Posted on: 7 de novembro de 2020 Posted by: arkx Brasil Comments: 0

Nós do Coletivo Terra temos um espaço de comercialização situado no Assentamento Terra Prometida, na região de Duque de Caxias (RJ).

Somos um grupo de agricultoras e agricultores agroecológicos. Uma parte é do assentamento e os demais são da região próxima e de Tinguá.

Fundamental para nós nesse processo da pandemia foi a gente conseguir fazer chegar alimentação saudável a todos que precisam.

Nessa conjuntura é fundamental valorizar a agricultura familiar, os territórios quilombolas, territórios de resistência, camponesa, índia, negra e popular.

E nós seguimos fazendo isso através da coletividade e da solidariedade de classe. Conseguimos atender na região de Duque de Caxias através da articulação muito importante com o Movimenta Caxias, que articula bairros periféricos pelo direito de acessar políticas públicas.

Nesse processo de isolamento social e da necessidade da quarentena, muitos não puderam fazer, não porque não quiseram, mas porque tiveram que continuar trabalhando.

E aonde nem a água chega, chegou a solidariedade daqueles e daquelas que lutam. E nesse sentido, nós como coletivos de produtores nos integramos a esse processo.

E nem nós acreditávamos nesse potencial. Porque no início, quando foi pedido para gente atender com os kits de alimentos orgânicos, a gente iniciou com apenas 400 cestas.

A gente levou em conta atender com qualidade, com carinho, com afeto. Nosso coletivo organizou com todo o carinho as cestas.

Além dos produtos orgânicos, a gente também vai colocar um sabonete fitoterápico, à base das ervas medicinais, e também um bolo ou um pote de doce, resultado do processo de beneficiamento.

Então, foi assim que a gente conseguiu atender a cada cesta, mais ou menos com sete quilos e meio a oito quilos de produtos orgânicos.

E aí a gente teve um diferencial muito significativo daqueles outros que simplesmente atendiam.

Então, a gente conseguiu fazer esse feito. E resultou em 10.400 cestas entregues! No período de Abril a Agosto de 2020.

Também conseguimos entregar para além do território da Baixada. Atendemos a Serra da Misericórdia, através do Centro de Integração da Serra da Misericórdia. Com a coordenação da Ana Santos, atendemos com cerca de três toneladas e meia de alimentos orgânicos.

Uma parte dessa parceria, articulação da Fiocruz, da Rede Ecológica e por outras doações obtidas pelo próprio Centro de Integração da Serra, também chegamos à Rua Solidária, um processo no Rio de entrega de quentinhas para moradores de rua.

A Rede Ecológica do Rio de Janeiro é uma associação que tem como princípio consumir alimentos diretamente dos agricultores, familiares, dos assentamentos de reforma agrária, de grupos que defendem a agroecologia. Eles compram semanalmente também do nosso Coletivo Terra.

E o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), através do espaço Raízes do Brasil, que fica em Santa Teresa, no Rio.

Estamos também atendendo através da entrega às residências. Na Baixada Fluminense e em alguns bairros do Rio de Janeiro.

A gente atende Belford Roxo, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, São João de Meriti, Mesquita, Nilópolis. E alguns bairros da Zona Norte e Zona Sul do Rio.

Ainda não conseguimos atingir todos os bairros do Rio de Janeiro por dificuldade de estrutura.

Fotos: @malebxd

Mais do que apenas consumidores, são amigos dessa luta, conectando a cidade e o campo, num processo de integração. Vivemos um momento onde é fundamental essa aproximação do campo e da cidade.

Agora no processo da pandemia, a gente não está fazendo práticas de experiências agroecológicas, nem de vivências práticas ou mesmo visitas ao nosso espaço. Mas sempre fizemos isso ao longo do tempo. Aproximar mesmo. Saber de onde que vem a sua comida, qual é a origem dela, quem são as famílias que produzem esses alimentos. Para a gente isso é fundamental.

Começamos levando as cestas muito antes da pandemia, com a inauguração da Feira Regional da Reforma Agrária Padre Geraldo Lima em Caxias. Levávamos nossos produtos para essa feira.

Não temos mais esse espaço. Quando começamos o processo de rearticulação, a pandemia veio.

Muitos amigos então começaram a perguntar da possibilidade da entrega. Nesse sentido a gente começou a entregar quinzenalmente nas residências, a partir de Julho. Sempre conversando com os consumidores sobre a origem dos alimentos e a importância nutricional, de se alimentar bem.

Nesse mês de Outubro, como tem a Luta Internacional pela Soberania Alimentar, pelo direito a alimentação saudável, também começamos a modalidade, por incentivo de nossos amigos, da Cesta Popular de Doação.

Você compra o alimento para sua família, e se quiser você também pode doar uma cesta,  através de outros projetos na periferia, para atender pessoas que não tem recursos para comprar alimentação.

Sabemos que a fome tem aumentado no país, a desigualdade tem aumentado, com a situação do desemprego. Vamos continuar a incentivar que esses alimentos continuem sendo doados para a periferia.

Isto é muito importante para valorizar que no território da Baixada Fluminense tem terra fértil, tem agricultura familiar, tem assentados da reforma agrária, tem produtores agroecológicos produzindo saúde.

Atendemos também as famílias através do projeto do Centro de Direitos Humanos da Diocese de Nova Iguaçu (RJ).

É necessário a sociedade gritar junto com a gente. Para pensar os municípios, para pensar a cidade, tem que pensar no alimento. E esse alimento tem que ser um alimento saudável, porque ele precisa produzir saúde.

Agrotóxico gera doença.

É fundamental todos e todas se conscientizarem do papel e da importância da Reforma Agrária, dos territórios camponeses, dos territórios quilombolas, dos territórios indígenas, que preservam o planeta, que preservam a terra, que plantam saúde e geram saúde.

É fundamental a nossa luta em defesa da soberania alimentar e nutricional de todos e todas, do campo e da cidade, para a gente conseguir eliminar a fome no país.

Se quiserem nos acompanhar, é só entrar em contato pelo Instagram @coletivo.terra, ou pela  página do Facebook.

Padre Geraldo Lima sempre foi um defensor da agroecologia, um defensor da luta pela terra, um defensor dos Direitos Humanos.

Viveu ajudando a descentralizar a terra. A terra como direito dos povos, como direito dos trabalhadores, a terra como um direito de identidade daqueles e daquelas que precisam plantar  para poder sobreviver e poder partilhar o alimento e as sementes crioulas.

Esses alimentos são alimentos vindos de territórios que, por não terem política pública, os governos municipais veem apenas como área de interesse de turismo rural.

A nossa concepção é muito mais avançada do que isso. O turismo rural ele às vezes só atende empresários que tenham algum sítio de lazer, que tenham algum empreendimento no território.

E a produção de alimentos fica em segundo plano. A população que está nesse território precisa de  assistência, de saúde, escola de qualidade, estradas.

De forma que o produtor consiga escoar o seu produto, e quem quiser comprar também possa chegar até os produtores.

Os territórios de onde vem esses alimentos, são territórios de luta, são territórios de resistência, são territórios que lutam contra a invisibilidade e por políticas públicas.

Bia Carvalho

Assentada no Assentamento Terra Prometida, agricultora agroecológica, pedagoga da terra, organizadora do coletivo e defensora da luta pela terra.

Não podem matar o sonho
de quem quer a liberdade
não podem matar o sonho
de quem busca a verdade

Se tombar um companheiro
lutando por uma causa justa
dez outros levantarão
pra continuar esta luta

Foi assim no tempo da escravidão
onde índios e negros foram mortos
por capangas e coronéis armados
que sempre teve o poder nas mãos

Muitos anos se passaram…
Mas nossa luta não parou
Esse sangue derramado hoje pulsa forte
Nas veias de cada trabalhadora, de cada trabalhador
que sonha e luta por igualdade
Em ter uma pátria livre de patrão
Livre de fazendeiro
onde um dia podemos derrotar
a ditadura do dinheiro.

Luzia Marques

integrante do Coletivo Terra

vídeo:


sobre os Diários da Pandemia:

  • Embora seja tb um trabalho jornalístico, se propõe a muito além disto.
  • Tem como objetivo principal tecer uma rede de comunicação entre as diversas lutas localizadas.
  • De modo a circular as experiências, para serem reciprocamente conhecidas numa retro-alimentação de auto-fortalecimento.
  • Não se trata de tão somente produzir matérias, e sim tornar as matérias instrumento para divulgar conteúdo capaz de impulsionar os movimentos.
  • Em suma: colocar a comunicação a serviço das lutas concretas.

acesse a série completa aqui neste link

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