Acervo histórico pré-Teia dos Povos – Texto de 14/10/2012
A minha trajetória com a terra é a mesma com a liberdade, por que terra e liberdade são inseparáveis. Ganga Zumba o Zumbi e Kunt Kinte, são todos que me inspiraram e me deram sentido e lucidez para lutar pela terra. Venho duma família tanto do lado materno quanto paterno que lutaram para ter terra e liberdade, minha vô Joana e minha vô Isabel, mesmo depois que perderam seus maridos, não perderam o sonho de ter terra, e meu pai José Oliveira seguiu a mesma trajetória. Aos doze anos, no sul da Bahia, na Fazenda dos Mouras , meu pai já era contratista, e ao vender seu contrato junto com seus irmãos, queria realizar o sonho de ter terra, ele caminhou de Pau Brasil a Nova Alegria , município de Itamaraju [254 km de distância] simplesmente para ter terra, essa jornada a pé era feita quatro vezes por ano, só para ter terra e liberdade. Seguindo a mesma trajetória em 1980, fui a São Paulo, junto com os companheiros desempregados lutamos por liberdade. Em 1986, volto à Bahia escutando a musica de Elomar Figueira Mello – Pião de amarração. Decido que a única coisa que iria garantir a liberdade era a terra. Em dezembro de 1987, depois de ler o Jornal Sem Terra, aumenta ainda mais a certeza de lutar pela terra. Em março de 1988, ocupamos a Fazenda Bela Vista (Itamaraju – BA), e ali começava minha trajetória no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, e iniciava minha luta contra o latifúndio. Preso varias vezes, mas não desisti, fiz parte da direção estadual, da coordenação nacional e da direção nacional. Em 2000, Me converti em militante da agroecologia. Em 2006, abandonei todos os cargos da direção e decidir me silenciar e me auto exilar no Assentamento Terra Vista para estudar e praticar a agroecologia. Hoje o Assentamento está se tornando uma referência em agroecologia.
Seguindo as lições dos grandes mestres: nunca provocar guerra e sempre fugir da guerra, porque a guerra é cruel e todos perdem, mas chega um tempo que é inevitável fugir da guerra porque não se tem alternativa e nem pra onde ir, então os grandes mestres também ensinou: “Não faça guerra, se defenda da guerra”. E como agora não tenho escolha, irei defender a liberdade, a Terra Vista, as famílias e todos aqueles que acreditam na liberdade, não ficarei omisso, nem fugirei, nem abandonarei meus ideais, meu povo e minha historia. Sei que a liberdade é utopia, e quantos já morreram por essa utopia, pela terra, pela justiça e dignidade. Não posso sentir medo nem tão pouco fugir a nenhum enfretamento porque sei que não é por ódio, nem rancor, nem tampouco por poder, só quero ter o direito de morar, plantar e de cuidar da Terra Vista. Todo esse tempo em silencio foi e será para preservar o MST, por que sei que os nossos inimigos são: O capitalismo e o latifúndio, que roubam a nossa terra e liberdade, mas se não tiver alternativa, defenderei Terra Vista daqueles que estão equivocados ou talvez perderam os seus ideais, por que a terra para nós é a mãe, e como mãe, merece cuidado, respeito e amor. Espero que as lideranças do MST, não caiam nessa loucura de querer tirar homens, mulheres, crianças e companheiros que deram suas vidas pelo MST, e pela liberdade. Certo das minhas convicções, comunista que sou, doarei a minha própria vida para garantir esses ideais, como disse o poeta: Liberdade sem terra não existe, a nossa terra é boa, nossos sonhos são bem maiores. “Pátria livre, igualitária e socialista, povo liberto e feliz”.
“Não me renderei a nenhum falso deus e nem tão pouco a nenhum que se diz dono do MST, por que o MST é de todos aqueles que lutam pela terra e liberdade”. Convoco a todos militantes que acreditam na terra e na liberdade para que se junte a nós para lutar e sonhar para que todos tenham terra e liberdade no Brasil.
Joelson Ferreira
Militante do MST
14 de outubro de 2012