Posted on: 26 de agosto de 2020 Posted by: Teia dos Povos Comments: 0

Solidariedade e organização popular na luta pela saúde na Baixada Fluminense (RJ): só o Povo ajuda o Povo.

Eu sou a Ilsimar de Jesus. Faço parte da Rede de Mães e Familiares Vítimas de Violência da Baixada Fluminense. Sou uma das lideranças comunitárias de São João de Meriti.

Durante este período de quarentena e enfrentamento da COVID-19, desde abril até os dias atuais, tem sido muito difícil, a tarefa não é fácil.

A Rede de Mães arregaçou as mangas, para junto com outras organizações e lideranças de territórios unir forças contra esse inimigo invisível.

Dentro de nosso território o que é mais doloroso é ver e ouvir famílias desempregadas, desesperadas, com filhos em casa, passando necessidade.

Fizemos um trabalho muito gratificante, junto com a Criola, Viva Rio, Assentamento do MST Terra Prometida, CUFA.

Junto com a Elizabeth Farias, também da Rede de Mães e liderança comunitária na Vila Ruth, trabalhamos juntas e conseguimos atender a mais de 300 famílias.

Fazemos o acompanhamento dessas famílias. Muitas pessoas perderam o trabalho, diaristas que não estão trabalhando.

Continuamos recebendo muitos pedidos de ajuda, principalmente de alimentos. Muitos alunos da rede municipal estão sem assistência alguma.

Isto nos corta o coração, mas também nos motiva para continuar, tentando ajudar o máximo que podemos.

A sobrevivência está muito difícil. Muito abuso nos preços da alimentação. Entrar num supermercado e ver 1 kg de alho por R$ 39. Ver 1kg de carne de segunda por R$30/R$40. Chegamos a ter no valor do litro de leite R$6. Isto é um absurdo!

E os governantes não estão preocupados com isto. Em meio a pandemia, em meio a tantas mortes, em meio a fome e tantas famílias necessitadas, vemos eles só preocupados com as eleições.

Estão preocupados com o voto, daquele que está em casa passando fome. A preocupação é ganhar o voto, não é saber se aquela pessoa tem comida no prato para se alimentar.

É um período muito difícil.

É também uma oportunidade para se pensar em quem colocar no poder. Porque aquele que está no poder, que tem onde dormir, que não está na rua, que não passa fome, que não passa frio, e está preocupado apenas em ganhar voto daqueles que estão com um prato vazio em cima da mesa.

Isto é muito complicado de você entender…

Onde você vê a fome matando, a COVID matando. E estão preocupados apenas em ganhar o voto daqueles que estão morrendo de fome.

Isto é muito triste, é revoltante, é desumano!

A fome fala mais alto. O desemprego fala mais alto. E as famílias vulneráveis estão pedindo por socorro.

Infelizmente nós como Rede de Mães não temos como fazer muita coisa. Mas nós temos braços para abraçar e poder buscar ajuda.

Embora a  Rede de Mães não seja uma organização para este tipo de trabalho, nós somos humanos. Temos filhos e temos família. E pensamos naqueles que tem filhos e que tem famílias e que estão hoje desempregados. Estão dentro dessa pandemia sem condições de se manter.

Por isto nos unimos a várias outras instituições para tentar ajudar como podemos. Esse é o nosso papel como ser humano: abraçar aquele que precisa.

Se todos pensassem dessa forma não existira fome, não existira dor. Seria um mundo mais fácil.

Mas aqui em São João de Meriti o que mais estamos vendo são catadores nas ruas, pessoas pedindo comida, pedindo cestas básicas, pedindo ajuda, pais desempregados, mães desesperadas…

Ainda assim, a oportunidade deste trabalho foi muito gratificante, foi muito valoroso. Foi uma experiência maravilhosa, continua sendo uma experiência maravilhosa, de poder abraçar o próximo, de poder ajudar.

Recebemos uma doação de alimentos do Assentamento do MST Terra Prometida. Ele trouxeram muita coisa e atendemos 70 famílias. Eles chegaram a nós através da Marilza Barbosa.

Tive relatos de pessoas que estavam doentes e através desta alimentação saudável conseguiram se imunizarem e saíram do quadro de perigo em que se encontravam.

Também através da Marilza, recebemos 100 kits de higiene destinados a idosos e pessoas com deficiência, vida da UNICEF, Lojas Americanas e Visão Mundial. Chegar a estas pessoas foi um gesto de muito carinho.

Também tivemos uma doação de 25 caixas de pães, através da Josiane Martins, vindas da CUFA e da AMBEV. Foram 250 pães distribuídos para as famílias daqui.

Também através da Josiane, pelo projeto Filhos nos Braços dos Pais, recebemos 36 latas de suplemento alimentar, da Danone e da CUFA, para atender crianças necessitadas deste tipo de alimento.

Por indicação do Adriano Araújo, Diretor do Fórum Grita Baixada, fui indicada à ONG Viva Rio para abrir um outro núcleo de atendimento aqui em São João de Meriti.

Fomos o 8o. Núcleo e durante 3 meses atendemos 50 famílias. No primeiro mês fornecemos cesta básica, através de uma parceria com um mercado local. Nos dois meses seguintes, distribuímos ticket alimentação.

O projeto da Criola teve a parceria do Movimenta Caxias, que foi responsável pela distribuição das cestas básicas e de alimentos orgânicos para as diversas lideranças comunitárias, para a entrega à população.

Eu me emociono em falar disto tudo. É muito difícil para mim acompanhar tudo isto e não sentir. Porque eu sou mãe. E uma mãe sente a dor da outra.

Neste tempo de pandemia precisamos desta união, deste abraço coletivo. Mesmo em tempo de pandemia que não podemos nos abraçar diretamente. Mas este é um abraço solidário.

Muitas solidariedade. Muita gente se comovendo com a situação de todos. Familiares, vizinhos, amigos. Várias pessoas se deram as mãos. Nesta situação tão difícil, a única coisa boa foi a união.

Este é o meu relato. Não é tão bonito, não é tão alegre, mas é um relato verdadeiro de quem está vivendo dentro de uma pandemia. Triste, mas é real.

referência: Rede Mães e Familiares da Baixada Fluminense

Ilsimar de Jesus

liderança comunitária da Vila São João, em Vilar dos Teles,

bairro de São João de Meriti (RJ).

video:


sobre os Diários da Pandemia:

  • Embora seja tb um trabalho jornalístico, se propõe a muito além disto.
  • Tem como objetivo principal tecer uma rede de comunicação entre as diversas lutas localizadas.
  • De modo a circular as experiências, para serem reciprocamente conhecidas numa retro-alimentação de auto-fortalecimento.
  • Não se trata de tão somente produzir matérias, e sim tornar as matérias instrumento para divulgar conteúdo capaz de impulsionar os movimentos.
  • Em suma: colocar a comunicação a serviço das lutas concretas.

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