Posted on: 27 de julho de 2025 Posted by: Teia dos Povos Comments: 0

No dia 25 de julho, dia em que nos levantamos, em unidade, pela integridade da vida das mulheres negras latino-americanas e caribenhas, mulheres de Abya Yala nos colocamos em defesa de nosso territórios, de nossas comunidades e lembramos que não é possível separar as lutas! 

É preciso lutar com a mesma força pela defesa do corpo da terra e pela defesa da vida das mulheres que cotidianamente sustentamos os laços em nossos territórios!

Somos a comunidade kilombola Morada da Paz- Somos o Território de Mãe Preta, somos o povo Terra da Preta, somos nossos Territórios e Maretórios de vida, somos a continuidade da terra, olhamos e sentimos a partir do seu coração e te convidamos a 

 

“Ouvir o grito da Mãe Terra

Levantar em multidão, como se levantam as florestas!

Andarilhar pindorama, tecer resistências da figueira negra à samaumeira, 

reencontrando parentes,

reverenciando territórios de luta desonrados, 

feridos pelas forças nefastas dos senhores do progresso e da guerra.

Bradar contra a festa hedionda da devastação, 

organizada com os escribas da lei.

Em memória de Tuíra, de borduna na mão, exigir que recuem!”

POR QUE NOS LEVANTAMOS, DO PAMPA À AMAZÔNIA, DE BORDUNA NA MÃO, CONTRA A PL 2159/2021, A PL DA DEVASTAÇÃO?

Essa PL, que atinge a nossa grande Mãe Terra, aprovada na calada da noite pelo congresso nacional tomado por ruralistas, quer ferir de morte nossos Territórios Ancestrais enfraquecendo um instrumento de luta fundamental à integridade de nossos modos de vida, direito sagrado alcançado pela luta dos povos e garantido pela Convenção 169 da OIT: a consulta prévia, livre, informada e de boa fé para a liberação de megaempreedimentos como barragens, estradas, hidrelétricas, plantações em larga escala, mineração, etc.

Ela flexibiliza e até dispensa a necessidade de estudos prévios de impacto ambiental e social, permitindo que as próprias empresas declarem que seus projetos são “de baixo impacto”, sem fiscalização efetiva.

Com isso, nossas comunidades podem ser surpreendidas por obras ou empreendimentos sem nem sequer sermos ouvidas, sem passar por análise ambiental e sem medir danos sociais, culturais e espirituais irreversíveis.

Essa PL escancara o racismo ambiental que já acontece quando grandes projetos poluidores são empurrados para cima de populações negras, indígenas e periféricas, entregando nossas terras para o capital predador, jogando ainda mais peso da destruição ambiental nas costas dos povos mais duramente golpeados pelo projeto colonial, racista, patriarcal apresentado como progresso, como desenvolvimento.

Se com a civilização defendida por vocês chegamos até a PL da devastação, que nos tornemos selvagens para poder reflorestar! Somos herdeiras de Tuíra e nos levantaremos com a  borduna cabana que já expulsou poderosos invasores no quilombo do Alto Caará/PA, para dizer que não recuaremos! Que nossos territórios de vida não serão feridos de morte pela letra fria e injusta da lei de vocês!

Nós, da Comunidade Kilombola Morada da Paz,Território de Mãe Preta, da Figueira Negra à Samaumeira – da Amazônia ao Pampa, com a força de nossa ancestralidade, nos levantamos e repudiamos este projeto genocida e exigimos que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva o vete integralmente. Vetar esse PL é uma obrigação ética, ecológica, espiritual e política. É um compromisso ancestral com a continuidade da vida, com a terra e com a memória dos que tombaram para que hoje pudéssemos caminhar de cabeça erguida. 

Se o presidente não vetar, estará se aliando a um Congresso que legisla contra a vida e será lembrado como cúmplice da destruição que anuncia combater nos palanques internacionais da COP30. 

E reafirmamos que nossa autonomia não será negociada! Nosso território não será licitado! Nossa existência não será silenciada! Nossos TerritóRios e MaretóRios são vida e a vida não se negocia, não se barganha, vida se ama e se defende!

QUANDO UM SE LEVANTA, TODOS SE LEVANTAM! (Sangô Agodô, Território de Mãe Preta)

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