Posted on: 1 de outubro de 2020 Posted by: arkx Brasil Comments: 0

A Velha Guarda de Manguinhos é raiz! É resistência! Construindo sua história para fazer a diferença.

Bom dia, meu nome é Darcília.

Primeiramente eu quero parabenizar o povo do MST pelo trabalho social realizado, principalmente neste momento de pandemia.

Eu moro em Manguinhos e trabalho no CAPS (Centro de Atenção Psico-social), onde se trata de pessoas com transtorno mental.

Este CAPS é uma unidade conquistada pela comunidade de Manguinhos, na qual eu participo num conselho representando as mulheres.

Manguinhos tem um grupo de ativistas que luta muito pelas causas sociais. Ultimamente estou fazendo parte da Velha Guarda de Manguinhos, que também participa dessas atividades.

Falar da pandemia, falar da quarentena em Manguinhos é uma questão muito complexa, porque aqui é um território conflagrado.

As pessoas em Manguinhos vivem diariamente, o ano inteiro, com a presença da morte. Manguinhos tem uma incidência muito grande de doenças altamente contagiosas. Tuberculose, sífilis…

E quando acontece a pandemia, em Manguinhos é meio difícil para as pessoas entenderem o que está acontecendo.

Eu participo dos movimentos. Mas em relação a pandemia eu fiquei um pouco afastada, porque pertenço ao grupo de risco e não podia participar de muita coisa.

E descobri a dificuldade. A desigualdade social interfere nas ações, porque dentro das comunidades é muito complicado você fazer um trabalho, principalmente com as pessoas dentro de casa.

A dificuldade com a tecnologia. Uma grande dificuldade, pessoas se comunicarem. Muitos não tem Internet. A questão também dos celulares, que muitas vezes não funcionam e as pessoas ficam isoladas.

Uma outra grande dificuldade também que aconteceu dentro do território foi a dos testes. Perdemos conhecidos, vieram a óbitos com o coronavírus. Mais muitos não conseguiram certificar se era COVID, porque de início era muito difícil o teste.

Foi um grande gargalo dentro dessa quarentena, porque as pessoas tinham um dificuldade tremenda. Não havia teste durante um bom tempo. Não teve teste para toda a população.

Eu continuo afastada. Auxiliei de casa relacionando nomes de pacientes, de onde eu trabalho, para a distribuição de cestas básicas.

Distribuição de cestas básicas

Foi feito um trabalho bastante interessante no território em relação à cesta básica. Muitos grupos se reuniram. E conseguiram fazer um trabalho solidário com cesta básica e produtos de limpeza para a comunidade.

A Velha Guarda participou dessas atividades. Eu consegui de casa dar nomes, de pessoas carentes que eu conheço dentro da comunidade.

Nesse momento o vírus ainda continua, a pandemia continua.

A grande dificuldade também é a questão da máscara, porque as pessoas não aderem. Não é hábito. Elas  não tem essa consciência, por mais que se faça divulgação da necessidade de usar a máscara. Poucas pessoas usam máscara.

Neste momento, a comunidade está normal. As pessoas não tem conhecimento. Há pessoas que nem acreditam que esse vírus aconteceu.

Acho que é da vulnerabilidade do lugar, de ver tantas coisas tristes durante o ano inteiro.

Na comunidade hoje, não só aqui, nas outras comunidades também, as pessoas estão saindo, estão vivendo. Mas o vírus continua.

Continuo há seis meses afastada do trabalho. Porque como eu trabalho na área de saúde, eu dependo de me liberarem para poder estar na ativa.

Eu gostaria de deixar bem claro essa questão da tecnologia, o quanto é difícil.

Ao lado de onde eu trabalho tem uma instituição, que é a Casa do Trabalhador. O coordenador me relatou que esteve fechada durante um bom tempo. No momento eles abriram só para atender 15, 20 pessoas.

As pessoas perderam o emprego. E para dar entrada no seguro desemprego, a maioria não consegue. Porque tudo é on-line, tudo tem que ser pela Internet.

Essa pandemia veio para demonstrar o quanto é desigual a nossa sociedade. O quanto o pobre, o morador de comunidade que não tem o menor esclarecimento, a menor consciência, perde nesses tempos difíceis.

É isso!

Darcília Alves

integrante da Velha Guarda de Manguinhos.

Dia 04/10/2020,  Domingo, às 10horas, nós da Velha Guarda de Manguinhos, junto com os companheiros e companheiras, do Centro Cultural Otávio Brandão, estaremos entregando cestas básicas, às famílias, que já estão cadastradas.

Após a entrega das cestas básicas, faremos uma reunião com o percussionista Cláudio Jorge (popular Repolho), e o Marcelo Dias, do Movimento Negro Unificado Nacional, para organizamos, em nossa quadra, o Viradão Cultural Suburbano.

Também estará presente, o arquiteto Fernando Bonini, que vai fazer um projeto específico para o Centro de Cultura e Memória da Velha Guarda de Manguinhos.

Todos os membros que estiverem disponíveis, favor comparecer de máscara.

A Velha Guarda de Manguinhos é raiz! É resistência! Construindo sua história para fazer a diferença.

Todos lá !!!!

Pela Diretoria Coletiva.
Cesar Gomes

Presidente da Velha Guarda de Manguinho

vídeo:

 


sobre os Diários da Pandemia:

  • Embora seja tb um trabalho jornalístico, se propõe a muito além disto.
  • Tem como objetivo principal tecer uma rede de comunicação entre as diversas lutas localizadas.
  • De modo a circular as experiências, para serem reciprocamente conhecidas numa retro-alimentação de auto-fortalecimento.
  • Não se trata de tão somente produzir matérias, e sim tornar as matérias instrumento para divulgar conteúdo capaz de impulsionar os movimentos.
  • Em suma: colocar a comunicação a serviço das lutas concretas.

acesse a série completa aqui neste link

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