Posted on: 24 de novembro de 2021 Posted by: Teia dos Povos Comments: 0

Texto e imagens por Rodrigo Wanderley

Todo telhado é um barco,
só que aos contrários, do avesso.
Enquanto barco navega pelos mares,
teto fica ali,
parado.
É o céu que viaja por ele.

Para a Pré-jornada de Agroecologia da Chapada Diamantina na Bocaina e Mocó (Piatã – BA), tivemos que construir um barco, digo, um teto, para abrigar os navegantes que se aportavam de seus diferentes territórios da Chapada Diamantina.

A prefeitura municipal de Piatã foi acionada, com bastante antecedência e reiteradas vezes, para que emprestasse um toldo para os dias do evento. Mesmo com muita insistência, o pedido foi negligenciado.

Faltando pouco tempo, o jeito foi meter mão e fazer o salão de festas à moda tradicional: a latada, como é conhecida por essas bandas de Piatã. A latada faz parte da tradição de diversos povoados da Chapada Diamantina, mas que pode ganhar diferentes nomes de acordo a tradição. É uma espécie de salão de festa temporário, construído para festejos diversos, sejam casório, festas juninas, Folia de Reis, etc… É uma construção feita em mutirão, usando forquilhas (madeiras com ponta em V), bambus e palhas de licuri ou lonas plásticas.

Juntando as forças, partimos para o mato cortar alguns bambus com mais de 10 metros de altura. Pense que foi um bando de jovens misturados com senhores e senhoras puxando madeira acima por meio de pasto e lama até o local da construção… Depois foi plainar terreno, fazer medidas, cavações de buracos e tudo mais.

Estrutura finalizada na sexta-feira, deixamos o toque final para o sábado de manhã, dia do evento. Enquanto puxávamos a lona sobre o teto, os convidados que se chegavam já foram tomando parte também. Por volta das 11h, finalizamos os últimos detalhes para a programação que já se se iniciaria às 15h. Talvez pra testar o nosso serviço, Iansã, São Pedro e os encantados se juntaram e mandaram uma chuva daquelas… cada gota era um jarro, precisava de ver.

Em meio ao aguaceiro, uma bolsa de água ajustada, uma calha reaprumada e pronto: nenhuma gota derramada sobre as cerca de 200 pessoas que se protegiam debaixo da latada de 20 metros de comprimento por 8 metros de largura durante os três dias de evento.

Durante a construção, partilhamos saberes, aprendemos de física, gravidade, matemática, nível, prumo, alinhamento, esquadro, resistência dos materiais, dinâmica das águas e dos ventos; além das histórias, risadas, resenhas, e toda amizade e bem querer partilhado durante a sua construção. Isso sem contar a impagável sensação de empoderamento e a certeza da potência do trabalho coletivo.

Honrando a tradição, além das rodas de conversa e muita partilha de saberes e fazeres, teve foi dança ao som da Valsa Lisa puxada por Nalmides, Reisado de Abaíra, uma quadrilha improvisada de Edmone, crianças correndo de um canto pra outro e por aí foi longe…

Passado o evento que terminou na última segunda-feira (15/11/21), a constatação: que bom que o tal do toldo não veio!!!

Viajar em barco feito por nossas próprias mãos, é muito mais prazeroso.

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