Na tarde de ontem (21), Nega Pataxó, como chamamos carinhosamente Maria de Fátima Muniz Andrade, majé do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe e nossa mestra, foi covardemente assassinada pelo grupo de extermínio ‘Invasão Zero’, liderado por fazendeiros e empresários baianos, cujo modo de operação inclui a formação de milícias armadas com o objetivo de atacar, intimidar e matar povos originários, Sem-Terra e pequenos agricultores em diversas regiões do estado.
No ataque, que ocorreu durante uma retomada do território ancestral Pataxó Hã-Hã-Hãe em Potiraguá, no sudoeste da Bahia, aconteceram também o trancamento das vias de acesso à área e sessões de tortura. Uma parente teve a sua clavícula quebrada, alguns foram feridos em várias partes do corpo após espancamentos e ainda outros ficaram desaparecidos. Além de Nega Pataxó, o irmão dela, cacique Nailton Muniz, líder Pataxó Hã-Hã-Hãe e conselheiro da Teia dos Povos, foi baleado, teve o rim atingido e foi submetido a uma cirurgia de risco.
A polícia militar da Bahia, liderada pelo governador Jerônimo Rodrigues, teve participação no fato. Agentes da segurança pública atuaram como guarda-costas dos ruralistas homicidas. Segundo relatos, os policiais tanto facilitaram as ações dos criminosos, quanto agrediram, eles próprios, os indígenas.
Desde 1500, quando os portugueses invadiram essas terras e iniciaram o genocídio contra os povos originários, temos resistido às violências que marcam, com sangue, este território, historicamente pertencente àqueles que, hoje em dia, reinvidicam o direito de viver em paz, seguindo o modo de vida tradicional. O povo Pataxó Hã-Hã-Hãe é uma dessas comunidades resistentes e têm lutado há décadas pela garantia plena de seu território. Recentemente, há um mês, outra liderança dessa etnia, o Cacique Lucas Kariri-Sapuyá, foi morta em uma emboscada enquanto voltava para casa acompanhada de seu filho. O jovem tinha 31 anos.
Nega Pataxó, ancestralizada aos 52 anos, é uma mestra de saberes e liderança espiritual na Terra Indígena Caramuru Catarina-Paraguassu, e zelava por seu povo com práticas da medicina tradicional, incluindo cantos ancestrais, outros de composição própria, cultivo e uso de ervas, além de seu intenso trabalho, junto a parentes, na recomposição da floresta, lugar e morada dos encantados. Militante do Movimento Indígena, a majé foi uma das construtoras da Pré-Jornada de Agroecologia da Teia dos Povos, que aconteceu em sua comunidade em 2023.
Registrar a trajetória de Nega, que se encantou com o maracá empunhado, como uma vivente contracolonial sobre a mãe Terra, é destacar a importância das mulheres para a construção de uma vida digna para os povos. Combater o latifúndio, o colonialismo e o capitalismo é, mais que nunca, uma tarefa que precisamos assumir coletivamente, a fim de honrar guerreiras e guerreiros, como Nega Pataxó, Cacique Lucas, Galdino e outros parentes que não tiveram medo de lutar contra os nossos inimigos
Nega, eternamente semente!
Texto patético.
Embora cite nominalmente o atual governador, não explicita ser ele do PT – partido no governo da Bahia desde 2007.
Nenhuma referência às responsabilidades do governo Lula neste assassinato, sejam indiretas ou mesmo diretas.
Para justificar o apoio a Lula nas Eleições de 2022, Joelson Ferreira afirmou: “Se [Lula] ganhar a gente perde, se [Lula] perder a gente morre.”
Com se vê, se morre do mesmo jeito…
Enquanto prevalecer o mito Lula não daremos sequer um passo à frente.
Lula não é um dos nossos. Há muito tempo é um representante político da classe dominante.
Todos aqueles que apoiam Lula são cúmplices destes tiros e deste assassinato.
Esta morte marca a derrocada espiritual da Teia dos Povos.
Perfeito!
E ao mesmo tempo a marca da paralisia de quem tem o privilégio de ficar só na crítica através da palavra.
Você sabe muito bem que vivo num sítio há 18 anos, portanto mesmo que a crítica apenas pela palavra seja a característica de muitos não é o meu caso.
Minha crítica, e principalmente autocrítica, é de quem vive em conformidade e consequência.
Ainda assim, a crítica seja qual for e como for, mesmo a improcedente, é imprescindível para o avanço de todo e qualquer movimento.
Foi justamente a desqualificação, e até interdição, da crítica que nos trouxe ao atual beco sem saída do Lulismo.
Se quisermos superar esta situação devemos assumir, e fomentar, o exercício constante e inclemente da crítica radical.
Repito: esta morte marca a derrocada espiritual da Teia dos Povos.
Isto afirmo com tristeza.
E consciente de como esta derrocada afeta a todos, mesmo aqueles não participando diretamente da Teia dos Povos. Trata-se de uma terrível derrota coletiva.
Considere: estamos vivendo uma outra Vida, e não aquela que combinamos de viver juntos.
Não é à tôa irmos em rumo ao armagedon, caminho trilhado pela via de nossos repetidos erros.
Vamos não somente chegar às raias da guerra nuclear como iremos além. Já não há como evitar a explosão das primeiras ogivas.
Resta uma última chance: haverá uma breve trégua, quando faremos nossa última escolha.