Posted on: 31 de janeiro de 2023 Posted by: Teia dos Povos Comments: 1

Em pleno dia de abertura da 7ª Jornada de Agroecologia da Bahia, os participantes foram surpreendidos pelo protesto de moradores do distrito de Encarnação, vizinho à comunidade quilombola e de pescadores e marisqueiras Conceição de Salinas, onde acontece o evento. Ao longo de segunda e terça-feira (30 e 31/1), eles fecharam a pista que dá acesso às comunidades do município de Salinas da Margarida para pedir justiça pelo assassinato do pescador Josias de Jesus.


Na noite de domingo, Josias foi assassinado a tiros em plena praça central do distrito de Encarnação, diante de dezenas de pessoas, segundo os relatos. O criminoso, Leonardo Arouca, é proprietário de um mercado na comunidade e mora há poucos meses em Encarnação. O motivo do crime, segundo familiares de Josias, teria sido uma discussão depois de o pescador ter cobrado o comerciante pelo fato de ele ter espancado a irmã de Josias, que tem deficiência intelectual, ainda segundo familiares. O criminoso teria corrido até seu carro, um Toyota Corola, de onde retirou um revólver, com o qual desferiu dois tiros sobre Josias. Após o crime, o assassino fugiu do local, para escapar da prisão em flagrante.


Revoltada, a população local cercou o mercado do criminoso. A Polícia Militar deu proteção aos funcionários do comerciante, que retiraram, em vans e caminhonetes, os produtos do local, o que acirrou ainda mais os ânimos na comunidade. Um dos veículos, uma van, foi queimado por manifestantes quando eles fecharam a pista, na tarde de segunda (30).


Outro fator que acirrou os ânimos foi a demora na presença de um médico legista para examinar o corpo. Segundo o comando da PM em Salinas da Margarida, a Secretaria de Segurança Pública tem atualmente um déficit no número de peritos, o que leva a esse tipo de atrasos. Somente na manhã de terça (31), a PM anunciou aos manifestantes que o corpo seria liberado após os exames.


O crime, da forma como ocorreu, na visão dos moradores de Encarnação, teve claro componente racial e social. “Nós somos pretos e pescadores, e eles são brancos de classe média alta”, bradava aos PMs que acompanhavam o protesto na estrada uma moradora que era amiga de Josias e estava na praça no momento do crime. “Ver a polícia escoltando arroz, feijão, açúcar deles em vez de se empenhar em proteger a nós, pessoas de bem, me deixou revoltada”.


Atendendo a um pedido de familiares de Josias, uma delegação da Teia dos Povos esteve no local do protesto na manhã de terça (31) para demonstrar solidariedade à comunidade. O protesto da comunidade se dispersou no início da tarde, quando o corpo de Josias chegou a Encarnação para o velório e o enterro.

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