Posted on: 23 de dezembro de 2022 Posted by: Teia dos Povos de São Paulo Comments: 0

Nos dias 24 e 25 de setembro, houve a continuação do curso de sistemas agroflorestais e agroecológicos no pré-assentamento Egídio Brunetto. Cerca de 70 pessoas estiveram reunidas para a realização dessa oficina, contando com a presença da companheirada de territórios como Luis Carlos Prestes, Manoel Neto e a Comuna da Terra Irmã Alberta, entre outras representações do MST. Indígenas do povo guarani Mbya também estiveram presentes, com a juventude das aldeias Boa Vista e Gwyra Pepó, além da liderança da Takua Ju Mirim.

Sob orientação do professor Namastê Messerschmidt, foi implementado uma primeira área de agrofloresta que será cuidada e expandida pela brigada agroecológica do pré-assentamento Egídio Brunetto. Inspirados pelos cantos caipiras da região, pelas místicas Sem Terra lembrando guerreiros e guerreiras que fazem parte da memória de luta, e pelo Mborai e Mbarakás Guaranis, o grupo manejou bananeiras, formou canteiros onde foram plantados feijão, milho, açafrão, araruta, batata doce, hortaliças, aroeiras e outras árvores, aprendendo sobre a regeneração do solo e a busca por retomar a diversidade e o ambiente de floresta nos campos onde trabalhou-se.

O NADA (Núcleo Anarquista de Difusão Audiovisual) trabalhou no registro dos momentos de aprendizagem e das lutas pelo território e pela educação autônoma em Lagoinha.

VÍDEO: VIVÊNCIA NO CURSO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS E AGROECOLÓGICO

Texto autoria: Mateus Iglesia

Registros fotográficos: Lola

Sistemas Agroflorestais (SAF)

A agrofloresta é um conhecimento ancestral, milenar, dos povos originários dessa terra, que há milhares de anos vêm cultivando e domesticando as principais variedades que utilizamos hoje. Esse conhecimento infelizmente foi ignorado pela cultura atual que investe cada vez mais em agrotóxicos, adubo, monocultura e devastação de sistemas naturais. A agrofloresta é uma retomada dos conhecimentos dos povos originários, é voltar a olhar para a natureza e aprender com ela.

A revolução será agroflorestal o futuro será ancestral

Como disse Namastê, a Amazônia é uma grande roça, uma grande agrofloresta que foi cultivada pelos povos indígenas daquela região, mas o homem branco europeu, ao chegar nessas terras, não conseguiu identificar aquilo como um cultivo, chamando apenas de uma coleta em uma natureza espontânea.

É o nosso desafio e luta retomar essa prática de cultivo, respeitando os conhecimentos e cooperando com os povos originários, substituindo as colonizações por retomadas, rumo à liberdade dos povos através da soberania alimentar e a restauração da natureza.

Texto autoria: Juliano Paiva.

Registros fotográficos: Lola

Grupo de Ciranda com os sem-terrinhas

Davi não tem mais de 12 anos. Perguntado sobre como foi a sua chegada no assentamento, ele se recorda:

“Cheguei num carro vermelho, com a minha tia.” 

“E onde você morava antes?”
“Na favela. Em Suzano”
“E o que você sentiu quando chegou aqui?”
“Vergonha… Na escola… De morar aqui.”
“E hoje, você tem vergonha?”
“Hoje não.”
“Você gosta de morar aqui?”

“Bastante. Eu gosto de brincar no rio.”

Davi contou isso no rio, que fica próximo a sede do Assentamento Egídio Bruneto. Ele brincava com seus irmãos e com outras crianças, que vêem o rio como seu quintal. Do mesmo jeito, eles vêem a Ciranda, o espaço das crianças, como sua responsabilidade.  

O espaço fica do lado da biblioteca, e conta com uma salinha, com brinquedos, instrumentos, lápis e tintas, e uma parte aberta, com um escorregador de plástico e muito espaço para correr.


Durante o fim de semana, elas mostraram como cuidam desse espaço e de si mesmos: criando brincadeiras, nadando no rio, subindo em árvores, especialmente em uma grande ameixeira que fica nos fundos da sede.
Depois que comem as ameixas amarelas, seguem a instrução das educadoras assentadas: guardam as sementes.
E enchem os bolsos com os caroços, para que depois eles possam virar árvores e trazer mais frutas. 

Ao contrário das sementes, que esperam seu momento de ser árvores, aquelas crianças sabem que não esperam o momento de ser nada: elas já são tudo que poderiam ser. E não têm vergonha disso.
São crianças que pegam na enxada (que são maiores que elas), que brigam e que se resolvem, que plantam sementes e que se veem parte fundamental daquela história e daquele território ocupado. São sem-terrinhas.

Texto autoria: Sofia Tapajós

Registros fotográficos: Lola

Outras fotos do encontro

Registros Fotográficos: Lola

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