Após a enchente, a fumaça. Neste cenário de urgência climática, a Teia dos Povos em luta no Rio Grande do Sul firma a necessidade da luta por terra e território.
Vivemos na pele o racismo ambiental que o modelo de produção capitalista vem impondo ao planeta e a impossibilidade de uma vida digna para a maioria da população mundial. Precisamos reafirmar nosso compromisso com a vida, traçando caminhos de combate ao avanço colonial-capitalista, levantando floresta, produzindo alimentos e defendendo nossos modos de vida e nossos territórios. Mais do que nunca é hora de expandir, fortalecer e direcionar a luta.
Mais de 60% do território brasileiro está coberto por fumaça tóxica causada pelo agronegócio. O fogo criminoso nos biomas brasileiros, especialmente na Amazônia, no Cerrado e na Mata Atlântica, é prática genocidas dos latifundiários e das multinacionais que os financiam. Só em São Paulo morreram mais de 70 pessoas por crise respiratória no período das queimadas. Quantas estão morrendo de depressão?
Os índices de queimadas e desmatamento estão relacionados à expansão da agricultura e da pecuária, que visam aumentar a produção de commodities como soja e carne. Essa expansão desconsidera os impactos ambientais e sociais. Como: a destruição de habitats, a perda de espécies ameaçadas e o deslocamento de comunidades locais, incluindo povos indígenas, camponeses e quilombolas. Sem falar na impossibilidade de uma vida com qualidade nos grandes centros. É um modelo de produção que ignora a biodiversidade, os direitos e a cultura dos povos, intensificando os conflitos por terra e ataques a esses territórios. A ineficácia do Estado em fiscalizar atividades ilegais de desmatamento, queimadas, grilagem e de responsabilizar os criminosos expõe o poder do agronegócio nos governos e as limitações da conciliação de classes na luta contra o colonialismo e o fascismo.
O agronegócio tem ganhado força a cada governo que passa à custa da destruição da vida, da natureza e dos povos – para quem essa dualidade não faz sentido, pois se entendem como parte dela. Destruição baseada no aumento do latifúndio, da exploração do trabalho (análogo à escravidão), dos monocultivos, da degradação do que eles chamam de “meio ambiente” e do uso desenfreado de agroquímicos, nocivos à saúde humana (epidemia de câncer) e ao ecossistema como um todo.
Essa ofensiva é controlada por uma minoria gananciosa e com sede de lucro, que traz consigo a lógica genocida de seus antepassados colonialistas e a sanha dos bilionários das multinacionais. Hoje queimam o solo, mas não hesitaram em minerar o subsolo, vender a água do aquífero. Para esta gente, território é barganha, dinheiro. Alague quem alagar. Sufoque a quem sufocar.
A defesa dos biomas é, essencialmente, a defesa de nossas vidas e da dignidade dos povos que coexistem e cuidam da terra. Precisamos construir um futuro ecológico, inspirado nos saberes e fazeres ancestrais, em que a terra e o território sejam respeitados, em que as condições de bem viver dos povos e de toda a biodiversidade sejam asseguradas. É preciso avançar na luta por terra e território, com a distribuição de terras para aqueles que trabalham e vivem nelas, desapropriando latifúndios e assentando nosso futuro e nossa ancestralidade.
É fundamental que a proteção ambiental esteja alinhada com os direitos e a dignidade das populações que dependem da terra para sua sobrevivência – e no fundo no fundo todas dependem, algumas apenas não se deram conta disso. Temos o conhecimento profundo sobre o manejo benéfico dos nossos territórios para a perpetuação e proliferação da vida. Destacamos a fundamental interseção entre a luta por terra e território e a defesa dos biomas. Ao preservar nossos modos de vida e nossas relações com todos os seres vivos, garantimos a proteção das florestas e dos biomas. Nossos territórios não são apenas a base de nossas vidas, mas também das soluções para a crise climática. Não das falsas soluções do capitalismo (venda de crédito de carbono, permacultura capitalista, escritórios de reconstrução para escoar dinheiro). Mas soluções pautadas nos saberes ancestrais, que sustentam territórios, florestas, fontes d’água, subsolos em diversos locais do mundo. Precisamos fortalecer estes territórios, defendê-los.
Não se pode falar sobre urgência climática sem falar em demarcação de terras indígenas, quilombolas e reforma agrária. É fundamental que o Estado brasileiro reconheça e respeite os direitos dos povos originários, comunidades quilombolas e assentamentos sem terra. É necessário acelerar a demarcação de terras indígenas, combater o marco temporal e aperfeiçoar nossas estratégias de autodefesa.
Temos o compromisso de fortalecer as práticas agroecológicas nas comunidades, apoiando a produção de alimentos saudáveis, combatendo a lógica do agronegócio que ilude milhares de pequenos agricultores e famílias, tornando-as vítimas desse modelo. A fartura alimentar nos protegerá do câncer do agrotóxico e também será mobilizadora de consciência, de que outro modo de vida é possível.
A restauração de áreas degradadas é fundamental para recuperar a biodiversidade.
Lutar pela defesa e autonomia dos povos em seus territórios, preservando os biomas com manejos ecológicos que respeitem a biodiversidade e que garantam nossas soberanias (alimentar, hídrica, energética). Lutar por uma revolução agrária, antirracista e antipatriarcal que fortaleça os territórios coletivos.
A luta pela terra é a luta pela vida!
Se a revolução não for o limite do capitalismo, o planeta será!