Posted on: 16 de julho de 2021 Posted by: Tinkamo Comments: 0

Por Teia dos Povos em Luta no RS

O dia 30 de junho foi marcado por manifestações em todas as regiões do Brasil, atendendo ao chamado do Levante pela Terra. Nesse dia seria votada a tese do Marco Temporal no Supremo Tribunal Federal. Junto a outras medidas como o PL 490, os povos originários e seus territórios estão sendo seriamente atacados. É a sua sobrevivência e a de toda a diversidade da vida que está em jogo. Essa ofensiva não é de hoje, vem lá dos primórdios da colonização e da fundação do que chamam de Brasil, mas se intensifica nesse cenário de genocídio explícito. Em resposta a esses ataques, os povos originários se organizaram e articularam. Marchas, atos, ocupações de sedes da FUNAI, barricadas e fechamentos de rodovias foram realizados no país todo. Com a pressão, o julgamento do Marco Temporal foi adiado para agosto. Trata-se de uma velha manobra do poder de ir cansando os movimentos, sendo que centenas de lideranças indígenas de vários povos e regiões estavam acampadas há mais de mês em Brasília. Postergar o julgamento é uma tentativa de esfriar a mobilização. Mas, longe de cair na armadilha do cansaço, os povos originários afirmam que voltarão em maior número e com mais força em finais de agosto para uma nova mobilização em Brasília.

Vejam aqui uma breve resenha da mobilização do dia 30 de junho no RS:

Em Santa Maria, Indígenas, camponeses, povo preto e periferia da cidade se uniram contra a PL490 e o Marco Temporal. Na tarde do dia 30 de junho, no centro da cidade de Santa Maria, o povo Mbya Guaraní da Tekoa Guaviraty Porã, articulado pela Teia dos Povos em Luta no RS fez um chamado para a resistência e luta pela terra e pela vida. Com apresentações da cultura Mbya, gritos de ordem e cartazes a luta ancestral se fez presente trancando ruas e avenidas da cidade. Acreditamos que com solidariedade e rebeldia nossa aliança Preta, Indígena, Campesina e Popular podemos enfrentar o Estado genocida.

Contra o Marco Temporal, Nossa Luta é Ancestral! Ha’evete! E seguimos na Luta!

Em Maquiné, uma Marcha histórica aconteceu nas ruas de Maquiné no dia 30. Pela primeira vez a nação Mbya Guarani tomou as ruas de Maquiné, pequeno munícipio do litoral norte do Rio Grande do Sul. André Benites, cacique da aldeia Ka’aguy Porã (Mata Sagrada) conta que foi histórico: a primeira marcha Mbya que já ocorreu nessa região do estado. Também estiveram à frente do ato as aldeias Guyrá Nhendú (Som dos Pássaros) e Yvyty Porã (Montanha Sagrada) de Maquiné, e Nhu Porã (Campo Bonito), de Torres.

Diversas coletividades apoiadoras e parceiras se somaram à organização da marcha, mobilizadas pela Rede UneMaquiné. Dessa rede formou-se uma Frente de Lutas local para seguir articulando em torno de pautas comuns. A Teia dos Povos em Luta no Rio Grande do Sul também esteve presente: duas das aldeias Mbya de Maquiné e outras coletividades da região fazem parte dessa iniciativa que surge para conectar os territórios em torno do que têm em comum e fortalecer suas lutas. Cultivando o bem viver, reexistindo contra qualquer tipo de exploração.

A marcha partiu da Ka’aguy Porã e seguiu pela rodovia estadual até o centro de Maquiné. Desde o começo os cantos estiveram presentes. Organizadoras e organizadores fecharam o trânsito para a marcha poder passar, com suas palavras, cantos e cartazes, e distribuíram panfletos explicativos.

Muito alimento foi arrecadado para a chegada da marcha na praça da igreja. Fez-se uma grande roda onde compartilhou-se o alimento, o canto, a dança, a luta, a vida. Crianças, jovens e velhos, homens, mulheres e outres, cachimbo, fumaça, mbaepu (violão Guarani), maracá. Para finalizar, algumas falas sobre o que estava em jogo e o significado desse momento, primeiro em guarani, depois em português. E mais cantos. É necessário ir tecendo cada vez mais teias para fortalecer a luta, acender mais foguinhos pra aquecer a reexistência. Continuaremos fazendo nossas rodas, e mais rodas em torno dessas rodas, conectando muitos círculos para seguir defendendo a vida.

No norte do Rio Grande do Sul, em Iraí, nós Kaingang, nos juntamos em mais de 700 pessoas, de 6 aldeias diferentes, além de nossos parceiros, para trancar a BR- 386 em protesto contra o Marco Temporal e a PL 490. Com faixas, rituais, cantos e danças dizemos aos poderosos que nossa história não começa em 1988! Nossa luta se fez com sangue e suor, a colonização, o Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e a ditadura militar massacraram nossos antepassados. Muitos deles morreram na conquista dos nossos direitos à terra e à cultura previstos na Constituição de 1988. Apesar de nunca serem totalmente respeitados, nossos direitos constitucionais são o respaldo jurídico que nos protege na lei. E hoje, além das balas, o governo usa a caneta como o instrumento do genocídio, essa caneta vai matar milhares de indígenas se não reacionamos! Por isso, nós trancamos a estrada dando um recado para o poder judiciário: Nós povos indígenas, não vamos nos calar. Não deixaremos passar a boiada. A nossa luta não vai parar, em agosto voltaremos com uma mobilização maior! Lutaremos até o último indígena vivo! Aproveitamos para chamar a solidariedade dos parceiros dos indígenas para nos apoiar nessa luta pela vida e pelas florestas! A luta indígena é a luta de todos!

Em Porto Alegre, com outras comunidades Kaingang, Charrua, Guarani e Xokleng, povos aqui do sul, nós da retomada Konhún Mág em Canela, nos reunimos para lutar contra o Marco Temporal e a PL 490 que vem a liberar a entrada de empresas, garimpos e outros projetos que prejudicam os povos indígenas nas suas terras. Os povos indígenas pensam em preservar e proteger a natureza, então nós, protegendo nossos territórios, impedimos essas empresas de destruírem as florestas. No retorno de Brasília, no dia 23 de junho, sabíamos que era importante fortalecermos nossas comunidades. A força e a coragem são nossos guias, e nesse dia 30 de junho, descemos a Porto Alegre para mostrar nossa força, nossa realidade. Aqui em Konhún Mág, o Marco Temporal nos bate de frente, além disso temos de lutar contra a privatização da FLONA para proteger nosso território ancestral. A gente pediu ao nosso Tupẽ que nos acompanhe e que nos desse força e coragem para seguir firmes nessa nossa luta. A votação do Marco Temporal foi adiada até agosto, então nós temos mais tempo de preparação até lá, mais fortalecimento das nossas culturas para impedir todos esses projetos de leis que estão tramitando. Esse governo de hoje é o único que nem sequer recebeu os povos indígenas para um debate, isso reflete tudo o que estamos vivendo agora. Nesse dia 30, o Brasil parou, em vários lugares, os parentes indígenas trancaram estradas com um mesmo objetivo: defender nossos territórios. Mandamos um único recado: Lutaremos até o fim!

Todas as fotos de Porto Alegre são de autoria de Alass Derivas!

Ouça o áudio do companheiro Merong Kamakã sobre a mobilização dos Kaingang em Florianópolis

Ainda, em Caxias do Sul, uma faixa foi estendida em solidariedade com os povos originários e contra o agronegócio.

Em Pelotas também uma ação em solidariedade com os povos indígenas foi realizada, veja o vídeo

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