Por: Divisão de Comunicação da Teia dos Povos*
Entre os dias 28 e 30 de julho, aconteceu, no quilombo Engenho da Ponte, em Cachoeira, no Recôncavo Baiano, o VIII Encontro de Mulheres Negras e Quilombolas e da VII Feira da Diversidade. O encontro, evento incluído no calendário do Julho das Pretas, é puxado pela Articulação de Mulheres Negras no Quilombo Engenho da Ponte e teve a presença e contribuição na construção de diversos núcleos de base e elos da Teia dos Povos, bem como representações do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP) e de outros movimentos, organizações e instituições ligadas ao pequeno agricultor e à luta das mulheres pretas.
É importante lembrar que, em 2023, no 2 de julho, celebra-se os 200 anos da Independência do Brasil na Bahia. Cachoeira e do recôncavo foram cenários de importantes e decisivas batalhas desse momento histórico. De territórios dessa região surg lideranças quilombolas e indígenas que lutaram pela libertação contra as forças coloniais portuguesas.
Iniciada sempre com um ritual conduzido pelos povos e comunidades presentes, no caso, povos indígenas, pescadoras artesanais e marisqueiras, pretas e quilombolas, povos de terreiro, sem-teto e assentadas, a programação do evento contou com mesas de debate e rodas de conversa, formações políticas, apresentações culturais, reuniões de avaliação e elaboração da carta do Encontro. No evento, discutiu-se principalmente os enfrentamentos das lutas das mulheres negras na atualidade e destacou-se a história da Articulação de Mulheres Negras no Quilombo Engenho da Ponte (AMNQEP).
Após o ritual de abertura, na manhã de sábado (29), em um grande círculo, lideranças espirituais, camponesas, indígenas, professoras universitárias e da educação básica, artistas, ativistas comunitárias, militantes de organizações políticas e movimentos sociais, representantes do poder público (prefeita, vice-prefeita, vereadores e desembargadora) fizeram falas de abertura.
Na sequência da manhã foram discutidos temas centrais para a luta dos povos, como territorialidade, a importância do fortalecimento de organizações pela autonomia das mulheres, a grave ausência do estado no que diz respeito às políticas públicas nas comunidades, o combate à violência contra as mulheres e a efetividade das políticas de reparação histórica.
O almoço coletivo foi preparado com ingredientes nativos e agroecológicos, como os mariscos extraídos pelos quilombolas e hortaliças plantadas no Engenho da Ponte. A plenária foi reaberta com o objetivo de ampliar comunicações sobre tópicos como educação e tecimento de unidade entre os povos. Ao longo do dia e especialmente no início da noite, aconteceram as apresentações da Esmola Cantada de São Roque, do Samba de Roda Raiz do Boqueirão e do grupo cultural Raízes do Ébano.
Na manhã de domingo (30) o encontro teve como foco análises de conjuntura e diálogos sobre as demandas dos movimentos e comunidades no contexto baiano. Os diálogos passaram por entender os desafios enfrentados pelas mulheres no presente momento, o papel do Estado na ausência de incentivo e defesa de territórios e da agricultura agroecológica familiar, e quais deverão ser os próximos passos para a construção de soberanias, como a alimentar e a hídrica.
Para fechar mais uma edição do Encontro de Mulheres Negras e Quilombolas do Engenho da Ponte, os movimentos, articulações e organizações falaram sobre as suas agendas, no sentido de construir um calendário de lutas – o que inclui as Pré-Jornadas de Agroecologia da Teia dos Povos, que acontecerão nos próximos meses em diversos territórios da Bahia. Envolvidas e envolvidos em uma ciranda, cantando em louvor aos rios que banham as muitas regiões baianas e brasileiras, a programação foi encerrada, com o compromisso firmado coletivamente de desde já tecer esforços para a construção das próximas atividades.
Veja imagens do evento na galeria a seguir: