
Neste sábado (19), foi o encerramento do 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA). Como em todos os anos, foi lida a Carta do Congresso. Desta vez, a cerimônia também recebeu a leitura de cartas políticas, e a Teia dos Povos foi convidada, junto a outras organizaçõe como o GT Povos Indígenas, Terreiro de Inovações Camponesas/Feira da Agrobiodiversidade/Agricultores Experimentadores e a Tenda Rachel Carson.
Solange Brito e outras companheiras e companheiros subiram ao palco para ler a contribuição de nossa articulação. A mensagem foi direta: “Não Há Agroecologia sem a Luta Por Terra e Território”.
Leia a contribuição na íntegra:
Nós da Teia dos Povos, dando continuidade às lutas de nossos ancestrais, construímos há 13 anos uma Aliança Preta, Indígena e Popular. Esta articulação reúne povos indígenas, quilombolas, povos de terreiro, pescadores, marisqueiras e movimentos sociais do campo e da cidade, com o objetivo central de defender os territórios tradicionais. Acreditamos que é em nossos territórios que reside a força capaz de garantir uma vida digna, por meio da conquista das soberanias hídrica, alimentar, energética, política e pedagógica.
Nossa sociedade enfrenta uma violenta crise capitalista, que a cada dia exclui os povos da própria possibilidade de existir. Seja pela superexploração do trabalho, seja pelos ataques incessantes a rios, florestas, serras e mares, vemos a vida em sua forma natural ser extinta. Diante disso, não acreditamos mais que seja possível combater a miséria, a desigualdade e as violências por meio das engrenagens do Estado burguês, sem propor a destruição total do sistema capitalista.
Um dos sintomas da relação simbiótica entre o Estado e o capital é o volume monumental de recursos públicos direcionado anualmente à agricultura patronal, o agronegócio. Na edição mais recente do programa , o Plano Safra 2025/2026, foram destinados mais de 500 bilhões para a agricultura empresarial (de médio e grande porte).
Esse valor, que representa um aumento em relação à safra anterior, é 12 vezes maior do que o orçamento de 40 bilhões voltado para a agricultura familiar no mesmo ciclo, evidenciando a prioridade do Estado no fomento ao grande capital.
Falamos de povos que tiveram seus rios secos por hidrelétricas, mineradoras e pelo agronegócio, que desviam a água para irrigar seus lucros. Falamos também de povos que sofrem genocídio por armas de fogo nas periferias. Portanto, exigir soluções pelas vias do Estado e pelas regras da branquitude burguesa não nos interessa. Tal caminho não pode ser considerado uma prática agroecológica genuína.
Não nos iludimos com a promessa de um pacto democrático e popular para assegurar direitos. Esse pacto é uma cilada. A conciliação de classes com os ricos visa silenciar a revolta popular. A paz que eles oferecem é a harmonia da produção capitalista, não a paz dos povos. Essa falsa paz não nos interessa.
Chega! Basta!
Nosso caminho é o da autonomia e da construção de poder desde baixo, com a tomada dos meios de produção. Nossa grande jornada é a luta interseccional contra o racismo, o capitalismo e o patriarcado. Todos os nossos esforços convergem para um único objetivo: o triunfo sobre a branquitude colonial, as classes dominantes e a subjugação das mulheres.
Não há Agroecologia possível sem a luta por Terra e Território!
Juazeiro, outubro de 2025.