Posted on: 8 de dezembro de 2022 Posted by: Teia dos Povos de São Paulo Comments: 0

No dia 13 de novembro a Teia dos Povos de SP esteve presente na EMEF. Des. Amorim Lima para participar da XII Feira Anarquista de São Paulo. O evento contou com a participação de coletivos e organizações do estado de São Paulo e outras regiões que conduziram debates, apresentações e oficinas. Os grupos presentes também expuseram o seu trabalho – livros, zines, revistas e jornais, camisetas e alimentos entre outros. Foi uma ocasião para dar visibilidade e angariar apoio para projetos, forjar alianças, compartilhar habilidades e abordar temas relevantes para as lutas daqueles que se insurgem contra as diversas opressões que cruzam as nossas vidas. 

Durante o evento, a Teia montou uma banca onde expôs alguns artigos e artesanatos produzidos nos territórios Guarani Mbya, como a retomada do TI Nhanderekoá – Itanhaém e as aldeias Takua Ju Mirim e Yyrexakã que ficam no distrito de Parelheiros (TI Tenondé Porã), São Paulo, para arrecadar recursos para essas comunidades, além dos livros “Por Terra e Território” e “A Escola da Reconquista”. Também foi realizada uma roda de conversa sobre retomadas indígenas, ajuda mútua e política para além do voto em parceria com o Coletivo Urbano em Apoio aos Povos Indígenas (CUAPI) e a Outra Campanha.

Um dos temas centrais do diálogo foi o fortalecimento dos territórios a partir da elaboração e a integração de relações entre humanos e os elementos não-humanos. Maria Agraciada, indígena do povo Tupinambá, foi uma das que participaram da roda de conversa, trazendo belíssimas reflexões sobre modos de existência a partir das interações entre os elementos vitais e sensoriais como o vento que sopra nossa face, a água que nos hidrata, o calor do sol que nos aquece, as plantas e os animais que compõe nossas comunidades, todas essas formas de vida que confluem para uma nova didática de relações de existência oriundas da ancestralidade, dos saberes e dos conhecimentos de povos e sociedades marginalizadas e tidas como atrasadas.

Quando falamos em território, não falamos apenas em um espaço geográfico, e sim em uma construção que envolve o estabelecimento de outras formas de organizar nossas vidas e relações que rompam com o isolamento e a exploração que o colonialismo e o modo de vida burguês imposto pelo capitalismo baseado no ideal do indivíduo autossuficiente, desvinculado de compromissos social e laços comunitários, que compete entre si e goza de privilégios a partir da exploração do trabalho e da miséria do outro. 

Os desafios dessa construção acontecem em diferentes contextos a partir da experiência de comunidades indígenas, assentamentos rurais e ocupações urbanas. Nesse sentido, uma grande aliança de povos se faz necessária, de modo a prescrever as experiências comunitárias adquiridas na forma de cultura e arte que promovam a memória de resistência e existência.

Pensar a política nesses termos é reestabelecer laços de apoio mútuo, camaradagem e cooperação que forjam as condutas dos afetos na concretude e na materialidade da vida, sem cair em idealismos, muito menos sem se deixar absorver por um pragmatismo cru, sem vitalidade que não se permite sonhar nem se encantar com a beleza da vida. Momentos de encontros como estes, permitem aflorar o potencial existente em torno da auto-organização social ao passo que a autonomia individual se destaque por meio dela quando nos permitimos tocar e sermos tocados por outras linguagens, outras cosmologias libertárias e anárquicas encarnadas entre muitas culturas capazes de recriar uma outra sociabilidade e um outro mundo.

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