Gloria Muñoz Ramírez
Publicado originalmente en Desinformémonos, em 15 de outubro de 2023
Santa María Yaviche, Oaxaca, México. Florinda Flores, zapoteca de 71 anos, acende o fogão com a primeira luz do dia. Ela é uma testemunha próxima e protagonista das mudanças tecnológicas comunitárias neste povoado da serra oaxaqueña onde nasceu. Em uma pequena mesa de madeira, na cozinha de adobe onde se compartilham a vida e os sonhos, repousa uma velha televisão. Na manhã de sábado, ela se senta ao lado de seu marido, liga a televisão e aparece a magia: na tela, transmite-se a festa do povoado vizinho, à qual ela não pôde comparecer. Os locutores falam em sua língua xhidza (zapoteco da serra) e ela sorri diante da transmissão de um canal que se tornou realidade graças ao esforço de homens e mulheres da comunidade, que, com suas dificuldades, fazem acontecer o que lhes vem à cabeça.
O primeiro “sonho” chegou com a rádio comunitária e, depois, em sequência, o ensino médio; a rede de telefonia celular própria; os workshops de música e agroecologia; a construção de sua Universidade comunal e, mais tarde, em dezembro de 2021, seu mais recente orgulho: a televisão comunitária. “Nunca imaginei que um dia veria uma televisão, a festa, a música, tudo”, diz Florinda com um sorriso largo, que a abarca por inteiro.
Florinda é avó de Joaquín Yesmar, jovem zapoteca que parece ter nascido com um chip integrado. Tem 26 anos, mas desde a adolescência se envolveu no trabalho com a telefonia celular comunitária, a primeira rede desse tipo instalada em território indígena, sem o selo dos magnatas da comunicação do México. Joaquín se movimenta em seu pequeno estúdio como um peixe na água. Lá, ele passa horas montando antenas de televisão de alumínio, editando programas e revisando para garantir que a transmissão do seu próprio transmissor funcione bem. “Isso, para nós, é fortalecer a autonomia, ou seja, nossa cultura”, sintetiza Joaquín.
A televisão funciona, por enquanto, com 25 a 35 watts de potência. O equipamento é composto por um modulador e um amplificador, que formam o transmissor, e opera no canal 14.1. Parece simples, mas exigiu muito esforço e aprendizado por parte do pequeno grupo de jovens responsáveis pela construção. Sendo uma televisão digital aberta, o serviço é gratuito e não exige nenhuma assinatura.
Em Santa María Yaviche e nas comunidades de El Rincón, nenhum canal de televisão chega, o que deixa os canais e frequências livres no sistema digital aberto.
Essa comunidade poderia se chamar “Esperança”, diz Olga Martínez, “porque antes não havia nada e agora já há”. Em entrevista no pátio de sua casa, perto da escola, ela enfatiza que as conquistas se devem ao fato de que as pessoas “se unem” quando há benefícios e, no caso da televisão, “nos une, não custa nada e gostamos do que podemos assistir”.
As chuvas estão em pleno auge. A neblina cobre as montanhas ao norte da cidade de Oaxaca, de onde se leva cerca de cinco horas para chegar, entre a estrada pavimentada e a de terra. Na entrada do povoado, em um pequeno vale, os jovens jogam futebol, e, aos poucos, vão surgindo as casas de adobe decoradas com roseiras, cravos, agapantos, lírios e gladiolos, entre outras flores que enfeitam os quintais. O ônibus de passageiros faz uma parada na sede da Rádio Bëë Xhidza Aire Zapoteco, o mesmo nome da nova emissora de televisão, que compartilha instalações e desafios com a rádio.
Joaquín tem o sorriso de sua avó e o ânimo de seu avô. Fala como se tudo fosse fácil. Aqui, diz ele, “se nos ocorre um sonho, ele se torna realidade, ou pelo menos a gente tenta”. Não sem obstáculos, mas eles conseguem. A televisão comunitária surgiu da “necessidade da comunidade de ter acesso a conteúdo durante a pandemia, período em que se decidiu ficar em casa e fechar o povoado. Não havia espaços para as pessoas se reunirem ou se entreterem, e queríamos buscar um meio, além da rádio, para compartilhar informação educativa e cultural”.
A localização geográfica de Yaviche, na região conhecida como El Rincón, dificulta o acesso à internet. Depois de conseguirem a telefonia celular comunitária, instalaram uma rede de internet, mas a qualidade da conexão depende do clima e de outros fatores. É por isso, explica o jovem zapoteca, que não seria possível levar programas dessa forma, além de ter que pagar uma empresa para o serviço. Então, “o que nos pareceu mais viável foi criar um canal de televisão digital”.
A tecnologia nas mãos das comunidades é uma ferramenta de luta
“O mais viável?!”, perguntam. E Joaquín dá de ombros. Ele está parado ao lado de um velho VW Sedã branco que, segundo ele, vão transformar no primeiro carro elétrico da região. Há 10 anos, ele foi entrevistado aqui pela primeira vez sobre telefonia celular, internet e a ideia, então distante, de criar sua própria universidade. Hoje, tem tudo isso, além de uma televisão própria e, em breve, garante ele, seu carro elétrico.
Esses projetos, insiste Joaquín, fazem parte da autonomia do povo zapoteca. Eles não recebem recursos do governo, mas sim de fundações e redes de apoio. No caso da televisão, por exemplo, o coletivo NDN fez uma doação e compraram os equipamentos, mas como chegaram com defeito, consertaram aqui mesmo e os instalaram. E funcionou. Assim, conseguiram colocar em funcionamento a parte tecnológica, mas faltavam os conteúdos.
Mais educação, menos migração
Na pequena sala de sua casa, Jesus Martínez Ramos liga a televisão ao lado de sua esposa e de seu único filho de seis anos. Camponês, como todos da região, planta milho, feijão e cana-de-açúcar para a produção de rapadura.
Conta Jesus: “Nunca imaginei que um dia veríamos nossa própria televisão. Como estamos em um povoado muito distante da cidade, tínhamos televisores com antenas, mas eram caras e não tínhamos como pagar pelos canais. Agora temos uma televisão gratuita. Gosto da maioria das coisas que transmitem. Meu filho acorda cedo para ver seus programas. Me pergunta por que não deram continuidade à série que ele gosta de assistir e eu digo ao companheiro que meu filho quer ver de novo”.
Jesus tem 36 anos e não pensa em sair de seu povoado. Lembra que há três décadas só se podia estudar até a escola primária, e agora, “a organização do povo faz possível que os jovens tenham mais oportunidades de estudar e não precisem ir para a cidade. Agora temos ensino médio, faculdade e universidade, e os jovens saem mais preparados”, o que, segundo ele, ajudou a diminuir a migração para os campos de Sonora, Sinaloa e Estados Unidos. A rádio também faz sua parte, pois transmite informações “sobre como é dura a vida lá, e isso é dito claramente, até as crianças sabem como é”.O tempo passa devagar neste povoado de pouco mais de 800 habitantes, pertencente ao município de Tanetze de Zaragoza. A vida camponesa começa com o amanhecer e termina ao pôr do sol. Nestas terras houve minas de ouro e prata no século XVI, e agora, em várias regiões serranas, tentam reimplantá-las, levando embora a água e a vida das comunidades.
Yaviche faz parte da esplendorosa Sierra Norte, também conhecida como Sierra Juárez. A tecnologia os conecta e, se aqui ela é criada, o acesso não custa mais que a organização.
Joaquín sobe uma colina até chegar a uma pequena construção onde se destaca uma enorme antena. É o coração do que será a sede da televisão, da rádio, da internet, da telefonia “e outras coisas que nos ocorrerem”.
Em Santa María Yaviche e nas comunidades de El Rincón, nenhum canal de televisão chega, o que deixa os canais e frequências livres no sistema digital aberto, permitindo que operem o 14.1, com sinal em Yaviche e Santo Domingo Cacalotepec. Ao lado, está Tanetze de Zaragoza, onde chega só a algumas casas.
Nesta zona cafeeira por excelência, há alguns anos a venda do grão trouxe bem-estar para a comunidade. Com o dinheiro, começaram a surgir as antenas de TV a cabo das empresas VeTV e Sky. Mas depois, uma praga conhecida como a roya afetou a produção, e logo o preço do café também caiu, fazendo com que as antenas desaparecessem por falta de pagamento.
“Muitos não renovaram a assinatura, embora o preço do café tenha melhorado, e o que fizemos foi reutilizar o cabo coaxial das antenas e transformá-lo em novas antenas. Usamos alumínio e cobre para fazer antenas caseiras em forma de T, e no formato do pedaço de alumínio que tivermos”, explica Joaquín, enquanto monta uma antena em menos de 10 minutos. A antena é conectada à TV, o canal é sintonizado e tudo fica pronto para as televisões digitais. Para as televisões analógicas, usa-se um decodificador, que cada família precisa conseguir.
Joaquín continua a explicação: “O sinal chega, é codificado e enviado pelo amplificador. O canal depende do tipo de antena. Temos uma antena que opera na frequência do canal 14, pode estar no 14.1, 14.2 ou 14.3. Se quisermos outro canal, como o 5, o 6 ou o 9, precisamos trocar o tipo de antena. Ela transmite em qualidade de 1080 pixels em Full HD”.
Joaquín Yesmar, jovem zapoteca que parece ter nascido com um chip integrado. Tem 26 anos, mas desde adolescente se envolveu no trabalho de telefonia celular comunitária.
Este jovem zapoteco sempre se interessou por tecnologia e artes visuais. Na escola primária, brincava de fazer filmes, e no ensino médio tentou sua primeira produção cinematográfica. Seus amigos atuavam e ele dirigia. O resultado não foi bom, mas ele tentou. Joaquín faz parte de uma nova geração de cineastas indígenas, entre os quais está Luna Marán, que o convidou em 2018 para o Cine Too Lab e o Campamento Audiovisual Itinerante, onde ele aprendeu direção, produção, edição e atuação.
A tecnologia, uma ferramenta de luta
Sentado diante de seu computador no estúdio da Bëë Xhidza TV, Joaquín afirma que a tecnologia nas mãos das comunidades é uma ferramenta de luta. Ele diz que o fato de as pessoas dos povos gerenciarem a internet, a rádio, a televisão e a telefonia “representa uma grande mudança, porque geralmente tudo esteve nas mãos das empresas ou do Estado para seus próprios fins, mas o que fazemos aqui é pensar a partir da comunidade e para a comunidade”.
O seu sistema de Telecomunicações Xhidza é a base dos projetos educativos. A intranet é outro projeto iniciado para que a comunidade tenha acesso a arquivos com informações gerais. Nela, hospedaram a Wikipedia, uma biblioteca digital e centenas de documentos de interesse coletivo, mas o equipamento que usavam era muito antigo e acabou quebrando.
O projeto de rádio beneficia aproximadamente 25 comunidades, com cerca de 25 mil habitantes, tem 300 watts de potência e normalmente utiliza 250. A TV só chega a duas comunidades no momento: Yaviche e Cacalotepec.
Também trabalham na rede de internet, “criando um ponto de acesso mais econômico e equitativo em termos de megabytes e planos, diferente dos outros provedores de internet”. Tentam garantir que tudo seja de acesso gratuito, como a rádio e a TV, mas há projetos que precisam ser sustentados por outros para manter a autogestão. Com a rádio, por exemplo, têm alguma receita quando transmitem as festas de um povoado e recebem uma gratificação em dinheiro.
Que as pessoas dos povos gerenciam a internet, a rádio, a TV e a telefonia “é uma grande mudança, porque geralmente tudo estava nas mãos das empresas ou do Estado para seus próprios fins”.
A telefonia celular comunitária tem agora menos presença, pois só tem acesso a 2G, foi construída com software livre e é realizada em coordenação com a organização Telecomunicações Indígenas Comunitárias. O custo é baixo e todo o lucro permanece na comunidade.
Esses projetos, segundo Yesmar, não têm o objetivo de incomodar empresas ou governos, mas seus fins são diferentes. A concessão da rádio está em trâmite, “mas o que está acontecendo com a Rádio Tosepan (Puebla) e o Instituto Nacional Eleitoral (INE), que a obriga a promover partidos políticos, nos desilude. Não entendem que as comunidades se regem por usos e costumes e que não há eleições por partidos políticos. Isso desanima quem quer fazer o trâmite para ter uma rádio com os devidas permissões do Instituto Federal de Telecomunicações (IFT). A comunidade tenta fazer isso, mas quando acontecem esses problemas, surgem dúvidas sobre se devemos seguir ou não com isso”.
O caminho é longo
Nos últimos dias, o transmissor da rádio queimou. Será necessário consertá-lo ou conseguir outro. Este e outros contratempos surgem no caminho, mas eles já estão acostumados. O desafio é alcançar mais comunidades do povo xhidza, “mas precisamos de um transmissor de maior potência”. E para a TV, além de alcançar mais comunidades, o desafio é a criação de conteúdos próprios. No momento, a equipe filma, edita e transmite as festas e outras atividades comunitárias, além de transmitir documentários e filmes de produtores de cinema aliados.
Para fazer seus projetos se tornarem realidade, utilizam software livre: Ubuntu, Linux Mint, e, no caso específico da rádio, usam EterTICs, desenvolvido para rádios comunitárias por Javier Obregón na Argentina. Em 2015, saiu uma distribuição chamada “Mezcal”, desenvolvida para o estado de Oaxaca. Para a TV, usam Ubuntu e aplicativos como OBS (Open Broadcaster Software), VLC, para editar OpenShot e DaVinci Resolve, para vídeos. “Temos só uma câmera funcional e outra mais simples e mais antiga, que não usamos muito porque não foi necessário”, comenta Joaquín, e acrescenta que contam com um transmissor para fazer o canal funcionar e outros equipamentos e ferramentas para consertar e verificar as instalações elétricas.
Estrella, Eliza, Esdras, Jehú, Oswaldo e Joaquín formam a equipe base, mas frequentemente há mais colaboradores na TV, incluindo aqueles que fazem seu serviço social do ensino médio. O trabalho é voluntário, embora, desde o ano passado, aqueles que dedicam mais tempo recebam uma pequena remuneração.
A espinha dorsal, o que faz com que os projetos não desmoronem, é que são discutidos na assembleia. “Se a assembleia aprova, fazemos. Se não, não fazemos”.
Segurança comunitária e controle dos meios
Oswaldo Martínez Flores, engenheiro agrônomo graduado pela Universidade de Chapingo e parte fundamental do aprendizado comunitário de Yaviche, define a autonomia como “poder construir coisas com o que temos”. A entrevista com ele, assim como quando viemos há oito anos, acontece em Caa, um campo autônomo de aprendizado, “um lugar onde viemos aprender de tudo, praticar, experimentar e fazer coisas relacionadas com a soberania alimentar, com questões tecnológicas do campo. Aqui fizemos alguns experimentos com milho e melhoramos o processo de produção da rapadura pela cana”, explica Oswaldo.
O engenheiro, mestre e organizador, teve no início da rádio um programa chamado “Somos do Campo”, no qual abordava problemas como os transgênicos, os agroquímicos e outras questões que afetam as plantações. Um dia, um camponês da comunidade lhe disse que queria adicionar uma frase ao “Somos do Campo”, que deveria ficar “Somos do campo e nem ao campo vamos”, pois “era bonito falar, mas os camponeses precisavam ver que existem alternativas tecnológicas que realmente funcionam”.
Nasceu então a Fundação de Santa María para a Promoção Indígena e Agroflorestal, que busca experimentar, compartilhar e difundir “uma vida alegre, simples e duradoura. Já não falamos em sustentável ou viável, mas em algo que perdure ao longo do tempo. Experimentamos essa vida alegre, porque é preciso amar o que fazemos e fazer isso com alegria; simples, porque o que mais o sistema absorveu, e que causou tanto dano, é o consumismo; e duradoura, porque nossos avós nos ensinaram que é possível viver da natureza sem degradá-la”.
“Nossas avós nos ensinaram que é possível viver da natureza sem degradá-la”.
O processo de aprendizado comunitário parte do princípio de que “os meios de comunicação, a comida e a energia são questões fundamentais para a autonomia”. O Estado, explica o engenheiro zapoteca, “fala em segurança nacional e nós falamos em segurança comunitária para todos, e de ter o controle dos meios. Para isso estamos apostando em uma autonomia que estamos construindo com as mãos”.
Não se trata de não dialogar com as instituições do Estado, adverte. “Nós vamos lá e dizemos o que pensamos, e se eles não têm capacidade de resolver nossas necessidades, procuramos mecanismos e alternativas com a organização dos nossos povos. Temos a grande vantagem de que na Serra de Juárez, as assembleias comunitárias ainda estão vivas”.
O fundo de todos os projetos, continua, é que os jovens possam criar seus próprios mecanismos de desenvolvimento junto com a comunidade e, a partir daí, buscar a autonomia. Também trabalham a justiça climática e a justiça xhidza. Antes, diz ele, “precisávamos pedir permissão para fazer as coisas, mas dissemos ‘já basta’ e começamos a fazê-las como acreditamos que o futuro virá. Estou convencido de que o futuro da humanidade está nas comunidades indígenas, e acredito que é por isso que as empresas e o governo estão focados nesses territórios, onde há reservas de água, minerais, florestas e biodiversidade, porque nós não destruímos, sabemos viver em harmonia com a natureza”.
A autonomia, é claro, não é só tecnológica, “mas está ligada à relação com a natureza. Aprendemos a ser independentes porque a natureza nos ensina que devemos viver em comunidade. Se conseguimos coisas como a educação ou os meios de comunicação, é porque existe apoio comunitário”.
“Como estamos em um povoado muito distante da cidade, tínhamos televisores com antenas, mas eram caras e não tínhamos a facilidade de assinar. Agora temos TV gratuita”, diz Jesús Martínez, camponês da região.
Água Viva
Ele se apresenta como Nis Plátano, pois acha que come muito plátano [banana]. Seu nome é Nisban, que significa “água viva”. Tem seis anos e adora quando mandam saudações para ele na rádio. Sobre a televisão comunitária, diz que gostaria que transmitissem programas como Bob Esponja ou Pocoyó.
Nis Plátano, como outras crianças de Yaviche, não faz distinção entre a televisão que vem de fora e a que é produzida na sua própria comunidade. Para ele, é normal ligar a TV e ver as festas do povo ou os concertos das bandas locais. Não conhece a vida sem tecnologia.
Ao lado da casa de Nis, vive Olga Martínez López, que aponta com o dedo a pequena antena artesanal pela qual a sinal da Bëë Xhidza é transmitida. Antes, ela conta, “víamos a TV de fora e depois compramos um DVD para assistir a filmes e desenhos para crianças, mas nunca imaginei que teria TV e internet próprias da comunidade. Isso nos ajuda muito para algumas notícias e outras coisas que gostamos”.
Olga menciona que estudou até o segundo semestre do ensino médio porque “não tinha muitas oportunidades”, mas agora, orgulhosa, diz que a comunidade já tem pré-escola, ensino fundamental, ensino médio, bacharelado e universidade. Também há oficinas de música e sua filha está inscrita nos cursos de iniciação.
A comunidade reconhece o trabalho dos jovens, como o de Elizabeth Flores, que faz parte da rádio, da TV e, além disso, é responsável pela loja autônoma que ela iniciou com a ideia de distribuir a rapadura moída, café e a cachaça produzidos em Yaviche. Depois, começaram a trabalhar com os artesãos e artesãs das diferentes comunidades e agora também vendem huipiles [roupa tradicional], máscaras de madeira, utensílios de bejuco e carrizo [tipos de cipó], e outros artesanatos da serra a preços justos. “Se realmente queremos fazer uma mudança”, explica Elizabeth, “temos que começar pelas comunidades e seus problemas”.
Nos dias desta reportagem, foi realizado um encontro entre universidades rurais e projetos de educação alternativa de Chiapas e Oaxaca. Em Caa, terra de aprendizados coletivos, chega Arlenne Tamara Vázquez Gómez, natural de Tuxtla Gutiérrez, Chiapas. Arlenne afirma que “nas comunidades há muito conhecimento e não tem por que vir um estranho dizer como devemos fazer as coisas”. E no caso específico da tecnologia, ela aponta: “O seu uso comunitário é muito importante porque podemos alcançar outras pessoas e fazer esse tipo de encontros para nos conhecermos. Às vezes pensamos que estamos muito sozinhos no mundo e, na realidade, descobrimos que há pessoas fazendo coisas parecidas com as nossas ou que estão focadas no mesmo caminho de criar espaços alternativos”.
O caminho, todos sabem, “é longo”, mas concordam com Joaquín que “se sonharmos grande, construímos grande”.
Este material jornalístico é de acesso livre e reprodução permitida. Não é financiado por Nestlé nem por Monsanto. Desinformémonos não depende delas nem de outras como elas, mas de você. Apoie o jornalismo independente. Ele é seu.