Posted on: 3 de abril de 2021 Posted by: Teia dos Povos Comments: 0

*Publicado originalmente em Rádio Dengê Welat / ANF / Edição: Kurdistán América Latina

Murat Karayilan, membro do comité executivo do Partidos dos Trabalhadores do Kurdistão (PKK), falou sobre os temas atuais da região na Rádio Dengê Welat. Ao primeiro extrato da entrevista, publicado no dia 30 de março, agora somam-se estas novas declarações nas que se analisa a luta do povo kurdo no contexto da Terceira Guerra Mundial, com epicentro no Oriente Médio.

-Tem mudado a atitude do Partido Democrátido do Kurdistão (PDK, no norte do Iraque) para o Movimento de Libertação Kurda após a resistência em Garê? Existe algum diálogo entre vocês e o PDK?

-A vitória em Garê foi um sucesso para todo o povo kurdo, porque o inimigo queria atingir resultados ali e expandir seu domínio na região. Porém, falhou. Além disso, o Estado turco foi longe demais ao dizer que poderia conquistar qualquer lugar que quisesse e ninguém ia poder detê-lo. A derrota do exército turco enfrenta-se com vontade forte, seus soldados e meios tecnológicos não são tão fortes afinal. Isso ficou claro em Garê. É claro que isso também tem fortalecido a política kurda. O mesmo já tinha acontecido em 2008, quando na região de Zap o inimigo foi detido e a política kurda fortaleceu-se. O sucesso em Garê teve o mesmo papel. A resistência lá é benéfica para todas as partes, não só para os kurdos, mas para todas as forças da região. Todos embasam suas políticas na nova realidade criada em Garê e realizam mudanças em consequência. Estamos em um momento muito importante e sensível a respeito dos resultados obtidos em Garê.

Para responder sua pergunta: no momento não temos contatos com o PDK, dos quais seja relevante falar, mas este tema não trata somente de conversas e relacionamentos. É mais importante que todo mundo compreenda o ambiente criado. Acreditamos que alcançar-se-á grandes coisas nesse tema.

-Inclusive depois do chamado à unidade feito pelo seu movimento, o PDK continuou atacando áreas de guerrilha. O que isso significa?

-Em primeiro lugar, devemos compreender o momento em que nos encontramos. A gente enfrenta a Terceira Guerra Mundial, que se localiza no Oriente Médio. Esta guerra tem como objetivo mudar o sistema político do século XX e substituí-lo pelo sistema do século XXI. Como é bem sabido, os kurdos não temos cabimento no sistema do século XX. Com o Acordo de Lausana negou-se a existência e os direitos dos kurdos. É claro que nossa gente não ficou calada. Portanto, as guerras têm acontecido no Kurdistão durante cem anos. Têm-se derramado muito sangue e produzido incidentes muito trágicos. Nosso povo segue resistindo e hoje está à vanguarda.

A pregunta importante é se os kurdos terão cabimento no sistema poítico do século XXI. As forças que exploram o Kurdistão e o mantém sob ocupação realizam grandes esforços para evitar que isso ocorra. A República da Turquia encabeça essa estratégia.

Claro que não devemos permanecer passivos perante essa situação. Não é bom que os movimentos kurdos se retirem ao seu próprio canto e atuem sem uma estratégia. Como povo kurdo precisamos de uma estratégia comum e temos que fazer nossos esforços. Em caso que aconteça uma segunda Lausana não ficaria nada dos logros no sul de Kurdistão, em Rojava, nem em qualquer outro lugar.

O Acordo de Lausana tem uma vigência de cem anos. Em dois anos, ou seja, em 2021, perderá sua validez, segundo Erdogan. Ele, o primeiro ministro turco, já disse antes que não reconhece o Acordo. Agora seu partido faz congressos e prepara-se para uma nova era. Por quê? Porque quer voltar a ocupar as áreas nas fronteiras de Misak-i-Milli depois que expirar o Acordo de Lausana. É nessa direção que todos os preparativos atuais apontam. É um tema muito grande, com uma importância estratégica. Toda a política kurda deve pensar estrategicamente e agir com sensatez, consequentemente. Não devemos deixar nos restringir.

Isso não afeta somente aos kurdos. Os ataques de ocupação por parte do Estado turco também caussaram um grande dano aos povos árabes e cristãos da região. Tanto os kurdos como os demais povos devem prestar bastante atenção a essa situação e se comportar em consequência. Ninguém é permitido de lidar com a situação seguindo o lema “pequeno mas meu”. Essa é uma atitude incorreta. Não é o momento de tentar salvar pequenas coisas com uma compreensão política estreita. Trata-se da situação geral. Se só se pede coisas pequenas para si, pode-se perder tudo. Hoje estamos nesse momento. Por isso decidimos que todo mundo tem que interpretar corretamente os desenvolvimentos.

Você menciona os ataques. É verdade que tem acontecido alguns ataques. Por exemplo, no Newroz, aconteceu um ataque a uma pequena unidade nossa em Berdesor. É bom que o incidente não escapou das nossas mãos. Além disso, tem incidentes aqui e ali, como barricadas, mas olhamos o tempo com uma perspectiva mais ampla e queremos que todos os outros também façam o mesmo. Se a gente não atinge um pensamento integral neste tempo histórico, perderemos tudo. Os cálculos realizam-se em relação ao Kurdistão. Inclusive se não é possível estabelecer a unidade, os kurdos não podem ajudar ao inimigo e trabalhar uns contra os outros. Se a gente se unir, está bem. Se não chegamos isso, pelo menos não deveríamos brigar entre nós. Não deve existir um enfraquecimento mútuo. Isso é importante. Claro que seria muito melhor trabalhar juntos com uma estratégia comum durante este tempo.

Nesse ponto, gostaria de fazer um chamado a todos os partidos políticos, instituições e organizações do Kurdistão: lembrar este delicado momento. É um momento que afeta todos nós. Assumamos a responsabilidade de promover a unidade nacional. Todos devem se esforçar neste tema desde seu ponto de vista. Como PKK, lemos estes tempos dentro desse marco. Assumiremos nossa responsabilidade de fazer a nossa parte para o estabelecimento de uma política comum e de unidade nacional.

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