Posted on: 27 de fevereiro de 2023 Posted by: Teia dos Povos Comments: 0

15 de fevereiro, Conceição de Salinas

“Não tenho medo da tempestade que se aproxima.
Mesmo o trovão dos canhões dos inimigos não me assustam
Pois vi a Liberdade decepada brotar em forma de juventude
Eram flores lindas que coloriam as ruas
Entendi que não mais o medo habita o coração
Entendi que pra cada patrão mais de milhões se erguerão
Que da barriga vazia da criança nasce a força da guerrilha cheia de esperança
Que do corpo da mulher oprimida se erguem barricadas na avenida
Não tenho medo das batalhas que se avizinham
Mesmo o barulho dos fuzis inimigos não me assustam
Pois a Justiça roubada foi resgatada nos gritos da juventude
Eram vozes doces e firmes que falavam ao mundo de agora o futuro que virá
Entendi que pra cada latifúndio milhões de sem-terra se erguerão
Que pra cada julgamento pela cor
O povo de Zumbi valente quebrará as correntes
que pra cada chão indígena roubado Sepé Tiaraju
retornará com seu exército sagrado
Não tenho medo do império que esmaga a Paz
Mesmo as máquinas assassinas dos donos do mundo não me assustam
Pois eu vi no calor dos abraços e na alegria de viver
Uma juventude que se recusa a morrer
Pronta para a batalha em breve ficará
Então o medo cairá sobre os opressores
A revolução vai triunfar
A criança vai brincar
O ser humano vai amar
O mundo se erguerá
A história vai mudar
E o povo?
Esse é quem vai governar!
Pátria Livre, Venceremos!”

(Anderson Barreto, Levantes da resistência)


Com as bênçãos e licença da ancestralidade e espiritualidade, seguindo os passos e conselhos de nossos mais velhos e mais velhas, e em resposta aos nossos próprios pedidos por mais espaço, durante a última Jornada de Agroecologia da Bahia, é que nós, juventude articulada na Teia dos Povos, iniciamos agora nossa Jornada rumo a uma maior centralidade em nossas lutas e processos, enquanto povos, territórios, movimentos e organizações.

Nos atentando ao chamado do Tempo, numa visão de circularidade, é que, comemoramos os 10 anos da Teia dos Povos, buscando nutrir e cuidar de nossos mais velhos, assim como nos nutriram e cuidaram nesses anos. Entendendo, também, o chamado das águas é que tomamos este movimento no território pesqueiro e quilombola de Conceição de Salinas, firmado nas águas de Yemanjá, Kayala, Dandalunda, Oxum e dos encantados das águas, águas pelas quais passam todo nascimento, físico e espiritual, e das quais buscamos a energia da renovação, fertilidade e clareza.

Juntos e juntas a nossos mais velhos e mais velhas construímos essa Jornada de Agroecologia procurando ter maior atuação nos processos de autonomia e bem viver nos nossos territórios, dividindo com eles o protagonismo dessa construção. Além disso, incentivados pela confiança dos mestres e mestras, e, também, entendendo nosso lugar enquanto juventude, nos propusemos a fazer, pela primeira vez em uma Jornada de Agroecologia, um espaço auto-organizado da juventude, no qual pudemos entender nossas dinâmicas enquanto grupo e pautar nossas reflexões e aprendizados.

Acreditamos que alcançaremos a materialidade do bem viver à medida que cada um se permitir conectar com a essencialidade da vida e do sagrado que existe em cada um de nós. Por isso, queremos aqui reforçar nosso compromisso, que aceitamos ao receber das mãos de Mestre Joelson e Mestra Maya a espada de Ogum, em ajudar a carregar a responsabilidade de nossas lutas , organizar os núcleos, as pré-jornadas e assumir a tarefa principal que é combater a fome e a miséria no país. Nos comprometemos também em nos manter atentos à espiritualidade, a nos manter organizados e superar as diferenças com amor e solidariedade entre nós. Entendemos que nosso caminho é no miúdo, território a território, pessoa a pessoa, e por isso vamos, também, nos cuidar, nos fortalecer, nos ouvir e nos acolher, além de buscar fazer o mesmo e atuar na
formação de nossas crianças.

Assim, convocamos toda a juventude para as seguintes tarefas:
● Contribuir na organização da juventude em todos territórios, seja no
campo, nas águas, manguezais e matas, cidade, ruas, avenidas, becos e
vielas;
● Realizar as Pré-Jornadas, com o objetivo de fortalecer a ação comunitária
e construir a VIII Jornada de Agroecologia da Bahia a partir dos
territórios;
● Fortalecer o processo de construção da Soberania Alimentar, para juntes
combatermos a fome e a miséria em nosso País;
● Fazer acontecer o Grande Encontro das Juventudes da Teia dos Povos.

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