A mesa do segundo dia de III Jornada, realizada na sexta-feira (05/12), teve como tema Sementes, ciência e tecnologia para mudar a realidade das comunidades no campo e na cidade. As falas que embasaram o diálogo foram da Cacica Maria Muniz (Pataxó rã rã rãe), de Joelson Ferreira (Assentamento Terra Vista) e da professora Maria Aparecida (UFBA). À tarde, a Jornada seguiu com as oficinas, mini-cursos, feira de economia solidária e a 1ª Troca Troca de Sementes Crioulas. À noite foi voltada às celebrações culturais entre todos os povos presentes.
MESA
A Cacica Maria inicia a mesa apresentando o livro que está em construção com mulheres indígenas de sua comunidade. Com a frase “semear cantando”, conta experiências sobre a produção em mutirão que ocorreu em seu território, integrando indígenas, assentados e quilombolas, trazendo a percepção da terra como símbolo de fertilidade e do trabalho coletivo em ritual, com cantorias tradicionais como torés. Em seguida, convoca a juventude para lutar “ombro a ombro” com o povo, refletindo sobre ideologias de desunião e sobre o mau uso de tecnologias que nos afastam da vivência. Finaliza sua fala com cânticos de força.
A professora Maria Aparecida, da UFBA, contou a lenda do surgimento da agricultura a partir das mulheres, que destrincha a trajetória histórica das sementes como base da humanidade: “As sementes tem material genético, são a essência da vida, ou seja, são embriões”. Fez um breve histórico sobre a Revolução Verde, que disseminou a produção em massa de alimentos e agrotóxicos. Em contraponto, comentou sobre o surgimento do princípio da Agroecologia, nos anos 70. Apontou a agroecologia e as sementes crioulas como caminho para a efetividade da soberania alimentar: “Não se pode utilizar 100% das sementes. É preciso manejo sustentável, guardar uma parte para as produções futuras”.
Joelson Ferreira, do Assentamento Terra Vista, apresentou o trabalho de uma cooperativa do MST no Rio Grande do Sul, chamada Bionatur, que produz sementes orgânicas para comercialização. A partir dessa experiência, lembrou que as sementes não são patrimônio das empresas que buscam controlar a nossa produção de alimentos, como a Monsanto e a Bayer. “Estamos com a riqueza nas mãos, agora é preciso cuidar delas”, indica Joelson ao lembrar da importância das trocas de sementes para a manutenção da produção e do cuidado com a terra, criando condições para chegarmos a soberania do povo.
Joelson lembrou que as sementes modificadas são dependentes de veneno e os alimentos proveniente delas agem da mesma forma no nosso organismo, gerando doenças. Ressaltou que as mulheres sempre foram as guardiãs das sementes crioulas e sugere nossa tarefa: “Que cada um e cada uma se transforme em plantadores, cuidadores e semeadores de sementes. Se não tiver espaço para a produção, doe para alguém continuar o trabalho. Para isso, é preciso primeiramente acabar com a capitalismo e conscientizar o povo das cidades sobre a necessidade de voltar à terra, evitando que nosso povo morra nas periferias”.
Ao final, Joélson convida o Mestre TC para explicar o significado do Baobá como árvore sagrada e ancestral no território africano. TC complementa indicando a necessidade de compreendermos que nós, seres humanos, semeamos valores junto com as sementes, porque também somos patrimônio da terra. “Precisamos ser boas sementes, tendo a generosidade como caminho”.
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