Ñande mbaraete´i katu
Pavê´i jupivegua´i
Ñamonhendu´i katu
Mborai javy´a awã
Vamos, sim, nos fortalecer
Todos juntos.
Vamos, sim, cantar nossos cantos
E ser felizes.
Nos momentos mais difíceis da caminhada, a fé e alegria Guarani se mostram fontes de uma força impressionante de luta. Resistente como as montanhas da Serra do Mar, profunda como o aquífero que leva o nome Guarani e simples como o sorriso das crianças que coroam com leveza cada momento de construção de uma tekoá em retomada.
Caminhando firmemente para retomar Yvy (a terra, o território) que havia sido grilada, maltratada e deteriorada pela sociedade “juruá” e fortalecer a floresta “ka’aguy” do litoral sul de São Paulo. Doze famílias da comunidade Nhanderekoá priorizam a construção de sua casa de reza “Opy”, e se articulam para conseguir os materiais e mão de obra. Na noite de 25 de agosto, em um encontro de fortalecimento – Nhemboaty – online, se reuniram lideranças indígenas Guarani das aldeias Nhanderekoá, Takua Ju Mirim e Jaexaa Porã, Terena da Erekua, além de grupos como o Fundo Mbya Rekó, o Coletivo Anarco Feminista Insubmissas (CAFI), o Coletivo Urbano de Apoio aos Povos Indígenas (CUAPI), o Coletivo Ação Libertária (CAL), a Comissão de Articulação dos Povos Indígenas de São Paulo (CAPISP) e aliades dos povos indígenas em luta e da agroecologia. Mais um bonito capítulo da aliança dos povos pela retomada de São Paulo, para que esse território volte a ser Piratyninga.
“A casa de reza é um espaço muito especial pra nós, onde estiver o Guarani Mbya, ele se fortalece através do Opy, onde a gente se reúne pra trazer a nossa força espiritual, dali que começa o conhecimento de respeitar o próximo porque é através do espírito que você tem conhecimento”. “É o ponto principal, onde a gente sempre faz o nosso canto, a nossa reza, a nossa concentração, a nossa busca espiritual, a nossa revelação”. A importância da espiritualidade na luta Guarani brilha em Ayvu, as falas firmes e tranquilas das lideranças.
Um pouco dessa revelação que inspirou a retomada do território foi compartilhada com o grupo presente, em narrativas de sonhos e cantos de fortalecimento. Ficaram marcadas a troca de apoio entre lideranças jovens de diferentes aldeias em retomada, o encorajamento recebido da liderança histórica da caminhada Guarani Mbya no litoral paulista presente, e as conversas e reflexões compartilhadas na língua materna guarani. A coragem da comunidade sustenta a luta frente às ameaças dos que se dizem donos da terra e às burocracias jurídicas, e a liderança é exercida com serenidade em meio a esses desafios. A militância e aliades presentes puderam se inspirar com a luta originária e rapidamente surgiram férteis caminhos de apoio através da presença no território, doação e transporte de importantes materiais de infraestrutura, troca de informações e conhecimento, além da articulação para os mutirões de construção e plantio.
Um grande guerreiro Mbya presente anunciou que “Ka’aguy (o espírito da floresta) pede socorro”, e as pessoas presentes puderam se fortalecer para trabalhar pela floresta em pé, pelo Bem Viver, pelo Nhanderekó (cosmovisão de harmonia entre os seres, a natureza e o planeta). Nosso encontro online foi muito diferente da tradição, em que se compartilha o petynguá (cachimbo), o mate e as rezas na Opy, mas Nhe’ē, o espírito Guarani, de luta e retomada, se fez presente. Novos tempos, novos capítulos de uma história milenar.
Agvyjevete pra quem luta!