Posted on: 17 de janeiro de 2021 Posted by: arkx Brasil Comments: 2

A Teia de Solidariedade Zona Oeste (RJ) é uma articulação política de Coletivas, Coletivos e Instituições, gestada e gerida por mulheres pretas e periféricas e que visa diminuir a vulnerabilidade das famílias impactadas pela pandemia através da ação emergencial em saúde articulada à luta pela assistência social, a moradia popular e a soberania alimentar como direitos.
Atua nos bairros de Campo Grande, Bangu, Santa Cruz, Sepetiba, Pedra de Guaratiba, Vargens, Quilombo do Camorim, Recreio e Jacarepaguá.

A Zona Oeste do Rio de Janeiro concentra a maioria da população da cidade, abriga um dos bairros mais populosos do Brasil. Ao mesmo tempo concentra também os piores IDH da capital fluminense.
Assim, alguns coletivos da ZO se uniram para a construção de uma Teia de Solidariedade.

A Teia de Solidariedade Zona Oeste (RJ) é composta por:

Coletiva Popular de Mulheres da ZO, Instituto de Formação Humana e Educação Popular, Coletivo Piracema, Coletiva das Caboclas, Mulheres de Pedra, União Coletiva Pela ZO, Fundação Angélica Goulart, Plano Popular das Vargens.

Parcerias: Criola, Instituto Pacs, International Women Space, 8M Berlin, campanha Rio contra o Corona


“É grito. É choro. Angústia uterina de quem semeia a criação.
É clamor de moça, mulher e menina que diz NÃO!
Não ao delírio de uma nação.
Porque o tempo é agora. É tempo de dizer: Mulherada, vamos embora!
Olhar para dentro de nossa humanidade, de nossa comunidade.
Aquilombar-se!
Levantar as mangas e plantar as árvores.
Se necessário, ajoelhar-se. Para erguer outras mulheres.”
Alice Franco


Vídeo: A poesia da solidariedade na entrega de alimentação saudável

A Teia te convida a trilhar o caminho da Zona Oeste da cidade, esse Quilombo “que a gente vive, planta, luta, ama, escreve”.


“Essas trilhas que os nossos ancestrais deixaram, é por elas que a gente tem que seguir!”
Saney Souza


Damos mais um passo à frente e nenhum para trás!

Em conjunto com o assentamento Terra Prometida do MST, na Feira da Reforma Agrária Cícero Guedes, parceria que muito nos orgulha, estaremos juntos, juntas e juntes em duas feiras agroecológicas na nossa região, em Campo Grande e Vargem Grande.

As cestas agroecológicas distribuídas pela Teia também vêm desse caminho, que vai dar no Sítio da Dona Marta e do Gaúcho, dois grandes parceiros de luta.

Na contramão da políticas que perpetuam a nossa morte, a Teia vai buscar no nosso quintal a possibilidade de uma vida compartilhada, permeada pela solidariedade e pelo afeto.

A Zona Oeste não tem um dono.
A Zona Oeste segue a dialogar.
Força, acalanto, fé.
Pessoas que ousam sonhar.
Passos firmes no asfalto
.

Mãos na terra, corpo no mar.
União popular é meta.
Da festa se faz insurgência.⁣
A comida chegou no prato
.

Alimento sem veneno é luta
Das mulheres do extremo oeste da cidade⁣
Tecendo teia de solidariedade!⁣
Para todas nós!!

Saney Souza

A atuação da Teia conta com uma poderosa equipe de articuladoras voluntárias que arriscam-se nos territórios para garantir a distribuição de alimentos às famílias que mais necessitam.

Partimos dessa realidade para propor para um olhar retinto sobre a saúde sustentando-se na noção de que o autocuidado e o exercício de cuidar de quem cuida são também demandas políticas centrais em nossa luta.

A Teia vem conectar você com os saberes tradicionais da nossa região. A nossa sobrevivência passa pelo reconhecimento das nossas raízes, das nossas ervas, que há muito já eram de grande ajuda aos nossos ancestrais.

Assim, elaboramos um kit de saúde e autocuidado baseado no conhecimento ancestral, na produção e no trabalho desenvolvido por mulheres, principalmente mulheres pretas, nos quintais produtivos, quilombos e favelas da Zona Oeste.

Kits de saúde e autocuidado:

100ml de Xarope
10ml de própolis
200ml de sabonete líquido
1 pomada
1 pacote com ervas secas para chás
2 mudas para chá
1 escalda pés
1 creme de massagem
1 caderninho com receitas para xarope e uso das ervas

Ancestralidade que cura
Alice Franco

Peço licença e agradeço aos ancestrais por trazer tanta sabedoria até nós.
Macera o fruto da terra aquele que tem cheiro forte também cura dizia a minha bisavó a minha avó, com voz segura, o que ouviu de sua mãe, que aprendeu do pajé;
No punhado de erva se leva também um bucado de fé. O Sunu no Egito já tratava com emplastros de babosa e lá se vão milhares de anos de cuidados e de boa prosa.
O padre José de Anchieta ensinava o uso do óleo-de-copaíba em todos os lugares.
E aí, porque não falar das rezadeiras que com arnica curam maus olhares?
E assim foram usadas por todo povo de todo lugar nossa ciência das ervas teve como se enraizar na tradição de que aprende e tem prazer de ensinar.


Outro desejo é criar uma horta comunitária em cada lugar de atuação da Teia.
Os voluntários entendem que, tendo conhecimentos sobre saúde, alimentos e agricultura, os moradores envolvidos poderão comer melhor e tirar seu sustento do próprio quintal.


Sarah Rubia, Maria Bonfim, Maria do Céu Simões e Thayana Faskomy

Saindo da caverna: Pensando tempo e espaço

Eu parei de me preocupar com as horas, dias e meses, eu não sei quanto tempo cronológico estamos em pandemia.
Custei a entender que tínhamos todo tempo do mundo, e que do meu espaço eu poderia interagir com outros espaços.
Me disseram que eu precisava observar minha respiração, até que um dia que ela ficou curta.

Dona Lourdes não estava por perto, o tempo dela acabou. Os livros sobre ervas medicinais ficaram, repletos de anotações, textos grifados que só ela poderia interpretar.
Maria do Céu mandou um xarope com uma mensagem:
“Com o tempo as coisas se ajeitam, confie!”

E eu tenho mais tempo.

Tenho tempo para entender o que é comércio justo.
Tenho tempo para entender a lógica de uma feira online
Tenho tempo para entender economia solidária pela lógica de agricultores que nunca estudaram economia mas que fazem mais sentido para o desenvolvimento local.
Tenho tempo para conhecer pessoas que não estão conectadas a uma rede de internet
Tenho tempo de aprender sobre culturas e tradições que me levam a refletir sobre quem me tornei e sobre o tipo de ser humano que quero continuar sendo.
Tenho tempo para aprender sobre linguagem não violenta.

E durante esse espaço de tempo eu vi a desigualdade gritar a minha volta.
Eu compartilhei meu tempo com a distribuição de cestas básicas.
Participei de intermináveis reuniões enquanto cadastrava uma lista de nomes quase que infinita de pessoas em vulnerabilidade alimentar.

Eu vi a casa dessas pessoas, eu chorei.
Eu vi um espaço onde não era possível pensar isolamento social, crianças sem espaço brincado na rua.

Uma criança me pergunta:
– Tia, o coronavírus já foi embora? A gente já pode sair?

Casas sem ventilação, que se juntam, que parecem cavernas.
Cesta básica era o mínimo a ser feito por essas pessoas.

Pessoas buscando conhecimento ancestral. Ervas medicinais, pancs.
Pessoas querendo banir agrotóxico de suas vidas.
Pessoas observando mais a natureza.
Pessoas encantadas com o canto dos pássaros.
Pessoas observando o pôr do sol e todo o seu encanto.

Pessoas trancadas em seus condomínios. Como se fosse possível impedir a entrada de um vírus.
Como se fosse possível controlar a circulação de um vírus numa cidade com tamanha discrepância urbanística.

Onde mora o porteiro? Onde mora o entregador do delivery?
Eu vi a escravidão voltar em acordos trabalhistas injustos.
Eu vi Miguel morrer.

Tudo tem seu tempo, tempo de semear, tempo de germinar, tempo de crescer, tempo de florescer, tempo de frutificar.

Eu entendi a importância do estar juntos, ser floresta. Num vendaval o que mantém uma árvore intacta são outras árvores e vegetações. O que mantém o solo fértil é a diversidade delas.

Eu me pergunto novamente.
Há quanto tempo estou vivenciando essa realidade?
E se na verdade o que acreditamos ser a entrada da caverna tenha sido a saída?
E se o meu normal fosse uma caverna que me impossibilitava ver com clareza a discrepância além dele?

Eu não consigo mensurar o tempo em que vivi tudo isso, eu não tenho como mensurar os espaços que ocupei, eu sei que foram muitos e a maioria deles, desconheço a dimensão.
Virtual e físico se embaralham.

Sarah Rúbia – Vargem Grande

Sílvia Baptista
Integrante da Teia de Solidariedade Zona Oeste (RJ)

Sarah Rúbia

Integrante da Teia de Solidariedade Zona Oeste (RJ)


sobre os Diários da Pandemia:

  • Embora seja tb um trabalho jornalístico, se propõe a muito além disto.
  • Tem como objetivo principal tecer uma rede de comunicação entre as diversas lutas localizadas.
  • De modo a circular as experiências, para serem reciprocamente conhecidas numa retro-alimentação de auto-fortalecimento.
  • Não se trata de tão somente produzir matérias, e sim tornar as matérias instrumento para divulgar conteúdo capaz de impulsionar os movimentos.
  • Em suma: colocar a comunicação a serviço das lutas concretas.

acesse a série completa aqui neste link

2 People reacted on this

  1. Boa noite. Sou de campo grande e estou interessado, buscando com dificuldade na verdade ajuda do projeto defensoria em ação nas favelas e descobri que é a teia de solidariedade da zona oeste que articula esse projeto. Por favor podem me auxiliar a acessar esse projeto??
    Mauro Lima
    mauroconexaog@gmail.com
    980506896

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