Posted on: 3 de abril de 2018 Posted by: Teia dos Povos Comments: 0
II Marcha Tupinambá

Cerca de 200 pessoas participaram da II Marcha de solidariedade da Teia dos Povos com o Povo Tupinambá, que teve seu inicio com o deslocamento do Município de São José da Vitória até a Serra do Padeiro, em Buerarema, foram cerca de 15 km de caminhada. Trabalhadores e trabalhadoras sem terra, quilombolas, indígenas, estudantes, militantes de diversos movimentos sociais, pastorais sociais da Igreja Católica, movimentos juvenis, antropólogos se fizeram presentes. A Marcha começou com a concentração dos participantes e ritual dos povos indígenas na Praça Central da cidade de São José e seguiu em direção a Serra, com os participantes entoando cantos e palavras de ordem.

Concentração Pre-Marcha na Praça Central, São José da Vitoria

A Marcha tem como objetivo principal prestar solidariedade ao povo Tupinambá na sua justa e digna luta pela reconquista e garantia de suas terras, bem como proporcionar trocas de saberes e intercambiar experiências no campo da agroecologia e o fortalecimento da “Unidade das lutas” entre movimentos do campo e da cidade, mediante entendimento que a questão indígena não é um problema dos índios, mas de todo o povo brasileiro.

A Marcha também tem o objetivo de aumentar a visibilidade da Teia dos Povos nacionalmente e celebrar a mais recente conquista do Povo Tupinambá no Supremo Tribunal de Justiça no dia 14 de setembro, 2016. “Por dez votos a zero, os ministros da 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) derrubaram em Brasília (DF) o mandado de segurança preventivo que impedia o Ministério da Justiça de publicar o relatório circunstanciado de demarcação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença, no sul da Bahia.”

Ritual Pataxó Hã-ha-hãe antes da saída

Vale lembrar que a Marcha é uma consequência natural de solidariedade entre os povos, pactuada a partir das Jornadas e Trechos de Agroecologia que acontecem desde 2012 no Sul da Bahia. Nesse contexto o que está em jogo é a defesa das terras sagradas Tupinambá, bem como de outros povos originários do sul e extremo sul da Bahia e o enfrentamento à criminalização e militarização dessa situação onde o Estado brasileiro e a mídia tem responsabilidades diretas. A primeira Marcha de solidariedade com o Povo Tupinambá foi realizada no período de 14 e 16 de março de 2014,em uma clima bastante diferente desta. Daquela em vez, ao contrário desta, não estávamos celebrado uma vitória como esta conquista pelos Tupinambá no STJ. Apesar da alegria que reinava na Serra, aliás, um que é uma constante por ali, um fato destoante desta alegria eram os constantes e rasantes vôos de um helicóptero do exercito brasileiro, sobre a Aldeia. Que vinham ocorrendo desde quando foi emitido um dispositivo intitulado GLO (Garantia da Lei e da Ordem) acionado pelo governador do estado Jacques Wagner, e assinado pela presidente Dilma Roussef, reforçando ainda mais à ocupação militar de um território indígena já reconhecido pelo próprio estado brasileiro.

Roda de Conversa em volta da fogueira

A noite em volta da fogueira sagrada da Serra houve um “Diálogos dos Povos”, relatos de lutas, sonhos, desafios, expectativas. O cacique Babau deu as boas vindas para todos e todas e iniciou o dialogo com uma rica e profunda reflexão, que foram sendo aprofundadas por outras com a mesma intensidade, acompanhadas por uma escuta respeitosa e mística de todos os presentes, iluminadas pelas chamas da fogueira sagrada.

No dia 24 durante todo o dia aconteceu uma grande reunião das “Mulheres da Teia” tendo entre seus objetivos: levantar as ações auto-organizadas pelas mulheres da cada comunidade da Teia dos Povos, criar uma comissão das Mulheres da Teia, e construir a agenda coletiva das mulheres da Teia dos Povos. Em paralelo foi realizado um “Terreiro Lúdico” com as crianças. Os jovens se reuniram para discutirem algumas articulações.

No dia 25 bem cedinho a comitiva continuou sua marcha, em direção a Olivença onde se somaram na XVI Caminhada dos Mártires Tupinambá, momento em que os Tupinambá relembram as diversas batalhas na defesa e garantia de seu território ao longo destes 516 anos de resistência, em especial a “Batalha dos Nadadores” ocorrida em 1536 e a luta do Caboclo Marcelino na década de 40 em defesa de sua terra.

Mística de Abertura – Reunião das Mulheres da Teia dos Povos

Outro grupo de Marchadores foi até Itacaré, para participarem do XV Caruru de Ibeiji e as Pedagoginas. Uma celebração cultural dedicada à infância e à construção de uma cultura anti-racista. O Caruru de Ibeji se tornou a celebração que incorporou: a permanente disposição à pesquisa oral através do contato, vivência e intercâmbio com Mestres e Mestras; espaços específicos de rodas de conversa e seminários para ampliação e trocas de conhecimento; oficinas diversas dos fazeres afro brasileiro brasileiros que permitam por exemplo, compreender a dimensão do tambor lendo e ouvindo sobre ele, mas também, aprendendo a tecnologia de fazer um tambor: escolher a madeira, preparar o couro e fazer a amarração, discutir sustentabilidade ambiental, musicalizando o tambor, vivenciando uma batucada com mestres.

Nestes 15 anos de realização deste evento-celebração, os realizadores optaram pelo debate acerca da vida e da proteção às meninas pretas , com o tema “‘‘Badjudas’’ e ‘‘Novinhas’’: as imagens da menina preta” (saiba mais sobre o tema visitando a Página da Casa do Boneco de Itacaré )

 

Veja mais sobre a cobertura da Marcha da Teia dos Povos em março, 2014  

 

 

Texto por Haroldo do CIMI

Fotos por Hanna Dejode e Carlos Alberto (Boby)

 

 

 

 

 

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