Há 200 anos celebra-se no dia 2 de julho a Independência da Bahia ou Independência do Brasil na Bahia. As batalhas iniciadas ainda em 1822 tiveram a forte participação de povos quilombolas e pesqueiros, assim como de povos indígenas. Estamos na contramão da narrativa oficial, muitas vezes ensinadas nas escolas como fatos, que escanteia diversos atores na tentativa de protagonizar apenas os exércitos brancos, descendentes dos portugueses. A nossa campanha busca evidenciar um olhar popular, desmistificado e justo sobre esse grande momento histórico, que consolidou a Independência do Brasil.
Como somos participantes da história, e gingamos nela aprendendo com os nossos ancestrais e os mantendo vivos em nossas práticas, acreditamos que uma reflexão sobre o 2 de julho deva caminhar na direção do entendimento e da nossa memória sobre o passado a fim de entendermos as suas influências nas lutas de hoje. Ou seja, como filhos daquelas e daqueles que deram o sangue nos combates pela libertação, queremos aprender com os que nos antecederam, porque ainda hoje precisamos lutar contra formas de domínio e ameaças aos nossos povos.
Nesse sentido, iniciamos nas comemorações dos 200 anos uma série de eventos sobre o 2 de julhos e seus momentos. A primeira atividade promovida será uma transmissão ao vivo, intitulada “200 anos de independência: a importância das lutas do 2 de julho ontem e hoje”, que propõe um debate sobre como as lutas do 2 de julho influenciam nas lutas de hoje – ou seja, como podemos aprender com o protagonismo negro e indígena do contexto das batalhas pela independência. Será uma live entre lideranças comunitárias e acadêmicos parceiros. A segunda atividade será presencial. Na manhã de 2 de julho, a partir das 9h, nos encontraremos na Casa Ubuntu, em Cachoeira, no recôncavo baiano. Lá, faremos uma roda de conversa, intitulada “200 Anos do 02 de julho na Bahia: uma Aliança, Preta, Indígena, de Comunidades Tradicionais, Quilombolas e Popular” contando com a presença de diversos Núcleos e Elos da Teia, assim como de cidadãos da comunidade cachoeirana.
Na figura de Maria Felipa, marisqueira da Ilha de Itaparica, liderança da resistência junto a outras mulheres negras e os povos Tupinambá e Tapuia, louvamos as guerreiras e guerreiros ancestrais, e sob sua inspiração nos unimos e defendemos os nossos modos de vida. De acordo com especialistas, Felipa liderou aproximadamente duas centenas de pessoas armadas com peixeiras, paus e galhos espinhosos. Honrados pela sua coragem que convidamos a todos, todas e todes para a celebração dos povos das lutas do 2 de julho.