Posted on: 6 de dezembro de 2023 Posted by: Teia dos Povos de São Paulo Comments: 0

Arrelá, primas, primos, aliadas e aliados! Em pleno 2023, as roças tradicionais e muitas casas de farinha continuam ativas e existindo nas comunidades caiçaras de Ilhabela/SP. Isso graças à resistência e à perseverança de várias gerações de mulheres e homens caiçaras que nos antecederam, como herança de nossos parentes indígenas.

Assim como outras tradições da cultura caiçara, a mandioca e a farinha estão presentes nas memórias afetivas e na vida do nosso povo, pelo convívio familiar na roça e no feitio da farinha, pela alimentação do dia a dia e pelas relações de troca e venda da farinha de mandioca. Em outras épocas, quase toda família caiçara tinha sua própria casa de farinha e quem não tinha utilizava a casa de farinha ou encomendava a farinha de alguma camarada.

Em reconhecimento do trabalho e do esforço de muitas gerações e da importância dos conhecimentos de plantio e beneficiamento de alimentos tradicionais da cultura caiçara para a soberania do nosso povo, tendo a roça de mandioca e a casa de farinha como símbolos dessa luta e resistência, o Coletivo Caiçara de São Sebastião, Ilhabela e Caraguatatuba, juntamente com o projeto Muda Alimentos Agroecológicos, com a Associação Amor Castelhanos e com a CATI, apoiaram a iniciativa coletiva de caiçaras do canal e da Baía de Castelhanos, para organização de um grande encontro de mestres e mestras dessa tradição feitio da farinha, em Ilhabela.

Foram quase dois meses de planejamento, visitas e convites às famílias caiçaras que ainda possuem ou tinham uma forte relação com o plantio de mandioca e o feitio de farinha. Em Ilhabela, lembramos e convidamos mais de 60 famílias, de mais de 20 comunidades das Ilhas, das praias mais distantes e do canal.

Um dia antes da Festa da Mandioca, prim@s e aliad@s da luta, reunidos em mutirão, colheram 100 kg de mandioca da roça da nossa Mestra Caiçara Alaíde Rafael de Souza, na Baía de Castelhanos. No mesmo dia, as mandiocas foram transportadas descascadas, raladas e prensadas na Casa de Farinha do Mestre Seo Dito Dória, no Portinho.

No dia 18 de novembro de 2023, a lenha começou a esquentar o forno bem cedo e já foi iniciada a primeira fornada de farinha do dia. Mesmo com a previsão de vento forte e chuva, a tribuzana que tomou conta do Portinho foi outra! Fizeram-se presentes mais de 70 pessoas, dentre elas, crianças, jovens, adultos e 15 mestras e mestres caiçaras das comunidades de Búzios, Vitória, Castelhanos, Mansa, Vermelha, Portinho, Furnas, Figueira, bem como de prim@s e aliad@s de São Sebastião e dos Caraguatás.

O dia foi regado de muita alegria, prosa, trocas de saberes entre gerações e comida caiçara. De manhã, café com garapa, batata doce e banana terra cozidas, suco de cambuci e uvaia, e no almoço, o tradicional peixe ensopado com pirão de banana verde. Receitas e comidas da nossa tradição, aprendidas com Bobô e com Bobó.

Foram 4 fornadas de farinha em mutirão, cada mestre apresentando sua forma de feitio e os jovens aprendendo enquanto faziam. Foram produzidos e distribuídos cerca de 25 kg de farinha de mandioca.

Tiveram muitas falas potentes e emocionantes sobre a tradição e a resistência do nosso povo caiçara a fim de manter os Territórios da Terra e do Mar e toda sua Tradição. Os saberes e a luta dos mestres e mestras foram reconhecidas e homenageadas pelos movimentos sociais atuais e pelos adultos e jovens caiçaras. Os sentimentos foram de afeto, gratidão, orgulho, esperança e perseverança.

Fortes e importantes chamados individuais e coletivos surgiram neste dia: Alaíde convidou a caiçarada e demais presentes para mais uma fornada na sua Casa de Farinha na Praia Vermelha. Primas e primos da Praia Mansa chamaram um mutirão para a reconstrução da Casa de Farinha da comunidade. Foi consenso de que devemos realizar pelo menos uma Festa da Mandioca de Ilhabela por ano. Aos jovens e adultos das comunidades, associações e movimentos sociais, restou a missão da continuidade e do apoio para ampliação dos plantios de mandioca, do feitio de farinha e da organização coletiva dos próximos encontros.

Para esperançar, destacamos a força do trabalho coletivo e o espírito de união e de cooperação em todas as etapas desse rico, potente e emocionante processo organizativo. Os recursos financeiros para realização da Festa vieram do caixa dos grupos organizados envolvidos e de doações de camaradas da luta. Contamos com a colaboração dos primos pescadores da Mansa e da Vermelha, que doaram mais de 20 kg de peixe fresco.

Agradecemos a todas as pessoas que colaboraram.

RESISTÊNCIA CAIÇARA QUANDO? JÁ!!!!

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