Demos o segundo passo!
Com a permissão de nossas guias e com a benção dos ancestrais, nos reunimos em Santa Maria (RS) entre os dias 19 e 20 de março de 2022 no primeiro encontro presencial dessa articulação que entra na cena política pra fortalecer e avançar a luta por terra e território de povos pretos, indígenas e campesinos, comunidades urbanas, entre tantos e tantas outras.
Não à toa escolhemos essa data, 17 de abril, para lançar nossa carta. É um dia que marca a luta pela terra, de rememorar o massacre de Eldorado dos Carajás, que ocorreu no sul do Pará em 1996. Honramos as 19 guerreiras e guerreiros que foram assassinadas pela força armada do Estado na sua luta coletiva por terra e território. Clamamos por justiça, denunciamos a impunidade e seguimos na certeza de que nossa luta é a mesma. Que o sangue derramado possa nutrir a terra para que as sementes ancestrais da rebeldia, da agroecologia, da autonomia, do bem viver e do apoio mútuo germinem, reflorestem e se multipliquem.
Inspirada em tantas lutas passadas e presentes, a Jornada de Agroecologia aconteceu na Tekoá Guaviraty Porã, território vizinho ao assentamento Carlos Mariguella e o grupo Guandu, que a princípio receberia o encontro mas aceitou a parceria da vizinhança Mbya Guarani para melhor acolher tanta gente. Na vizinhança também está a Ocupação Vila Resistência, outro território co-anfitrião do evento.
Assim fomos nos achegando movidas por uma grande necessidade de compartilhar experiências de luta e agroecologia para solucionar problemas graves da vida dos povos e comunidades, como a fome que ameaça a vida dos pobres e o ecocídio que ameaça parentes humanos e não humanos, colocando em risco todo o ecossistema terrestre.
O encontro foi autogestionário desde muito antes do seu início. Nos organizamos em grupos de autogestão pra dar conta das tarefas primárias, como cozinha, limpeza, comunicação, ciranda e infraestrutura, garantindo assim os momentos de troca e atividades da programação.
A Jornada de Agroecologia reuniu territórios indígenas, quilombolas, de assentamento, agricultura familiar e coletiva, ocupações por moradia, grupos agroecológicos, coletivos autônomos, estudantes e gente de luta.
O grande desafio para o próximo período é seguirmos agrupando núcleos de base e fortalecendo a Teia pelas regiões do estado através das lutas e pautas locais, criando atividades de agroecologia, construindo autonomias que possibilitem o avanço na luta territorial dos povos contra o agronegócio e compartilhando nossas sementes e nossos diferentes entendimentos de como bem habitar esse planeta e caminhar nele.
A luta é por retomada não só de terras, mas de nossas sementes, nossa ancestralidade, nossos saberes, nossas maneiras de nos organizar, de ser e estar no mundo – um mundo em que as diferentes culturas possam viver em harmonia entre si e com todos os seres, sem latifúndios e monoculturas.
Saímos da Jornada com o coração aquecido e as esperanças renovadas. Seguiremos tecendo caminhos de vida boa, agroecologia e rebeldia para que possamos nos reunir novamente – esperamos que da próxima vez sem as implicações limitantes da pandemia, num encontro muito maior com muito mais gentes de luta, suas trajetórias e seus saberes. Até lá, que possamos fortalecer e multiplicar nossas lutas, estreitar nossos laços na construção dessa tão necessária aliança.
Que viva a Teia dos Povos em Luta no Rio Grande do Sul! Que viva a agroecologia!
[…] dissemos na Carta da I Jornada de Agroecologia da Teia RS, o grande desafio para o próximo período é seguirmos agrupando núcleos de base e fortalecendo a […]
[…] dissemos na Carta da I Jornada de Agroecologia da Teia RS, o grande desafio para o próximo período é seguirmos agrupando núcleos de base e fortalecendo a […]