo porque muito embora a pandemia prossiga é impositivo florescer territórios para além dela;
- envolve também um diálogo com o livro “Por Terra e Território: os Caminhos da Revolução dos Povos no Brasil”, com as caminhadas que este propõe, para divulgar não só situações já existentes como aquelas que surjam a partir de sua leitura.
acesse a série completa: aqui
Vida longa para a Roça! Vida longa!