Posted on: 4 de setembro de 2022 Posted by: Teia dos Povos de São Paulo Comments: 0

Ñande mbaraete´i katu

Pavê´i jupivegua´i

Ñamonhendu´i katu

Mborai javy´a awã

Vamos, sim, nos fortalecer

Todos juntos.

Vamos, sim, cantar nossos cantos

E ser felizes.

Início da retomada do Território Indígena Tekoa Nhanderekoá, no litoral sul de São Paulo, Itanhaém
Início da retomada do Território Indígena Tekoa Nhanderekoá, no litoral sul de São Paulo, Itanhaém

Nos momentos mais difíceis da caminhada, a fé e alegria Guarani se mostram fontes de uma força impressionante de luta. Resistente como as montanhas da Serra do Mar, profunda como o aquífero que leva o nome Guarani e simples como o sorriso das crianças que coroam com leveza cada momento de construção de uma tekoá em retomada. 

Caminhando firmemente para retomar Yvy (a terra, o território) que havia sido grilada, maltratada e deteriorada pela sociedade “juruá” e fortalecer a floresta “ka’aguy” do litoral sul de São Paulo. Doze famílias da comunidade Nhanderekoá priorizam a construção de sua casa de reza “Opy”, e se articulam para conseguir os materiais e mão de obra. Na noite de 25 de agosto, em um encontro de fortalecimento – Nhemboaty – online, se reuniram lideranças indígenas Guarani das aldeias Nhanderekoá, Takua Ju Mirim e Jaexaa Porã, Terena da Erekua, além de grupos como o Fundo Mbya Rekó, o Coletivo Anarco Feminista Insubmissas (CAFI), o Coletivo Urbano de Apoio aos Povos Indígenas (CUAPI), o Coletivo Ação Libertária (CAL), a Comissão de Articulação dos Povos Indígenas de São Paulo (CAPISP) e aliades dos povos indígenas em luta e da agroecologia. Mais um bonito capítulo da aliança dos povos pela retomada de São Paulo, para que esse território volte a ser Piratyninga.

Campanha de arrecadação para a retomada do TI Guarani Mbyá, Tekoa Nhanderekoá, no litoral sul de São Paulo, Itanhaém. Produção audiovisual da Teia dos Povos com o coletivo N.A.D.A.

“A casa de reza é um espaço muito especial pra nós, onde estiver o Guarani Mbya, ele se fortalece através do Opy, onde a gente se reúne pra trazer a nossa força espiritual, dali que começa o conhecimento de respeitar o próximo porque é através do espírito que você tem conhecimento”. “É o ponto principal, onde a gente sempre faz o nosso canto, a nossa reza, a nossa concentração, a nossa busca espiritual, a nossa revelação”. A importância da espiritualidade na luta Guarani brilha em Ayvu, as falas firmes e tranquilas das lideranças.

Um pouco dessa revelação que inspirou a retomada do território foi compartilhada com o grupo presente, em narrativas de sonhos e cantos de fortalecimento. Ficaram marcadas a troca de apoio entre lideranças jovens de diferentes aldeias em retomada, o encorajamento recebido da liderança histórica da caminhada Guarani Mbya no litoral paulista presente, e as conversas e reflexões compartilhadas na língua materna guarani. A coragem da comunidade sustenta a luta frente às ameaças dos que se dizem donos da terra e às burocracias jurídicas, e a liderança é exercida com serenidade em meio a esses desafios. A militância e aliades presentes puderam se inspirar com a luta originária e rapidamente surgiram férteis caminhos de apoio através da presença no território, doação e transporte de importantes materiais de infraestrutura, troca de informações e conhecimento, além da articulação para os mutirões de construção e plantio.

Um grande guerreiro Mbya presente anunciou que “Ka’aguy (o espírito da floresta) pede socorro”, e as pessoas presentes puderam se fortalecer para trabalhar pela floresta em pé, pelo Bem Viver, pelo Nhanderekó (cosmovisão de harmonia entre os seres, a natureza e o planeta). Nosso encontro online foi muito diferente da tradição, em que se compartilha o petynguá (cachimbo), o mate e as rezas na Opy, mas Nhe’ē, o espírito Guarani, de luta e retomada, se fez presente. Novos tempos, novos capítulos de uma história milenar.

Agvyjevete pra quem luta!

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