*Por Rude Rude, integrante do Grupo Agroecológico Araucária Resiste coletivo que constrói a Teia dos Povos em Luta no RS
Nos últimos anos a falta de chuvas tem se tornado comum na maior parte da região sul do Brasil. Ao que tudo indica são os efeitos diretos da mudança climática e da destruição ambiental causada em boa parte pelo avanço do agronegócio sobre os biomas através das monoculturas e pecuária. Mesmo que os poderosos insistam em jogar a culpa apenas em fenômenos naturais do clima, como é o caso do “la niña”, sabemos que uma grande quantidade de umidade que chegava aos nossos territórios tinha sua origem principalmente na floresta amazônica e na sua imensa capacidade de evapotranspiração, onde as arvores absorvem água do solo e liberam vapor úmido para atmosfera(segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA, uma única arvore de 10 metros de altura emite 300 litros de água por dia por evapotranspiração) se deslocando até a região sul e sudeste do Brasil pelos corredores de umidade ou também chamados ‘‘rios voadores’’. Nos últimos anos os níveis de desmatamento na região amazônica alcançaram seus piores níveis, contribuindo com chuvas bem abaixo da média e aumento nítido nas temperaturas.
Por aqui não é diferente, o avanço da soja sobre as áreas de preservação e sobre as nascentes aliado à falta de chuvas, agora deixa os reservatórios com pouca água para o consumo das famílias e também para suas criações e plantas. No Rio Grande do Sul já são centenas de municípios que decretaram situação de emergência por falta de chuvas.
Como sempre quem paga a conta pela ganancia dos ricos somos nós, os pobres. São três anos seguidos de severa estiagem que coloca em risco a produção de alimentos para a sobrevivência dos povos que vivem e cuidam da terra no Rio Grande do Sul. Crise hídrica, sanitária e econômica tudo ao mesmo tempo levando muitos ao desanimo e abandono de suas culturas e modos de vida na verdadeira agricultura camponesa-indígena. Porque para os ditos produtores do agronegócio e suas comodities as soluções modernas de irrigação e novas sementes geneticamente modificadas ‘resistentes a seca’ são logo colocadas como pauta imediata para a garantia da exportação e do lucro, enquanto que, para nós, resta o abandono, o desmonte proposital dos órgãos de assistência, além de ataques contra pequenos agricultores, comunidades indígenas, assentamentos e territórios quilombolas. São as políticas colonialistas (que como no período colonial continuam a colocar-nos como meros fornecedores de mão de obra e recursos) que pretendem acabar de uma vez com nossas comunidades.
Nossas soluções a partir da resistência e autonomia de nossos territórios, da agroecologia e cuidado com as nascentes de água e florestas, são nossa arma para enfrentar o agronegócio e todos que se aliaram a ele nas últimas décadas contribuindo com a sua expansão que destrói a natureza, degrada o solo, expulsa e mata os pobres do campo e deixa milhões de brasileiros com fome por concentrar a terra e por não produzir alimentos.