Dentro das reflexões que nos propomos nos últimos anos, uma, sem dúvida pouco priorizada, é a construção de um ser humano revolucionário para a sociedade que vai surgir. Os aspectos psicológicos, emocionais e de virtude, de bons atributos, quase sempre são deixados de lado na reflexão política. Por esta razão Mestre Joelson Ferreira indica a leitura de O socialismo e o homem [novo] em Cuba de Ernesto Che Guevara. Este texto foi escrito ao companheiro Carlos Quijano depois que Che voltou de África para ser refletido com companheiros e companheiras no Uruguai.
O principal dilema do revolucionário argentino neste texto é que os indivíduos que fazem a revolução são originário de uma sociedade não revolucionária e o peso do passado recai sobre eles no processo de condução da luta. Ou em suas palavras:
A nova sociedade em formação deve competir muito duramente com o passado. Isto se faz sentir não apenas na consciência individual, na qual pesam os resíduos de uma educação sistematicamente orientada para o isolamento do indivíduo, mas também pelo próprio caráter desse período de transição, onde permanecem as relações mercantis.
A tarefa revolucionária, portanto, é também construir a transição de uma sociedade revolucionária, na medida em que também nós comecemos a nos transformar politicamente em outro ser humano, mais revolucionário, generoso e menos ligado às relações do mercado. Esta é uma tarefa difícil. Parte do aprendizado se conecta com a importância de manter a organização política com uma interpretação bastante cuidadosa a respeito do povo. Por outro lado, há que desenvolver novos valores, para os quais as atividades voluntárias são fundamentais. O próprio Che reconhecia que não havia manuais para isto e que as experiências revolucionárias possuiriam seus próprios limites:
O socialismo é jovem e comete erros. Nós, os revolucionários, carecemos dos conhecimentos e da audácia intelectual necessários para encarar a tarefa do desenvolvimento de um novo homem por métodos diferentes dos convencionais.
A leitura do texto de Che pode ajudar a repensar os aspectos mais subjetivos e profundos da luta popular e compreender que sem novos valores, atributos e postura, nós podemos construir um novo mundo na aparência, mas com o espírito e o corpo do velho mundo. Não é isto que buscamos. O que queremos de fato é uma nova jornada de refazimento do ser para que possamos enfrentar o colapso iminente que vivemos.
Nestas condições deve-se ter grande dose de humanidade, grande dose de sentimentos de justiça e de verdade para não cair em extremos dogmáticos, em escolasticismos frios, em isolamento das massas.Todos os dias deve -se lutar para que este amor à humanidade viva se transforme em fatos concretos, em atos que sirvam de exemplos, de mobilização.
Por fim, há que reformar os corações de todas as lutadoras e todos os lutadores, contudo o foco deve ser nas gerações mais novas, herdeiras e produtoras da nova sociedade. Movimento que não passa o bastão à juventude não apenas se corrompe do ponto de vista dos valores – como temos visto em parte grande da esquerda -, como também perde a capacidade de comunicação com as novas gerações. É por isso que Che insiste e nós concordamos:
O alicerce fundamental da nossa obra é a juventude: depositamos nossa esperança nela e preparamo-la para tomar a bandeira das nossas mãos.