No dia 26 de março, a Divisão de Comunicação da Teia dos Povos pegou a estrada e foi parar em Cachoeira, no Recôncavo Baiano, para registrar o início de um projeto muito relevante para o que temos tecido enquanto articulação de povos em luta. A cidade, cenário de grandes batalhas contra o domínio europeu sobre o Brasil, ambiente onde germinam e resistem a fé e a cultura do povo preto, é o lugar que abriga a Casa Ubuntu: Manifesto Preto. Uma iniciativa da Articulação de Mulheres do Engenho da Ponte, a Casa Ubuntu é um espaço de potencialização da produção agroecológica de comunidades tradicionais, dos movimentos culturais da juventude negra, do intenso debate sobre a questão racial neste país e no mundo, do diálogo entre mulheres que constroem o poder popular e também dos homens que estão afinados com esta luta.
A Casa, diga-se de passagem extremamente aconchegante, foi lançada em um evento que recebeu pelo menos uma centena de pessoas, entre elas lideranças quilombolas, representantes de organizações e movimentos sociais, artistas e comunicadores. O primeiro espaço de discussão aberto pela Casa Ubuntu aconteceu na Praça Maciel, onde começa a Feira Livre de Cachoeira. Sob a influência das águas de março, debaixo de um toldo, mulheres, homens e juventude dialogaram sobre as demandas das suas comunidades, dos seus movimentos, avanços e desafios cotidianos. Pessoas se conheceram, trocaram ideias, compartilharam dores e alegrias. Por fim, se reuniram em um recital poético e musical para celebrar a ocasião – isso após o compartilhamento de um banquete coletivo com pratos pertencentes à culinária tradicional de quilombos pesqueiros da região.
Mariscos e outros alimentos agroecológicos compuseram a mesa do encontro de lançamento da Casa Ubuntu. Comer em coletividade é festejar-nos (Foto: Divisão de Comunicação da Teia dos Povos)
A Ubuntu, desde o seu primeiro dia de atuação, afirma-se como um espaço autônomo, formativo, fortalecedor da arte e da criatividade. Erguido por muitas mãos que, em sintonia, organizarão as próximas atividades que ocorrerão nesse lugar que está disposto a receber não apenas os povos do Recôncavo, mas de toda a Bahia. O local funcionará também como uma sede de distribuição da produção das comunidades: artesanato, alimentos, acessórios e vestuário, inclusive da marca Quilombo Art’Moda, são alguns dos itens que podem ser adquiridos na Casa.
“Esse espaço tem o foco na formação, na troca, na partilha, no acolhimento e no cuidado. E, para além disso, também na escoação e no fomento das comunidades. Tanto as comunidades quilombolas, quanto as comunidades parceiras […] Entendemos que precisamos ser gestores da nossa produção, e só através de um espaço físico, um espaço desse, que vamos conseguir nos emancipar com justiça social”, explicou Mara Abade, liderança do Engenho da Ponte, militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), conselheira da Teia dos Povos, integrante da coordenação da Rede de Mulheres Negras da Bahia e uma das gestoras da Casa Ubuntu: Manifesto Preto.