Posted on: 30 de novembro de 2020 Posted by: Teia dos Povos Comments: 1

Em clima de celebração pela agricultura familiar, a água e a vida, famílias do município de Piatã fizeram uma manifestação ontem (24) com faixas de protesto e conscientização contra a implantação de um empreendimento do agronegócio da Shuichi Hayashi que já iniciou o desmatamento de 968 campos de futebol de mata nativa no Gerais de Piatã para o cultivo de batatas. A região é nascente de três importantes bacias hidrográficas baianas: Rio de Contas, Paraguaçu e Paramirim, rios que cruzam as regiões mais áridas do Estado e cumprem a função vital de sanar a sede e sustentar o plantio de milhares de agricultores familiares ao longo de seus leitos.

Para um dos agricultores presentes, esse tipo de empreendimento não agrega nada ao município. “O agronegócio produz para exportação, e os prejuízos ambientais ficam para a população local, que sofre com falta de água de qualidade, poluição do solo e doenças causadas pelo uso de agrotóxico”, afirma.

A manifestação aconteceu por volta das 8h da manhã saindo da rodoviária municipal até a Câmara de Vereadores, ao som de palavras de ordem como “Não queremos guerra, queremos semear a terra”, onde foi entregue uma carta aos vereadores pedindo a realização de uma audiência pública e preparada uma mesa com produtos da agricultura familiar onde foram servidos pães, geleias, bolos, chimangos, sucos e frutas.

A carta foi entregue e protocolada pelo grupo que na ocasião trouxe a preocupação com a escassez da água e a degradação do solo, como pode ser constatado nos municípios vizinhos de Mucugê e Cascavel, que já possuem plantações de batatas por esses mesmos grupos japoneses que pretendem explorar as terras piataenses.

A manifestação foi organizada após a população ser surpreendida, no último 19 de outubro, com as Portarias de nº 21.671 e 21.672 do INEMA, publicadas no Diário Oficial do Estado, concedendo à Shuichi Hayashi autorização para desmatamento de mais de 950 hectares de vegetação nativa na Fazenda Piabas.

Contudo, no último dia 20 de novembro de 2020, a promotoria de justiça regional especializada em meio ambiente, representada pelo Dr. Augusto Cesar de Matos, realizou uma minuciosa investigação sobre as denúncias e emitiu uma recomendação para que o Inema cancele as licenças de supressão de vegetação e manejo de fauna, bem como interdite qualquer atividade decorrente da autorização. Destacando que esta é uma medida de urgência dado os danos irreversíveis ao meio ambiente da Chapada Diamantina.

Seguindo a mesma lógica do agropolo que foi instalado nos municípios de Mucugê e Ibicoara, com a concentração de terras, uso intensivo dos recursos hídricos e a descaracterização territorial e cultural, a empresa já conta com um complexo de 19 imóveis vinculados ao empreendimento que juntas totalizam uma área de pelo menos 5164 hectares na região dos Gerais, em Piatã.

Este modelo de agricultura, convencional e intensiva, se baseia na implantação de monocultivos em grandes extensões de terra, apoiado na mecanização do campo com o uso intensivo de agrotóxicos, fertilizantes e apropriação dos recursos hídricos, se sobrepondo aos modos de vida locais já existentes. 

 

DANOS JÁ SÃO NOTADOS

Após a divulgação da portaria, a empresa deu o início às atividades na área do empreendimento alargando a estrada que segue paralela ao Rio de Contas. Nos dias 26 e 27 de outubro moradores contaram que houve um intenso tráfego de caminhões e tratores que foram utilizados para jogar cascalho na estrada. Devido às chuvas fortes do dia 27.10, todo o cascalho foi levado para o rio, deixando-o completamente enlameado, em uma condição muito diferente da habitual, impossibilitando o uso da água pelos vizinhos.

INEMA ACOMPANHA DESDE 2013

O conflito entre a comunidade e a referida empresa vem desde o ano de 2013, quando foi feita uma denúncia ao INEMA, que após fiscalização no local, embargou a obra por falta de licença de supressão de vegetação. Na 11ª reunião ordinária da ARIE Nascentes do Rio de Contas (ARIE NRC), essa questão foi fortemente levantada, onde os conselheiros expuseram suas preocupações sobre os impactos ambientais e sociais que o avanço da fronteira agrícola na região poderia representar para as comunidades do entorno.

Diante do que foi colocado, o conselho deliberou por criar um grupo de trabalho sobre as barragens do agronegócio, com a finalidade de trazer mais informações sobre o assunto, que deveria ser apresentado em uma reunião extraordinária, marcada para o dia 4 de setembro de 2013. Ao final desta reunião, o conselho gestor emitiu uma carta de repúdio sobre a instalação do agronegócio no Gerais de Piatã. Neste meio tempo foi feita uma representação ao Ministério Público Estadual Ambiental e um inquérito civil foi instaurado.

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