Entre os dias 14 e 16 de março, aTeia Agroecológicapromoveu a Marcha dos Povos da Cabruca e da Mata atlântica.Essa agenda é uma consequência natural de solidariedade entre os povos pactuada a partir das Jornadas e Trechos de Agroecologia que acontecem desde 2012 no Sul da Bahia. Nesse contexto o que está em jogo é a defesa das terras sagradas Tupinambá e o enfrentamento à criminalização e militarização dessa situação onde o Estado brasileiro e a mídia tem responsabilidades diretas.
A Marcha teve como objetivo principal se solidarizar com o povo Tupinambá na sua justa e digna luta pela reconquista de suas terras, bem como proporcionar trocas de saberes e intercambiar experiências no campo da agroecologia e o fortalecimento da “Unidade das lutas” entre movimentos do campo e da cidade, mediante entendimento que a questão indígena não é um problema dos índios, mas de todo o povo brasileiro. O encontro contou com cerca de 400 pessoas das mais diversas Entidades do Brasil, da América Latina e Europa. Na grande maioria dos participantes são trabalhadores e trabalhadoras do campo (MLT, MST, FLT, CETA, MPA), Quilombolas, povos indígenas de outras etnias.
A caminhada iniciou-se na BR 101, a cerca de 11 km da Aldeia, por volta das 15:00h os primeiros caminhantes começavam a chegar na comunidade onde eram alegremente recepcionados. Aos poucos a aldeia foi ficado ainda mais colorida e vibrante, com faixas, cartazes e gentes das mais diversas “tribos”. O fato destoante desta alegria eram os constantes e rasantes vôos de um helicóptero do exercito brasileiro, sobre a Aldeia. Que vem ocorrendo desde quando foi emitido um dispositivo intitulado GLO (Garantia da Lei e da Ordem) acionado pelo governador do estado Jacques Wagner, e assinado pela presidente Dilma Roussef, reforçando ainda mais à ocupação militar de um território indígena já reconhecido pelo próprio estado brasileiro.
Já na aldeia, os participantes puderam ter um encontro rico de saberes quando o Cacique Babau partilhou a história e a luta do povo Tupinambá de Serra do Padeiro. Alegre, determinado e fortalecido, o cacique afirmou: “temos que revolucionar o nosso querer e conquistar autonomia”, para isso, ele destacou três pontos fundamentais: a unidade na luta, o foco na conquista da terra e o fortalecimento da espiritualidade ancestral enquanto direcionadora da sabedoria que rege o movimento. E foi nesse contexto que o ritual da noite, no comando do Cacique e de outros diversos caciques Tupinambá e Pataxó presentes, deu sentido e poder a este encontro.
No início do segundo dia, uma pequena assembléia foi realizada em volta da fogueira, onde mais uma vez o Cacique agradecia a presença de todos e todas, valorizando a representação das diversas entidades e chamando a atenção para que a gente “tire os espinhos, as ramas e aumente as picadinhas” para que um grande caminho se abra para nós e para os que virão para a luta, para agregar e aprender a conviver juntos. Em seguida, os grupos foram organizados em torno dos trabalhos do campo: a farinhada, o plantio do milho, cacau e a compostagem.
Após os trabalhos de campo, uma análise de conjuntura foi feita para se estruturar uma agenda positiva de lutas da solidariedade dos povos. Em seguida uma confraternização em torno da fogueira com toré e capoeira concluíram mais um importante dia da programação.
No domingo, múltiplas vivências ocorreram ao mesmo tempo, a farinhada continuou com muitos colaboradores no trabalho de torrar a farinha e na animação das cantigas e sambas; o plantio do milho e das mudas; banho de rio; o ritual de plantio do baobá e as ultimas conversas entre as lideranças fecharam essa tão especial agenda que permitiu reforçar um movimento de unificação de agendas e apoio recíproco numa resistência rebelde para REEXISTIR DIGNIDADE DOS POVOS!