O Projeto
Voltado para as populações indígenas do Amazonas, na região da Tríplice Fronteira Norte (Brasil, Colômbia e Peru), o Projeto AGROVIDA NAÃNE ARÜ MA’Ü – TERRA E VIDA se baseia na agroecologia conforme praticada pelos anciões indígenas.
Seu foco principal é o fortalecimento das cadeias produtivas ligadas à agricultura familiar e ao extrativismo de forma sustentável, de modo a restabelecer a soberania alimentar das comunidades indígenas, consolidando sua autonomia e auto-determinação.
Objetiva também geração de renda e desarraigamento do alto índice de consumo de alimento industrializado, causa de sérios problemas de saúde à população indígena.
As ações do projeto só acontecem quando temos parcerias, apoio ou doações. Nosso maior desafio é chegar nas aldeias mais vulneráveis. E o nosso maior lucro é a construção do bem comum (bem viver) dos povos indígenas.
Coordenadores do Projeto: Josiane Otaviano Guilherme Ticuna e Ronnivon Gomes Gonçalves Kambeba
Órgão/parceiro apoiador: Coordenação Regional do Alto e Médio Solimões / Fundação Nacional do Índio – Tabatinga
Aldeias beneficiadas (2016/2018):
– Aldeia Guanabara – Ticuna III (Benjamin Constant):
– Aldeia Nova Canaã – Ticuna (Benjamin Constant):
– Aldeia Bugaio – Ticuna, Ko kama e Kambeba (Jutaí):
– Aldeia Vendaval – Ticuna (São Paulo de Olivença);
– Aldeia Santa Rosa – Takana Ticuna (Tabatinga):
– Aldeia Tupy III – Kambeba, Ticuna e Kaixana (São Paulo de Olivença):
– Aldeia Nova Itália – Ticuna – AMATURA:
– Aldeia Muriá Kokama – Kaixana e Ticuna (Tocantins):
– Aldeia Pau Pixuna – MadjáKulina (Médio Solimões / Juruá).
Atividades Executadas:
– Roça sem queima (ajuri);
– Sistema de captação de água da chuva;
– Banheiro ecológico;
– Horta orgânica;
– Culinária Indígena;
– Palestras: Segurança alimentar, Território, Educação, Drogas e Alcoolismo, Saúde, Saneamento Básico, Auto sustentabilidade, Arte e Cultura, Empoderamento das Lideranças Comunitárias e Familiar;
O Sistema de captação de água da chuva, para ajudar o povo indígena a ter acesso a água no uso doméstico e até mesmo para beber. Pois a água do rio, igarapé, mesmo que sirvam para beber não lhes garantem que sejam 100% potável, devido a poluição dos dejetos deixados no meio ambiente que descem para os rios nos lençóis freáticos no subsolo.
O Banheiro ecológico (seco), que tem a finalidade de orientar, os povos indígenas, a preservar o meio ambiente, sem ter a necessidade de poluir o rio e os igarapés, tendo acesso digno ao saneamento básico de forma ecológica. Proporciona reciclagem do material orgânico com a produção de húmus permitindo a reutilização do material como composto orgânico. É possível minimizar 70% dos índices de diarreia e outras doenças intestinais, causado pela ingestão de águas contaminadas existentes nas localidades que atingem sobretudos crianças e idosos.
A Horta orgânica, coletiva ou individual, cultivada nas comunidades indígenas, que na comunidade de Muria e Tocantins a escola passou a trabalhar com as crianças de 5ª a 8ª serie.
O Resgate da culinária nativa, uma vez que o conhecimento indígena está morrendo, caindo no esquecimento todos os seus costumes. Trocando os seus alimentos tradicionais como peixe, banana, macaxeira, farinha, milho, que são alimentos nutritivos, por alimentos industrializados (frango congelado, enlatados, calabresa, salsicha, etc.). Ou seja, resgatar tudo que foi ensinado pelos ancestrais indígenas, a maneira de fazer suas comidas típicas; mojica, pupeca, moqueado, assar peixe, etc.
As atividades envolvem a realização de “aulas vivas”, que tradicionalmente conhecemos por “ajurí”.
Busca-se erradicar o sistema de roça com queima, isso porque empobrece o solo, e faz com que as famílias usem a roça apenas uma vez, levando-os a derrubar a floresta primária (virgem) todos os anos.
A experiência da alternativa da roça sem queima é um trabalho que já vem sendo desenvolvido em algumas comunidades indígenas do município de Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Tocantins, Jutaí e Juruá, trazendo resultados positivos.
Pois essa prática não se limita na simples construção da “roça”, dentro desse contexto essa atividade é uma “ponte” de acesso que dá possibilidade de unir os povos indígenas e trabalhar políticas de fortalecimento e desenvolvimento.
Situação atual:
Quando a pandemia chegou aqui no interior do Amazonas, em especial em Benjamin Constant, na região do Alto Solimões, no começo nós não tivemos apoio.
Então a gente, o grupo de mulheres e pessoas preocupadas com a saúde da população indígena, nós nos reunimos, nos organizamos. Fizemos a barreira sanitária.
Depois com muita discussão, com muita insistência, conseguimos apoio com a Prefeitura Municipal local. Foi nesse exato momento que a SESAI (Secretaria Especial de Saúde Indígena) e a FUNAI se deram conta de que a gente precisava de apoio. Mas o apoio chegou muito tarde. Muitas pessoas acabaram se contaminando.
A nossa situação aqui na região do Alto Solimões, nesse exato momento, estamos vivendo novamente o pesadelo.
Não tem mais barreiras sanitárias. Nem a Prefeitura se preocupa, nem a SESAI, nem a FUNAI…
Está todo mundo se contaminando. Apesar disso liberaram pra que as pessoas pudessem comprar, para que o comércio abrisse. Não estão mais tomando qualquer medida cautelar para evitar a contaminação.
A cada dia que passa, mais e mais pessoas estão sendo positivadas aqui na nossa região.
Além de tudo, o Projeto AgroVida de Agroecologia é um projeto que traz saúde. É um projeto que está preocupado com o bem estar da população.
Assim eu fiquei basicamente de mãos atadas, porque eu não pude entrar nas comunidades. Não pude fazer nada porque não tive apoio nenhum. De nada! Não tive apoio nem para transporte, nem com a questão logística.
Por esse motivo o projeto está parado, até hoje…
Eu trabalho não só com a questão da agroecologia em si. É um projeto que abrange muitas coisas. Educação, saúde, demarcação de terra, meio ambiente, discute com a questão do aquecimento global, discute a questão da preocupação com o planeta.
E também a questão da valorização e do resgate da cultura. Do resgate de como se cultivava a terra antigamente, do modo Ticuna, do modo indígena.
Então assim, infelizmente eu estou sem condições de incentivar a prática da agricultura, que é muito importante nesse atual cenário, nesse cenário tão crítico.
E muitas poucas pessoas se preocupam, porque para elas tanto faz morrerem 20, 50 indígenas. Elas não se importam.
Isso para mim é muito preocupante, vivendo essa realidade aqui na região do Alto Solimões.
O projeto já fez muita coisa boa nas comunidades. Tanto é que algumas comunidades estão colocando em prática, sempre me mandam fotos.
Hortas orgânicas que estão produzindo, das roças sem queima, do sistema de captação de água, que foi uma das alternativas que a gente levou para as comunidades onde não tem água.
O banheiro seco, o banheiro ecológico, uma forma de evitar a contaminação do solo e da água que eles bebem do rio e do igarapé.
Então esse projeto ajudou muito, apesar de ter recebido pouco apoio. Eu pretendo ampliar esse projeto para alcançar outras comunidades, que estão lá longe, distantes, esquecidas.
Onde acabam chegando pessoas com outras intenções. Onde também a ausência do poder público é notável.
O projeto tem sido um grande incentivador dos direitos indígenas. Fez também com que as mulheres indígenas tivessem voz e pudessem ser ouvidas. Elas são as que mais praticam a agroecologia na cultura indígena.
vídeo:
Josi Ticuna
Antropóloga e coordenadora
do Projeto AGROVIDA NAÃNE ARÜ MA’Ü – TERRA E VIDA.
sobre os Diários da Pandemia:
- Embora seja tb um trabalho jornalístico, se propõe a muito além disto.
- Tem como objetivo principal tecer uma rede de comunicação entre as diversas lutas localizadas.
- De modo a circular as experiências, para serem reciprocamente conhecidas numa retro-alimentação de auto-fortalecimento.
- Não se trata de tão somente produzir matérias, e sim tornar as matérias instrumento para divulgar conteúdo capaz de impulsionar os movimentos.
- Em suma: colocar a comunicação a serviço das lutas concretas.