Posted on: 8 de março de 2023 Posted by: michele Comments: 0

Nos encontramos entre mulheres indígenas, negras, kilombolas, Xokleng, Mbya Guarani, Kaingang, afrobudígenas, agroecologistas, espiritualistas, trabalhadoras, rebeldes e em luta pela vida. O primeiro dia do Encontro, em que tecemos essa carta, aconteceu na Retomada Gãh Ré, resistência Kaingang no Morro Santana conduzida pela liderança espiritual e política Gah Té, Iracema Kaingang, conselheira da Teia dos Povos no Rio Grande do Sul. A retomada é fruto da autodemarcação e fica em plena cidade de Porto Alegre, defendendo o pouco de mata que resta, enfrentando o poder do capital, do concreto e da especulação imobiliária, e coloca em prática o autorreconhecimento do direito de bem existir do povo Kaingang e de todos os povos.

Enquanto mulheres organizadas na Teia dos Povos no RS, em meio à nossa diversidade, chegamos a acordos, a partir do que temos em comum, e deixamos alguns indicativos para as mulheres e para a Teia dos Povos RS para seguirmos tecendo a partir desse Encontro:

  • Criação da Frente de Mulheres da Teia dos Povos em Luta no RS;
  • Fomentar a construção da Frente de Mulheres da Teia, em caráter nacional, reunindo mulheres das diversas Teias, como proposto pelas mulheres da Teia do Povos em Pernambuco;
  • Criação e fortalecimento de iniciativas de educação autônomas nos territórios, compreendendo o caráter emancipatório da educação à medida em que podemos narrar nossas próprias histórias;
  • Combate ativo à violência contra mulher, construindo maneiras autônomas de monitorar, acompanhar e, se preciso, intervir;
  • Criação da Teinha – espaço que inclua as crianças durante os encontros, sem ser algo apartado, contribuindo inclusive com propostas;
  • Escuta empática como base das nossas estratégias: não inibir as falas, ter abertura e flexibilidade nas rodas de conversa e abertura pra manifestação da espiritualidade;
  • Eleger um elemento simbólico que consagre o encontro, e entrega desse objeto de poder do Encontro para o território onde o próximo será sediado, que deverá ser zelado;
  • Que famílias, comunidades organizações e redes garantam as condições para que as mulheres possam exercer cargos de liderança;
  • Repúdio à situação de racismo e trabalho escravo em Caxias do Sul, que acontece por toda parte e em diversos setores produtivos. Precisamos pensar criticamente toda a cadeia de produção e construir autonomia para que esse tipo de produção não siga escravizando e destruindo, bem como fortalecer iniciativas de consumo consciente, que zelem pela terra e que ofereçam condições dignas de trabalho. É preciso responsabilizar esse projeto de sociedade colonialista, capitalista e patriarcal e exigir outra atitude: só isso vai fazer com que as coisas mudem;
  • Fortalecimento de redes e espaços de cuidado nos encontros, e compartilhamento de medicinas e sabedorias ancestrais e populares;
  • Compromisso da branquitude (caras-pálidas) com o aspecto anti-racista da luta por terra e território, compreendendo as camadas que nos compõem enquanto mulheres.

O que nos une é maior do que o que nos separa, e juntas somos mais fortes!

Seguimos tecendo Bem Viver.

Retomada Gãh Ré, Morro Santana, Porto Alegre

04 de março de 2023

Frente de Mulheres da Teia dos Povos em Luta no RS

Retomada Gãh Ré – Porto Alegre (RS)

Kujá Gah Té Iracema Nascimento – Porto Alegre (RS)

Cacica Cullung Veitchá Teie – São Francisco de Paula (RS)

Retomada Xokleng Konglui – São Francisco de Paula (RS) 

Morada da Paz – Território de Mãe Preta CoMPaz – Triunfo (RS)

Kilombo Coxilha Negra – São Lourenço do Sul (RS)

Ocupação Vila Resistência – Santa Maria (RS)

Assentamento Carlos Marighela – Santa Maria (RS)

Yalorixá Mãe Patty de Oxum – Porto Alegre (RS) 

Retomada Mbya Guarani Ka’aguy Porã – Maquiné (RS)

Horta Vó Maria – Canoas (RS)

Território Junana – Maquiné (RS)

Território Okupado dos Mil Povos – Porto Alegre (RS)

Retomada Kaingang Kogúnh Mág – Canela (RS)

Ateneu Libertário A Batalha da Várzea – Porto Alegre (RS)

Imagem: Amallia Brandolff

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