Posted on: 9 de julho de 2021 Posted by: Tinkamo Comments: 0

Por Teia dos Povos em Luta no Rio Grande do Sul

Na língua Guarani existe um termo que define tanto o que é bonito quanto o que é bom e sagrado. Esse termo é porã, que está presente no nome que as famílias mbya guarani deram para o território de mata atlântica retomada no município de Maquiné. Ka’aguy Porã, que significa mata sadia, boa e sagrada, onde o teko porã – bem viver Guarani – é possível, em suas dimensões materiais, espirituais e culturais.

Neste território, entre essas matas belas foram plantados pés de mandioca, ou mandi’o. Perto do solstício de inverno de 2021 começaram a serem colhidos com apoio do território Junana, e transportados e distribuidos para muitas pessoas e organizações através de uma rede de elos da Teia dos Povos em Luta no RS.

Colheita pela manhã na retomada Mbya Guarani Ka’aguy Porã em Maquiné (RS)
O Mandi’o é um alimento ancestral cultivado a milhares de anos no Yvyrupa, território Guarani em que se construíram parte do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai
A colheita da mandi’o ocorreu com a ajuda dos jovens da Ka’aguy Porã em Maquiné

A partir dessas conexões, a mandioca plantada pelos Mbyá-Guarani da tekoá Ka’aguy Porã chegou também à quem precisa. Foram enviados 70kg para o coletivo Mães da Periferia, que trabalha com a comunidade do Morro Santana. Outra parte, quase 20kg foi para a feitura de pães especiais nas mãos de moradores de rua no Clube de Pães Amada Massa. Em Viamão, o CEBB – Caminho do Meio adquiriu cerca de 50kg para seus moradores, auxiliando também com o transporte. A Rede Solidária São Leopoldo, que distribui cestas básicas ficou com 75kgs. Foram também 15kg para um grupo de indígenas Warao venezuelanos refugiados em POA. Além disso, perto de 130kg chegaram em apoiadores e amigos da retomada, fortalecendo uma rede que se constitui ao redor desse território e outros conectados com a Teia dos Povos no RS.

Quase 20kg foi para a feitura de pães especiais nas mãos de moradores de rua no Clube de Pães Amada Massa, fortalecendo essa e outras iniciativa de economia solidária

Entrega de cestas solidarias para as ocupações do rio dos sinos a partir da Rede Solidária de São Leopoldo com o aipim colhido na retomada de Ka’aguy Porã

Algumas semanas depois, foi vez de uma articulação parecida ocorrer em Santa Maria, apoiando a tekoá Guaviraty Porã, mais uma vez juntando indígenas em seus territórios com outros territórios e elos para movimentar cerca de 400kg de mandioca, parte adquirida por apoiadores e outra doada para a Comunitária do bairro Cipriano da Rocha. A partir da Teia dos Povos em Luta no RS, os territórios Ocupação Vila Resistência e Guandu Grupo Agroecologico construíram junto a comunidade M’bya Guaraní uma campanha para a compra dos aipim produzidos na aldeia. Tal como em Ka’aguy Porã, os Mbyá de Santa Maria precisavam limpar a terra para novas plantações, como o avaxi eté – milho tradicional guarani. Tanto o avaxi como a mandi’o são heranças culturais dos povos indígenas de Yvyrupá, o grande território Guarani, legados ancestrais preciosos e importantes para termos acesso ao tebi’u porã eté, alimento bom e verdadeiro.

Unindo as demandas dos Mbyá com a rede de apoiadores que buscam um alimento agroecológico e os centenas de kgs de mandioca colhidos, fez-se um movimento que favorece todas as partes envolvidas. Porém é apenas o começo. Essa movimentação permitiu vislumbrar um caminho para a Teia dos Povos em Luta no RS, em que se fortaleça os territórios que vivem suas culturas tradicionais, em uma aliança Preta, Indígena e Popular.

Um caminho bom, um tape porã.

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