Textos: Divisão de Comunicação da Teia dos Povos
Edição: Divisão de Comunicação da Teia dos Povos
Imagens: Divisão de Comunicação da Teia dos Povos e equipe de suporte da comunicação da VII Jornada de Agroecologia da Bahia
Vídeo 1 – Conceição de Salinas
A comunidade pesqueira e quilombola Conceição de Salinas, localizada em Salinas da Margarida, banhada pelas águas sagradas da Baía de Todos os Santos, que conflui com o Rio Paraguaçu, foi o território que abrigou a VII Jornada de Agroecologia da Bahia. Pensando nos desafios dos Povos da Maré, que defendem o seu modo de vida tradicional a partir da pesca artesanal e da mariscagem, o tema desta edição foi “Lutar por Terra, Território e Água; Fortalecer (R)existência e Defender o Modo de Vida Tradicional e Ancestral”. Conceição de Salinas é um território cuja ancestralidade remonta ao povo Tupinambá, bem como tem uma tradição de ser organizado e defendido por mulheres negras. “Eu sou a sexta geração da raça de Filomena, estamos chegando na nona geração nesse território de mais de 300 anos. O capital tenta expropriar 60% de todo o território. Toda essa faixa de mata, as pedras sagradas, a nossa água, o capital tenta expropriar. A gente não vai abrir mão desse território para o capital”, afirmou Elionice Sacramento, uma das lideranças da comunidade. “O nosso processo no INCRA está parado para atender interesses do capital. Existem dois pedidos de cancelamento da nossa certidão quilombola, um pela Prefeitura Municipal e outro pelo Parque das Margaridas, onde o público e o Privado se confundem no território”, explicou Elionice, compartilhando com os demais núcleos e elos da Teia dos Povos as barreiras que a comunidade tem encontrado para ter a sua área reconhecida como Terra Quilombola. Um dos compromissos firmados na VII Jornada de Agroecologia da Bahia é o de que estaremos juntos na luta pela demarcação do território, que já tem a sua ancestralidade quilombola amplamente comprovada. Em unidade, não podemos ceder à sanha do capital e nem dos seus poderes auxiliares que visam a destruição desta área que pertence ao povo tradicional, que subsiste das águas, respeitando o meio ambiente e preservando os saberes e fazeres das suas e dos seus antepassados. É pela vida, pela defesa da Terra e do Território, pela proteção das águas e contra o racismo e a destruição capitalista que defenderemos Conceição de Salinas junto às guerreiras e aos guerreiros que defendem esse território sagrado afropindorâmico há séculos. “Se os nossos inimigos se articulam de modo global, nós nos articularemos, e nos articulamos, de modo espiritual e também de modo ancestral”.
Vídeo 2 – Protesto em Encarnação
Há uma janela de oportunidade no agravamento da crise republicana que vivemos. Uma janela para as esquerdas e para todas as pessoas e povos que lutam pela terra e o território. Trata-se, sem dúvida alguma, de um momento ímpar que nos convida à luta contra o poder dos militares neste país. Sejamos objetivos desde o início dessa nossa conversa: não há terra e território no Brasil sem o enfrentamento aos militares. Desde a gênese da formação do poderio militar, eles estão responsáveis por impedir o acesso dos povos à terra. Defender o sistema fundiário brasileiro foi o pecado original dessa corporação que tanto mal tem feito aos povos dessas terras.
Vídeo 3 – Entrevista com Thiago Torres, o Chavoso da USP
“Essas pautas da defesa dos territórios, dos povos originários, dos povos tradicionais, dos camponeses: isso é totalmente conectado com a luta que a gente tem nas periferias da grande São Paulo e acredito que de todas as metrópoles do Brasil” A divisão de comunicação da Teia dos Povos conversou com Thiago Torres, mais conhecido como Chavoso da USP, sobre a aliança Preta, Popular e Indígena e a dinâmica das lutas sociais na cidade, e como estas podem se unificar à luta por Terra e Território. Do dia 3 de janeiro a 30 de fevereiro, Chavoso da USP esteve conosco na VII Jornada de Agroecologia da Bahia, que aconteceu na comunidade pesqueira e quilombola Conceição de Salinas. Lá, Thiago se juntou a uma roda de conversa da juventude auto-organizada e falou sobre a sua experiência participando pela primeira vez de um espaço da Teia dos Povos, assim como apresentou a sua trajetória enquanto jovem militante na periferia da cidade de São Paulo e os desafios de ser estudante da universidade pública. Chavoso da USP mantém um canal no YouTube, onde fala sobre questões que envolvem raça, gênero e classe, e também compartilha suas visões de mundo sobre variados temas da política nacional e internacional.
Vídeo 4 – Abertura da VII Jornada
O povo Payayá de Utinga, anfitrião da VI Jornada de Agroecologia da Bahia junto ao seu povo, presenteia com uma muda de Barriguda o Povo das Marés, que abriga a VII Jornada na comunidade pesqueira e quilombola Conceição de Salinas. Esse ato simboliza o que propõe a Teia dos Povos: o tecimento de uma Aliança Preta, Popular e Indígena para o fortalecimento da luta por Terra e Território. É na construção diária da unidade dos Povos que poderemos encontrar a esperança da verdadeira liberdade, só assim conseguiremos combater os inimigos das nossas vidas. Estamos construindo uma articulação fortalecida na ancestralidade, na espiritualidade, nos saberes e fazeres tradicionais, na solidariedade e na rebeldia contra o capital, o racismo, o patriarcado e todos os demais sistemas de opressão. Não estamos sozinhos e sozinhas na luta! A nossa coragem existe porque somos!
Vídeo 5 – Entrevista com Paulo Lima, o Galo de Luta
“Eles têm medo da coisa coletiva, medo de nós tá junto, cada vez mais em comunhão, em comunidade”. Junto ao Movimento dos Entregadores Antifascistas, Paulo Galo é uma das lideranças que têm combatido a precarização dos trabalhadores uberizados nas grandes metrópoles. Galo também se organiza no Movimento Revolução Periférica, que constrói ações políticas e culturais em comunidades da periferia de São Paulo. Em conversa com a Divisão de Comunicação da Teia dos Povos, Galo falou sobre os desafios dos trabalhadores e trabalhadoras em meio ao caos da urbanidade, a violência da indústria alimentícia na domesticação dos corpos, sobre o papel da esquerda institucional na conciliação própria da democracia burguesa, a conexão entre as lutas sociais das periferias da cidade e as lutas do campo e dos povos tradicionais e a importância da construção da Aliança Preta, Popular e Indígena.
Vídeo 6 – Mestre Nego Bispo na VII Jornada de Agroecologia
“[…]Mesmo que queimem a escrita, não queimarão a oralidade Mesmo que queimem os símbolos, não queimarão os significados E mesmo que queimem os corpos, não queimarão a ancestralidade […]” Antônio Bispo dos Santos, o nosso querido Mestre Nego Bispo, é agricultor, poeta, semeador de palavras, relator de saberes, e liderança quilombola da comunidade Saco-Curtume, localizada no Piauí. Nos últimos anos, Nego Bispo tem rodado o país levando a mensagem contra-colonial das confluências biointerativas afropindorâmicas. Autor de “Colonização, Quilombos: modos e significados” (2015), Bispo confluiu com os povos que construíram a VII Jornada de Agroecologia da Bahia. Em sua fala, destacou as experiências de Palmares, Canudos, Caldeirão e Pau de Colher, e como a resistência dessas comunidades devem nos guiar na luta por Terra e Território no Brasil. Nossas múltiplas cosmovisões, reveladas em fazeres, técnicas e saberes, nas nossas Roças de Quilombo e de Aldeia, são a nossa força e a garantia da nossa sobrevivência autônoma. Não abriremos mão dos nossos modos de vida! Gratidão, Mestre Nego Bispo, que une as gerações avó, mãe e neta em uma grande gira de conhecimentos e práticas orgânicas para o combate do colonialismo.
Vídeo 7 – Entrevista com o Pastor Isaías Cobra
“As pessoas precisam ouvir falar do Cristo que foi morto e torturado na Palestina do primeiro século. Nós precisamos conhecer de fato quem foi Jesus Cristo. Então, o desafio do enfrentamento a essa tirania, esse conservadorismo, essa intolerância, essa maldade, que tomou conta e tem destruído os territórios onde tem chegado, a gente precisa entender que isso não é novo: esses mesmos foram os que mataram Jesus. Se Jesus estivesse aqui hoje, estaria apodrecendo em uma cadeia, colocado por esses mesmos”. Isaías Cobra é um pastor do povo do evangelho que, assim como Jesus ensinou, utiliza a oralidade para transmitir uma mensagem de união, solidariedade, amor, revolta contra os poderes estabelecidos pelos perversos sistemas político e religioso do capitalismo eurocristão, além de um profundo desacordo com as práticas dos grandes empreendimentos evangélicos. Pastor Cobra tem estado conosco em diversos momentos, e é querido entre nós. Na VII Jornada de Agroecologia, participou de um círculo de diálogos sobre espiritualidade, ancestralidade e diversidade religiosa. Em conversa com a Divisão de Comunicação da Teia dos Povos, Pastor Cobra mostra que o caminho do verdadeiro evangelho é o de indignação contra a hegemonia dos magnatas da “fé”, aliados de um projeto de destruição das vidas e de corpos pretos e indígenas. O Cristo, jovem palestino que incansavelmente lutou contra as estruturas de poder que oprimiam seu povo, e por isso foi martirizado pelo poder imperial que ora subjugava a sua gente, é a experiência central que conduz as palavras de Cobra. Nesta entrevista, o Pastor Cobra fala sobre como os irmãos, verdadeiramente seguidores da mensagem de Jesus, podem contribuir na construção da Aliança Preta, Popular e Indígena, bem como desenrola para nós a trajetória ministerial de Jesus, João Batista e os Apóstolos. Pregando a palavra de Cristo, Cobra se posiciona contra o que chama de “Cruzada Moderna” aos povos de terreiro e demais experiências de fé, perpetrada pelas Igrejas “gospel”. A mensagem aqui colocada é a de reviver a missão verdadeira do evangelho: conceber liberdades! “A Aliança que Jesus fez foi popular. Foi com escravos, com as putas, com as mulheres, com os que eram jogados nos leprosários e lixões romanos. Não há um Jesus Cristo que não seja índio, preta e popular. Jesus é isso”.
Vídeo 8 – Lideranças Kilombolas falam sobre as lutas dos seus territórios e a importância da Aliança dos Povos
“Precisamos nos unir em uma guerra pela continuidade do nosso direito de ser e existir. É uma guerra que exige estratégia, serenidade e amor. A gente está lutando pela nossa continuidade enquanto pessoas”. Estamos tecendo uma Aliança Preta, Popular e Indígena para combater o latifúndio, a intolerância religiosa, o machismo, o racismo, o patriarcado, enfim, o capitalismo. Essa trajetória em direção à liberdade não se dará sem a força da espiritualidade e da ancestralidade. Encantados, Nkissis e Orixás, bem como as demais divindades dos povos, estão em nossa frente, guiando as nossas práticas e reflexões. Povos de Terreiro têm enfrentado não apenas a sanha das cruzadas modernas eurocristãs que lhe tentam negar o direto à livre expressão da fé, bem como têm enfrentado o capital, materializado em seus mega empreendimentos, que destrói as águas, as matas e toda Mãe Terra que abriga as forças espirituais que nos direciona na jornada. Não podemos permitir! Conversamos com Yashodhan Abya Yala, Yalasé da Nação Muzunguê, Sangoma da Casa da 7ª Ordem e Integrante do Conselho de Anciões da Comunidade Kilombola Morada da Paz, Território de Mãe Preta e com a Iyá Bernadete de Oxóssi, Yalorixá do Ilê Odé Omg Ewá e assentada da Reforma Agrária em Ilhéus no PA Dom Hélder Câmara, para entender a amplitude das lutas que têm se dado nas comunidades de matrizes afroindígenas. Entendemos que precisamos confluir as forças e nos akilombar pela proteção desses Territórios e das suas culturas.
Vídeo 9 – Circo Cia Levianos na VII Jornada de Agroecologia
Queremos virar o mundo em Festa, Trabalho e Pão. A nossa luta é tão gigante quanto o riso das crianças – de todas as idades. Como escreveram Gil e Caetano, “Quero ser sempre menino, Xangô”. Nessa celebração da Aliança dos Povos, a Companhia Levianos de Circo se achegou para nos mostrar que, apesar da severidade que o cotidiano revela, a gargalhada ainda é possível. Essa é a alegria de estarmos em união em uma caminhada pela vida!