Por Rafique Nasser
O projeto “Resgatando tradições e diversificando a produção”, apoiado financeiramente por um edital emergencial do Fundo Casa Socioambiental, realizou diversas ações para mitigar o prejuízo econômico causado pelos desdobramentos da pandemia no assentamento Pancada Grande, em Itacaré (BA). Entre as atividades realizadas, ocorreu a distribuição de 60 cestas básicas, a construção de um meliponário comunitário de abelha uruçu-amarela e uma formação teórica e prática para seis assentados, que aprenderam técnicas de meliponicultura e receberam uma colônia cada, para iniciar a criação. Além disso, também foi possível iniciar um Projeto Agroecológico Integrado e Sustentável (PAIS). As ações foram executadas de 08 de julho de 2020 até 13 de fevereiro de 2021.
De acordo com o relatório final, o projeto funcionou como um “respiro financeiro”, já que a feira livre de Itacaré – fonte de renda principal das famílias da comunidade – esteve fechada ao longo de 2020 com o objetivo de impedir uma maior circulação do coronavírus. Não só a distribuição de alimentos representou um alívio, como também os pagamentos destinados aos serviços, já que toda mão-de-obra foi interna. Além disso, a meliponicultura se estendeu: de dois assentados que tinham domínio da prática, sete passaram a ter. “Não tínhamos um meliponário comunitário, nós conseguimos construir. O meliponário continua para além do final do projeto”, diz Lucas Gustavo Lucon, assentado de Pancada Grande e um dos responsáveis pelo Resgatando tradições e diversificando a produção.
Sobre o PAIS, Lucas informa que “consiste num galinheiro central, numa horta com seis canteiros ao redor e uma área de SAF que está sendo cada vez mais aumentada. A gente já tem produção de ovos, alface, mostarda, PANCs, salsinha, coentro, abóbora, abobrinha, pepino e feijão. Hoje em dia, boa parte da nossa alimentação está vindo desse PAIS. Foi muito importante para quem montou ele, pois todo o processo dele envolveu muito aprendizado, desde a marcação de onde ia ser o galinheiro, os canteiros, da adubação de forma agroecológica e da aração. Toda a montagem gerou bastante renda dentro da comunidade”.
O maior desafio, segundo Lucas, foi incentivar a adesão à transição agroecológica. Mas, a partir do desenvolvimento da prática, a integração se deu naturalmente. “O projeto ao longo do tempo conseguiu atrair pessoas que foram vendo o resultado e criando interesse. Hoje já são cinco núcleos”, conta.
Em setembro, a equipe do projeto vai ofertar um novo curso sobre manejo de abelhas sem ferrão e distribuir cerca de seis colônias. Segundo o coordenador, a ideia é que o PAIS também tenha uma extensão de escola, oferecendo cursos de formação e, se possível, viabilizar bolsas de estágio – principalmente voltadas para as mulheres da comunidade.
“Esse projeto veio trazer o exemplo pedagógico, veio trazer modelos que mostrassem que a agroecologia funciona. Funciona para produção de alimentos, para ressignificar relações de trabalho, para a gente ter soberania e maior segurança alimentar”, finaliza.
* O meliponário comunitário tem o seu manejo realizado pela Saliva Doce Meliponicultura, que mantém uma página no instagram. Acesse para mais informações.