Na manhã do dia 30 de julho de 2024, às 11 horas, o indígena Guarani Kaiowa Catalino Lopes Gomes (49 anos), morador da retomada Yvu Vera foi assassinado por atropelamento enquanto andava de bicicleta na rodovia que corta seu tekoha, como se referem os indígenas Guarani e Kaiowa ao seu território ancestral. O motorista ameaçou fugir sem prestar socorro e foi impedido. Diante da justa revolta dos indígenas Guarani, Kaiowa e Terena da área, a Polícia Militar atacou a comunidade com tiros de bala de borracha e com bombas de efeito moral. Após o ataque, as comunidades mobilizaram o bloqueio de rodovia contra a situação de insegurança dos indígenas que precisam passar diariamente pelo anel viário e são constantemente ameaçados por carros em alta velocidade. Este acontecimento se dá ao mesmo tempo em que novas retomadas de terra ancestral Guarani e Kaiowa se levantam ao largo do cone sul do MS.
A retomada Yvu Vera, em conjunto com as retomadas Boqueiron, Nhu Vera e Aratikuty, nas margens da Reserva Indígena de Dourados, solicitam lombadas há muitos anos, pois 4 indígenas já foram mortos vítimas de atropelamento neste mesmo local, inclusive uma criança de 6 anos em 2021. Nenhuma providência foi tomada pelo poder público por se tratar de atropelamentos de indígenas, sendo este um ato racista de deixar morrer diante das políticas de extermínio contra os povos da terra que impera em Dourados. Não bastasse a comunidade passar por mais um luto de atropelamento, o Estado vem reprimir os indígenas que impediam a camionete (que tinha adesivo de uma empresa privada da região) com bombas e tiros. Apenas depois do fechamento de rodovia o Poder Público se comprometeu em fazer uma lombada. Se as obras não se iniciarem até dia 02 de agosto, a comunidade afirma que vai tomar suas providências. Importante lembrar que as mesmas comunidades enfrentam um processo relativo a abertura dessas rodovias por terem sido implementadas sem consulta prévia, fazendo sangrar o território para facilitar os caminhos da exportação de monoculturas.
Ao mesmo tempo, a região a poucos km da retomada é tomada pela invasão de grandes condomínios de luxo, com estradas iluminadas, quebra-molas e controles de velocidade direcionados aos bairros ricos, onde uma casa pode valer mais de 15 milhões de reais. Recentemente, na região, a ofensiva de um dos condomínios e imobiliárias para construção de um loteamento em terra indígena foi paralisada pelo avanço da retomada de Yvu Verá. Na ocasião, 9 indígenas foram presos, criminalizados por lutar pela terra. A comunidade sofreu dura repressão policial. Até hoje, no entanto, seguem em resistência.
As vidas dos que lutam pela terra importam. As retomadas nascem buscando espaço para reproduzir a vida. Os indígenas não sairão de suas terras e, portanto, lutam para melhorias das condições de existência. As barricadas na rodovia duraram mais de 24 horas, onde também foi velado o corpo de Catalino. É a mensagem viva da revolta cotidianamente forjada pelos Guarani e Kaiowa com sua força contracolonial. Diante de mais um crime por conta da negligência do Estado, os indígenas afirmam que “nós vai quebrar o asfalto se vocês não vierem fazer e aí nós fazemos nossa casa no asfalto mesmo!”. A morte de Catalino impulsiona a revolta que de todas as formas o Estado tenta abafar.
Viva os povos Guarani e Kaiowa!
Viva os povos que lutam pela terra!
Os mártires nunca morrem!
Morte ao latifúndio e toda forma de colonialismo!
Teia dos Povos de Mato Grosso do Sul
Foto 1: Bombas de efeito moral, bomba de gás lacrimogêneo e gás de pimenta que foram jogados pela Polícia Militar contra a comunidade.
Foto 2: Indígena ferido com bala de borracha após ataque da Polícia Militar.
Foto 3: Retomada fecha rodovia após morte de Catalino e ataque da Polícia Militar.
Foto 4: Catalino Lopes Gomes, presente na luta!