Posted on: 21 de maio de 2024 Posted by: Teia dos Povos Comments: 3

Núcleos e Elos da Teia dos Povos se unem para a primeira construção da Jornada na capital baiana. A perspectiva é ampliar a bianual assembleia de povos tradicionais e movimentos sociais em luta no Brasil para um maior número de participantes.

*Por Coletivo de Comunicação da Teia dos Povos

Estamos nas aldeias, nos assentamentos, nos quilombos, nos fundos e fechos de pasto, nas beiras dos rios e dos mares, enfim, nos mais diversos territórios espalhados pelos mais variados biomas e regiões, mas também, e muito numerosamente, vivemos nos grandes centros urbanos, principalmente nas periferias das grandes cidades. Somos uma Teia, portanto múltiplas comunidades, povos e territórios que confluem na direção da luta pela liberdade para todas e todos, combatendo a expansão do latifúndio no campo e o agravamento da violência anti-povos empreendida pelo Estado e seu braço armado na urbanidade. 

Neste 2024, estabelecemos como um desafio coletivo, em uma perspectiva solidária, aportar em Salvador, capital baiana, para tecer um ajuntamento em torno da construção da VIII Jornada de Agroecologia da Bahia, que acontecerá em janeiro de 2025 com o tema “Aliança Campo e Cidade Para o Combate À Fome e À Pobreza”. Uma assembleia de povos tradicionais e movimentos sociais em luta por Terra e Território, a Jornada é, ao mesmo passo, celebração de culturas e fortalecimento de alianças comunitárias. 

Na conjuntura em que se acentuam tanto os ataques às aldeias e comunidades quilombolas, quanto o genocídio do povo preto sob a prerrogativa da guerra às drogas; fortalece-se o racismo e a xenofobia em todo o planeta, com o crescimento de movimentos antimigratórios e a evidência de políticos de extrema-direita; genocídio do povo palestino em Gaza; elevação das taxas de fome e miséria; catástrofes climáticas – respostas da Mãe Terra às imposições do modo de produção e acúmulo neoliberal; registros de escravidão contemporânea em diversas partes do mundo, inclusive fortemente no Brasil e na Bahia; devemos estar unidas e unidos, cidade e campo, favela e roça, mata e águas, na mesma direção e sentido: consquistar a autonomia e a soberania dos povos. O Capital está em crise, precisamos compor formas de contrapor o seu projeto de morte e extermínio. 

Primeira capital fundada pelos invasores europeus no território que viria a ser chamado Brasil, Salvador foi o palco de muitas revoltas contra o poder colonial. Deste lugar, emergiram as corajosas e corajosos Malês – a quem reverenciamos em nome da ancestral Luísa Mahin -, que se rebelaram contra as correntes e marcharam nas ruas convocando o povo africano em diáspora para o combate. Anos antes, nas batalhas pela Independência da Bahia, tropas portuguesas passaram maus bocados, sendo expulsos, sem trégua, pelos povos pretos e indígenas que habitavam a Baía-de-Todos-os-Santos. Salve Maria Felipa, Salve Caboclas e Caboclos!

Em 2017, os Núcleos de Base e Elos da Teia dos Povos se uniam em um momento parecido como este, para a grande celebração de mais uma Jornada de Agroecologia, mas em outra quadra histórica: os colonialistas comemoravam 517 anos da invasão de Pindorama no exato momento em que nós reafirmamos a guerra pela derrubada do império e contra a hegemonia do capital. No entanto, este acordo não estaria completo se não demarcássemos Salvador como Território Preto, Índigena e Popular, tanto para vingar os Parentes que aqui estavam antes da desgraça da usurpação europeia e os povos de África que foram sequestrados e trazidos, primeiramente, aos portos baianos, quanto para consolidar as organizações que, neste tempo, tece lutas pela dignidade da nossa gente.

Temos visto e vivenciado o aperto e o caos das grandes cidades. Afastado dos Territórios, tendo seus antepassados sido roubados ou expulsos da Terra, o nosso povo segue se esgueirando para cima, nos morros, submetido às mais trágicas e insalubres condições de sobrevivência, muitas vezes sem comida e sem água, vendo os seus filhos ceifados por um Estado que não apenas não lhes oferece as ferramentas de libertação, mas cuida de tomar-lhes as vidas de forma cruel e impiedosa. Estamos convocando, justamente, esse povo para se ajuntar à grande batalha. Precisamos retornar a Terra, onde poderemos plantar comida saudável para alimentar nossos rebentos, respirar o ar puro que nos foi roubado pelas Caravelas, e desatar as correntes da miséria. Queremos tecer formas de compor vida, e vida com abundância, vida com plenitude!

Este é um chamamento a todos os povos, organizações, coletivos, movimentos e comunidades! Sem unidade, é impossível derrotar o capital, o latifúndio, o império e as forças repressoras do Estado. Somente juntas e juntos poderemos tornar real aquilo que os nossos ancestrais sonharam: virar este mundo em Festa, Trabalho e Pão! Vamos para a VIII Jornada de Agroecologia da Bahia!

Diga aos povos que avancem! Avançaremos!

O que nos une é maior que o que nos separa!

Em memória de Nêga Pataxó, nenhum passo atrás!

3 People reacted on this

  1. Boa tarde!
    Sou de uma comunidade de terreiro que tem projetos de apoio em economia sólida, gostaria de participar dessa Jornada, como posso contribuir?

  2. Olá, bom dia, gostaria de estar presente neste evento, tão necessário aos povos originários, construindo discussões, fazendo trocas, e fortalecendo o movimento. É preciso fazer alguma inscrição prévia?
    Abraços de luta e força.
    Soraia.

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