Com a benção dos encantados,
Com respeito à Mãe Terra,
Com a dignidade no coração rebelde,
Com a força de nossas mais velhas,
Escrevemos após mais uma caminhada em defesa dos nossos territórios sagrados.
Fizemos uma caminhada na Chapada Diamantina, com a jornada de Agroecologia em 2019, onde levamos solidariedade ao Povo Payayá, com rituais e bençãos dos antepassados e celebração ao grande espírito do Cacique Sacambuaçu no coração do território sagrado do Rio Utinga. Ouvimos sua história, ouvimos seu Povo e saímos com a certeza da sua força e da sua luta pela terra e pelo território.
A segunda caminhada foi nesse ano de 2021, nos dias 12, 13 e 14 de novembro, na Pré Jornada de Agroecologia da Chapada Diamantina. Fomos ao encontro do Povos dos Quilombos de Bocaina e de Mocó em Piatã (Bahia). Ao chegar, deparamos com um dragão, destruindo e devorando as montanhas da Chapada Diamantina. Ficamos perplexos com tamanha crueldade. Perguntamos aos moradores em que tempo as montanhas se formaram ao redor do Quilombo? Eles responderam: Chegamos nessas terras há mais de 200 anos e elas sempre existiram. Perguntamos também a professora da universidade, ela disse que essas montanhas estão no território a milhões de anos. Então, perguntamos ao Povo do Quilombo: quem permitiu essa destruição, foram vocês? Eles responderam: Não. Aqui é nossa morada! Aqui é a morada dos encantados. A morada dos indígenas, dos negros e negras que fugiram da escravidão.
Então, fomos buscar resposta para toda essa destruição. Descobrimos que tudo isso faz parte de uma engrenagem do capital, representada por uma empresa inglesa que foi legalizada por um órgão responsável pelo meio ambiente do governo do estado da Bahia, a Secretaria do Estado. Essa Instituição deu ordem ao INEMA para legalizar esse absurdo. A partir daí fomos entender por que estão construindo o Porto Sul. Por que estão construindo a ferrovia Oeste/Leste. Tanto o Porto, quanto a ferrovia é para destruir o patrimônio da humanidade que a natureza levou milhões de anos para construir. É para desabitar um Povo e, destruir seu paraíso que está a centenas de anos ali.
Voltamos a perguntar de novo: há quem devemos pedir socorro? Ao governo federal que recentemente esteve na região e celebrou um pacto para construção da ferrovia e do Porto? Ao governo do estado e a Secretaria do Meio Ambiente que autorizou o INEMA que por sua vez deu a licença para esse empreendimento da destruição dos Povos e da natureza? Há quem pedir socorro? Será que esses governantes não sabe que ali está a caixa d’água de milhões de baianos e baianas que moram em Salvador, Feira de Santana e de centenas de comunidades quilombolas e indígenas? E que esses Rios banham a Bahia de todos os santos? Onde pescadores e pescadoras artesanais tiram seu sustento? Com essas perguntas voltamos para casa desolados, pensando, por que tanta ignorância, tanto ódio com seres humano e a natureza? Por que tanta imbecilidade dos governantes que tem a coragem de validar destruição deste patrimônio da humanidade? Com todas essas perguntas, gostaríamos de perguntar a nós, da teia dos Povos, dos Movimentos Sociais, do MAM, da CPT e da sociedade Baiana o que vamos fazer para defender o Quilombo de Bocaina e Mocó?
Nenhuma luta sozinha pode conter tamanha destruição. Nenhum povo só pode guiar seu próprio destino em meio a engenharia de morte que é o capitalismo atual. Ou nós conversamos entre nós e construímos uma grande luta ou nos preparemos para contar quantos montes, montanhas, serras, rios e matas vamos ver no chão junto com muitos de nós.
Perguntas que não querem calar! Mas vamos seguindo! Só o coletivo, os mutirões, trazem a abundância que vimos durante esses três dias! Os banheiros, o barracão, o camping, juntou gente da comunidade, das comunidades vizinhas como o pessoal do Brejo, com gente de perto e de longe para a construção física, intelectual e festiva! A abundância vem da solidariedade de todos. Carregamos bambus, carregamos pau e pedra! Todos trouxeram alimentos! dividimos com outro evento que está acontecendo em Goiás, e vamos levando para o Barreiro, ficou para nossos mutirões e ainda para levarmos para a VII Jornada em Conceição de Salinas das Margaridas. Quando a gente se une tudo é possível e o fardo mais leve. AVANÇAREMOS