O Semente Junta a Gente – Encontro para organização de rede de sementes florestais nativas aconteceu nos dias 16 e 17 de Agosto e deu o pontapé inicial para a formação de uma rede que vai interligar os coletores e produtores de sementes e mudas, a princípio da Mata Atlântica e, posteriormente, da Caatinga e
Cerrado. Os cerca de 100 presentes na atividade do Projeto Ações Ambientais Sustentáveis acordaram alguns princípios e estratégias da rede e construíram um grupo gestor para a rede no bioma Mata Atlântica.
O objetivo da rede é fomentar a colheita, produção e comercialização de sementes e mudas florestais nativas no estado da Bahia. Com isso, espera-se preparar o setor para a demanda por restauração florestal que deve surgir, como defendeu Murilo Figueiredo, da Secretaria de Meio Ambiente: “É um momento ímpar para os produtores, tendo em vista a previsão de um aumento significativo na demanda de mudas e sementes, por parte das propriedades que tiverem passivos ambientais detectados através da consolidação do Cadastro Estadual Florestal de Imóveis Rurais (Cefir)”.
Rede em construção coletiva
Para organizar a rede, a proposta foi uma construção coletiva, contando com a ajuda de parceiros que já acumulam alguma experiência nos temas de interesse. Foram realizadas três apresentações tratando das temáticas regularização de viveiros, estrutura de redes de sementes e organização de movimentos sociais em rede. Em seguida, os participantes dividiram-se em grupos de trabalho e construíram estratégias de atuação focando nesses três aspectos.
De Brasília veio a contribuição da Rede de Sementes do Cerrado, trazida por Alba Cordeiro. Ela frisou a necessidade de identificar o mercado e deu exemplos de como a rede pode auxiliar em processos complexos para os produtores, “as redes que conseguem comunicar a produção e a demanda têm sido bem sucedidas. No nosso caso, entendemos que a rede teria que ser o comercializador devido à dificuldade do pequeno produtor tirar o Renasem”, explica. Um diferencial da Rede do Cerrado é a comercialização de sementes, não só de mudas. Isso só é possível graças à parceria com a Universidade de Brasília, que possui um dos poucos laboratórios no Brasil onde se realizam os testes de germinação exigidos para realizar as vendas.
Lausanne Almeida, do Projeto Arboretum, falou sobre a regularização dos viveiros de acordo com as exigências do ministério da agricultura, processo simples para os coletores de semente, mas complexo e trabalhoso para os viveiristas que vão comercializar as mudas, “É algo inviável quando se trabalha sozinho”, afirma ela. O projeto Arboretum lida com essa dificuldade disponibilizando um técnico para auxiliar os viveiristas na regularização. Além dessa, outra estratégia traçada pelo grupo de trabalho para a rede recém-criada é pressionar para conseguir a flexibilização dessas exigências, principalmente para viveiros de comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas e da agricultura familiar.
Para falar sobre movimentos sociais trabalhando em rede, Joelson Oliveira compartilhou a experiência do assentamento Terra Vista, do MST, na cidade de Arataca. O assentamento totalmente degradado na entrada das famílias, hoje está bastante florestado graças a um intenso processo de restauração ecológica promovido pelos assentados. O Terra Vista já faz parte, integra e constrói a Teia dos Povos, uma rede que além de sementes florestais, trabalha com sementes crioulas. Joelson e o grupo de trabalho defenderam uma intensa troca entre os saberes ancestrais e populares com o saber científico, mais valorizado normalmente: “Para conservar a Mata Atlântica é preciso mudar de atitude! A árvore mais estudada hoje é o eucalipto e isso é uma vergonha para as universidades!”, critica.