Posted on: 7 de abril de 2022 Posted by: Teia dos Povos de São Paulo Comments: 0

Durante os dias 10, 11 e 12 de março a Aldeia Boa Vista (Jaexa Porã), localizada em Ubatuba, Litoral Norte de São Paulo, realizou a Celebração dos 52 anos da Aldeia, com o tema Resistência e Reconhecimento Territorial.

Atendendo ao chamado do Cacique Marcos Tupã para prestigiar e apoiar a celebração, os parentes da TI Jaraguá (São Paulo, SP), Aldeia Yyrexakã (São Paulo, SP), da Aldeia Gwyra Pepó (Tapiraí, SP), os companheiros e companheiras do Pré-assentamento Egídio Brunetto (MST, Lagoinha, SP), do Galpão Alimenta (São Paulo, SP), e a militância da Teia estiveram presentes em Ubatuba, para celebrar a resistência e a força da Aldeia Boa Vista. Saímos desta grande celebração mais certos de que os mais de 500 anos de resistência dos povos originários na defesa e retomada de seus territórios são faróis da luta popular que estamos travando.

Foto: Vitória Regina

Fala de Cacique Toninho na abertura da comemoração

Por isso que nós lutamos pelo nosso direito de conquistar nosso espaço, pras nossas crianças viverem tranquilas. Não é só as pessoas que estão lá, como elas classificam, que só os filhos dos ricos possam brincar tranquilos? Nós também somos seres humanos como os outros e nós também somos sustentados pelo seio da Terra.

Porque se não tivesse o seio da terra, ninguém estaria aqui.

A água que eles bebem, nós também bebemos.

Nós não temos muito dinheiro mas nós temos a vida que é mais preciosa do que o dinheiro.

As nossas crianças precisam de vida, nós precisamos de vida, no ar, na natureza que Deus criou.

Foto: Vitória Regina

Fala do líder Valdeci Mirim na abertura do evento

O desmatamento dessa parte, porque para nós é muito importante preservar a natureza, preservar a nossa saúde e o nosso corpo, a nossa sabedoria dos Guarani Mbya. E a gente respeita muito tudo que a gente vê que Nhanderu criou pra gente cuidar, e não destruir. E com a música a gente passa pras nossas crianças sempre preservarem a natureza, esse universo lindo que Nhanderu criou para nós cuidarmos. E a gente passa através da música pras nossas crianças e pra vocês também.

Foto: Vitória Regina

Cacique Marcos Tupã – Ritual de passagem para o Ara Ymã (tempo velho)

Os nossos anciões vivem o nosso ciclo, no nosso tempo, então nós vivemos num tempo de referências, que nós refletimos e nós rezamos. O período de outono, de inverno, é tempo velho: tempo de recolher, tempo de refletir, tempo de ficar em casa, ou fazendo nossas atividades mais internas com as famílias. Então estamos próximos de passar esse período.

Foto: Vitória Regina

E aí nós temos o período de primavera/verão, o tempo novo, Ara Pyaú, e quando faz essa passagem, fazemos nosso ritual agradecendo a Nhanderu pela nossa vida, a vida das crianças. E que nos fortalece nesse período de primavera e verão, primavera principalmente as folhas caem e nascem as novas folhas, aí a gente se prepara pro nosso roçado, prepara nosso plantio, prepara nossa vida, nossa vida religiosa, fazer o Nhemongaray, essa passagem de ciclo. E agora fechando já próximo aqui do Ara Pyaú, passando, atravessando para o Ara Ymã. E todos nós passamos com saúde. A doença física está aí, mas precisamos rezar sempre, buscarmos nossa força espiritual, cada um na sua casa, na sua família, sempre buscar esse fortalecimento espiritual. Porque todos nós amanhecemos, vivemos o nosso dia a dia, mas não sabemos o dia de amanhã. Então é importante que nós façamos essa reza para que todos nós fiquemos fortes, mbaraeté, e continuarmos nossa luta, no dia a dia, seja na nossa família, seja na comunidade, no coletivo, sempre buscando a paz e a harmonia na comunidade, no povo guarani. E também buscar harmonia entre os demais seres humanos que habitam esse planeta Terra.

Então a terra, o planeta Terra, pede socorro também.

E cada um de nós tem a obrigação de olhar pra natureza, olhar pro nosso dia a dia e viver o Nhanderekó, e fortalecer a nossa vida. Então esse período agora, estamos fechando o ciclo do Ara Pyaú e vamos adentrar o ciclo do Ara Ymã, o tempo velho pra nós.

Nós tivemos esse calendário dos nossos anciões, Txeramõe, Txedjary, aqui na aldeia a gente ainda vive essa sabedoria, essa importância da natureza, essa riqueza, essa beleza, que nós temos no nosso território. Mas falando do planeta Terra, ela precisa de cada um de nós, continuarmos nossa luta, cada vez mais fortalecermos e buscarmos a paz entre a humanidade. Porque o desafio aí lançado para cada um de nós está lançado não nesse momento, mas desde que a colonização se pôs presente aqui nesse território.

Então vamos entoar nosso canto para agradecer a Nhanderu essa oportunidade de nós estarmos aqui hoje mais uma vez com nossa comunidade, nossa família e agradecer a cada um de vocês que estiveram presente nessa atividade, nessa comemoraçao de 52 anos da aldeia Boa Vista. Mas isso é um recomeço, da nossa caminhada que nunca para e a luta sempre continua.

Então vamos entoar o nosso canto, entoar os nossos ancestrais e buscar a força espiritual.

Foto: Vitória Regina

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