No dia 18 de novembro de 2021, 20 indígenas da etnia Akroa Gamella cujo território fica no estado do Maranhão foram presos pela polícia militar. As prisões fazem parte de uma ação orquestrada pelo Estado, através das forças de segurança, e a empresa Equatorial Maranhão, que pretende construir uma linha de transmissão de energia dentro do território tradicional, em desrespeito à convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, que determina o direito de consulta prévia às comunidades indígenas antes da implantação de qualquer obra.
O Maranhão é um importante escoador de produtos do extrativismo mineral na Amazônia e os povos e comunidades tradicionais desse estado sofrem constantemente com a invasão de seus territórios por empresas que sob a justificativa de trazer “progresso” provocam destruição. Tudo isso carimbado pelo governo de Flávio Dino, que reprime a resistência dos povos com algemas progressistas.
Funcionários da empresa Equatorial Maranhão chegaram com jagunços que se identificaram como policiais e foram impedidos pela comunidade de dar prosseguimento à atividade de sondagem e instalação das torres de transmissão de eletricidade que visa cortar a TI Taquaritiua. A Polícia Militar chegou ao local apreendendo arbitrariamente objetos das pessoas presentes, entre celulares e câmeras fotográficas, prendendo ainda 20 indígenas que estavam no local, 8 das quais seguem presas na UPR do município de Viana-MA.
Essa não é a primeira vez que o povo Gamella sofre assédios e ataques de agentes de segurança do Estado e jagunços no seu território. Em abril de 2017, já sob a gestão Flavio Dino, um ataque de fazendeiros e jagunços com colaboração policial espalhou terror nessas terras ferindo pelo menos 13 indígenas, 2 das quais mutiladas com golpes de facão, internadas em estado grave, e 4 baleadas por arma de fogo, episódio que ficou conhecido como Massacre Gamella. Kum’Tum Gamella foi uma das vítimas baleadas sobreviventes do Massacre, que foram presas na tarde de ontem (18).
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão declarou que funcionários da empresa e policiais “foram feitos refém durante trabalhos realizados na zona rural do município”, ocultando o aspecto territorial originário e o desrespeito e arbitrariedade desses “trabalhos”, na tentativa de justificar a violência empresarial e policial e criminalizar o povo Gamela na defesa de seu território.
O povo Akroa Gamella trava uma luta guerreira desde 2013 pela retomada e demarcação do território em que viveu por centenas de anos e que sofreu com a invasão de grileiros, queimadas, extração ilegal de madeira e, nas últimas décadas, com a implantação de grandes obras. Sabemos que nós, povos e comunidades tradicionais desse país chamado de Brasil pelo colonizador, vivemos uma conjuntura de avanço de conflitos no campo e nas florestas. O estado, mesmo que vista roupa de esquerda, age para retirar nossos direitos e entregar nossas terras para os grandes empreendimentos.
As lutas do povo Gamella no Maranhão contra empreendimentos em seu território é a mesma luta que nós vivemos em terras indígenas e quilombolas no Ceará. Por isso, nossa resistência se constrói coletivamente pela Teia dos Povos, que nos faz irmãos e irmãs lado a lado na luta contra as empresas e o Estado que lhes garante, e em defesa do bem-viver.
Exigimos a soltura imediata dos indígenas Gamella presos!