* De Neto Onirê Sankara – Agricultor, Dirigente do MST e Conselheiro da Teia dos Povos
Camaradas, saludos desejando que essas palavras os encontrem bem, saudáveis e dispostos a seguir em luta.
Vivemos tempos sombrios nos quais tudo parece se dissolver em um mar de dor e angústia, e mesmo o Sol parece brilhar mais tímido. Nesses tempos, as dúvidas parecem engolir as certezas, não faltam dúvidas e inquietações e as respostas parecem não satisfazê-las.
Escrevo com o coração aquecido de esperança, um calor que põe em movimento todo o meu corpo. Estas não são palavras de um dirigente, mas de um agricultor que viu a chuva cair depois de meses de Sol quente e Terra seca. As chuvas animam a esperança de salvar a plantação, motivam a preparar novas roças e asseguram que teremos comida sobre a mesa.
Certo dia li um texto de Ademar Bogo no qual ele afirma que nesses tempos quem mais sofre é a militância. Aquela afirmação martelou minha cabeça jovial e tive que concordar com ele, já que nós precisamos manter viva a esperança mesmo em meio ao caos e animar as massas. Li também que nós, militantes, devemos ser como fermento no bolo e que, como as flores, nosso dever é florir. Por isso, quero agradecer a todos os militantes, as militantes e todes militantes que floriram e fizeram as massas se agitarem, foram vocês que permitiram que eu hoje escrevesse essa carta.
Camaradas, companheiros, irmãs, a esperança ainda Resiste, ela ainda pulsa em cada coração de norte a sul deste país continente, da favela mais longínqua ao campo mais escondido. A esperança se põe de pé e espera que façamos o mesmo, fiquemos de pé com a altivez dos que sonham e lutam para construir. Fiquemos de pé porque quem está de joelhos não pode negociar e tão pouco fazer exigências. Essas não são palavras de efeito, as mãos que seguram essa caneta tem calos grossos de quem labuta na Terra e a cabeça que pensa teve que se esconder para não ser morta. Essas são palavras que buscam ser sementes que ao florir, enfeitarão o caminho por onde caminharemos triunfantes.
Escrevo para dizer aos que sonham com a revolução, com a superação do capitalismo, que você não está só! Temos uma grande tarefa, fazer essa mensagem chegar a mais corações, aquecer ainda mais lares onde a fome fez a esperança diminuir, precisamos hastearessa mensagem para falar aos povos originários que eles não estão sós e a luta para defendero território deles contará com nossos corpos. Essa mensagem de esperança precisa chegar emcada celular que as fakenews e a mentira chegaram e dizer: Você não está só! E só será livre junto e organizado.
Essa é uma carta para dizer aos meus irmãos e irmãs pretas que a escravidão é a parte menor de nossas histórias e nossos ancestrais nunca se curvaram. Somos descendentes de guerreiras e guerreiros, rainhas e reis, e por isso se curvar não é uma opção.
Aos que sonham e lutam, nada é impossível. Aos que apenas sonham, é preciso vir para as lutas para tornar-los realidade coletiva. Para todos que compartilham o meu sonho, não me julguem arrogante, tão pouco prepotente, esse sonho não é só meu e está sendo cultivado a várias mãos e corações. Sonho(amos) com uma mátria dos Povos, não há limites para quem sonha e se põe para construir. A esperança não virá dos que estão acima de nós! Ela precisa ser cultivada meio aos que lutam, adubada com a nossa prática. Precisamos, todos nós, sermos agricultores do mundo que vai brotar e ao trabalharmos com a realidade, nos convertemos em sementes que guardam toda a potência desse novo mundo. Como disse Che: será nova mulher e novo homem, a nova pessoa.
Encerro essa breve carta para dizer a todos que possam interessar: Aqui na Brigada Ojeffersson do MST a esperança está de pé e organizada para tornar real o sonho da Mátria dos Povos. Não podemos garantir conforto, luxo, para ninguém, mas esperança, terra para trabalhar e construir sua morada, e acima de tudo, muita luta para plantar e viver o mundo que acreditamos: a Mátria dos Povos.