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“Teve um tempo que nós para viver precisamos nos calar,
e, hoje, nós para viver precisamos falar”.
(Pajé Luiz Caboclo)
A trajetória política dos Povos e Comunidades Tradicionais do Ceará e do Brasil é marcada por intensos processos organizativos de lutas e resistências, frente às investidas orquestradas há mais de 500 anos pelos colonizadores. As diversas estratégias utilizadas pelos povos originários, quilombolas, povo negro, pescadores/as artesanais, povo cigano, da periferia, de religião de matriz africana, artesãos e artesãs, marisqueiras, pequenos agricultores/as e demais povos do campo, são provas do enfrentamento contra as constantes invasões dos seus territórios por agentes externos, apoiado e financiado pelos governos para impor suas políticas desenvolvimentistas, promotoras de violações de direitos humanos e racismo ambiental. Com isso, essas lutas têm mostrado que a união dos povos do campo e da cidade, através de algumas experiências de alianças contra os inimigos comuns a todas, todes e todos, resultou em importantes avanços para demarcar a luta por território e pela autonomia política, econômica, alimentar, energética e hídrica no Brasil e no Mundo.
O enfrentamento realizado por esses/as lutadores/as do povo, excluídos das decisões sobre as suas vidas, repercutem, negativamente na atualidade, com intensos processos de criminalização, assassinato de lideranças do povo e injustiça ambiental. O que requer uma articulação a nível estadual, nacional e internacional que possa dar visibilidade as ameaças econômicas e projetos de mortes que insistem em avançar nas comunidades tradicionais e territórios do bem viver, promovendo divisão dos comunitários e instalando conflito interno. Prática utilizada pelo homem branco e colonizador há mais de 500 anos, ‘dividir para conquistar ou dividir para dominar.
Neste sentido, nós povos do campo e da cidade, organizados em diferentes movimentos sociais, propomos a união de nossas forças, saberes e modos de fazer, na construção da Teia dos Povos do Ceará. Articulação pluricultural, pautada no respeito à diversidade dos povos, na defesa da autodemarcação e regularização fundiária dos territórios tradicionais, na luta pela moradia adequada e na agroecologia; respeitando as lutas identitárias da cidade e do campo; construindo políticas públicas afirmativas de educação contextualizada; combatendo e denunciando o racismo ambiental que recai fortemente em territórios de maioria negra e indígena.
Esta carta-convite segue aos diferentes povos históricos de comunidades e territórios tradicionais do campo e da periferia das cidades, para somar na construção da Teia dos Povos do Ceará. O chamado está sendo lançado e aguardamos o retorno positivo para nos aquilombarmos e celebrarmos nossa vitória dançando uma grande ciranda e toré.
Ceará/Nordeste – Brasil, Abril de 2021.
Confira a leitura da Carta-Convite por companheiros em luta no Ceará