Posted on: 2 de setembro de 2020 Posted by: Teia dos Povos Comments: 3

Há mais de 8 anos estamos trabalhando com a soberania alimentar e autonomia dos Povos. Nessa caminhada, sentimos que era necessária a construção da Rede de Sementes dos Povos. Trata-se de um mecanismo para construção e produção de sementes crioulas e sementes originárias dos Povos originários (Povos Indígenas), dos Pequenos Produtores, da Rede de Mulheres Camponesas e de todos os Povos que tem tradição em conservar as sementes sem o uso de agrotóxico ou fertilizantes.

A Teia dos Povos entende a importância da terra, do território e das sementes como princípio da vida. Estamos desenvolvendo a Rede de Sementes para possibilitar a todas as comunidades e todos os Povos a manutenção da tradição da conservação de suas sementes como estratégia de sobrevivência, para garantir a independência e a soberania alimentar. Por isso, convocamos todas e todos a participar desse esforço grandioso.

A soberania alimentar como caminhada em nossa grande luta

Como é possível fazer uma grande luta política se não alcançarmos a soberania alimentar? Estamos às vésperas de uma crise alimentar que pode matar mais do que a própria pandemia de COVID-19. Infelizmente apesar dos alertas da FAO e ONU, as esquerdas parecem se ocupar pouco das tarefas para impedir esta situação. A nossa grande luta contra o capitalismo e o racismo tem como inimigo central em nossas terras o latifúndio. É atuando na retomada de nossas terras ancestrais e de direito, que poderemos enfrentar a fome que se avizinha e construir a caminhada da soberania alimentar.

Para chegarmos a dizer que somos soberanos em alimentação, há muita caminhada pela frente. É preciso cumprir algumas etapas como garantir a soberania hídrica (sem água, sem comida), reorientar a educação para formar militância comprometida com a terra e outras tantas ações.

Mas como produzir alimentos em meio à ditadura do mercado das sementes transgênicas e do uso extensivo de agrotóxicos? Para isso é fundamental reproduzir, selecionar corretamente e difundir as sementes crioulas e, neste primeiro momento, sobretudo, sementes das plantas que nos ajudarão a enfrentar a crise de fome. Portanto para nós, consolidar a rede de sementes é um passo fundamental.

O passo da rede de sementes e as tarefas urgentes

Entendemos que é necessário construir locais de produção para disseminar as sementes em todas comunidades que a Teia trabalha. Construir relações com todas as agricultoras e agricultores, povos originários e quilombolas para trocar, dialogar e aprofundar o debate sobre a importância das sementes para perpetuar essa grande tradição dos Povos antigos.

Queremos realizar intercambio e troca de experiência com quem já tem tradição e ao longo de muitos anos cuidam das sementes. É necessário compreender que isso é uma cultura importantíssima para a preservação da biodiversidade e para perpetuar as espécies que os Povos vêm selecionando, organizando e guardando ao longo do processo da construção da agricultura.

Para isso é necessário que todos os Núcleos, todos os Territórios tenham um lugar sagrado de reprodução das sementes, uma casa para armazená-las cuidadosamente, construir vários pontos de trocas e seleção de sementes. Nessa rede, precisamos construir um grande laço de solidariedade para ajudar a propagar essa política também no meio urbano, incentivar para que nas periferias das grandes cidades e em outros locais das cidades possam desenvolver a agricultura rururbana para garantir que todos tenham acesso as sementes e todos possam plantar.

Como já falamos, é necessária essa rede de trocas e incentivar uma cooperação com os que tem terra e território e os que não tem, para garantir que esses locais estratégicos de reprodução de sementes possam se tornar permanentes com o rigor que devem ser tratadas as sementes. Não podemos permitir que as sementes crioulas sejam contaminadas por sementes transgênicas. É fundamental protegê-las do agronegócio, da biopirataria e acima de tudo, conservar a biodiversidade. Sendo assim, quem tem terra e território tem a tarefa de produzir e reproduzir as sementes. Quem não tem terra, mas tem interesse em contribuir pode se tornar sócio da Rede de Sementes, podendo assim, ajudar a preservar e distribuir para aquelas comunidades que não têm acesso às sementes orgânicas, fazendo parte dessa grande construção que é a Teia dos Povos. Todas e todos devem participar com trabalho, com solidariedade ou ajudando com recursos e insumos para bancar os custos dessa Rede de Sementes.

Aqueles ou aquelas que forem sócios e não têm terra para plantar podem contribuir com trabalho e recursos e receber em sementes para guardar/ter acesso as sementes ou adotar uma comunidade para repassá-las. Sendo assim, todos e todas podem participar, de um jeito ou de outro, o importante é entender o poder e a estratégia de conservar as sementes e toda a sua biodiversidade, da soberania alimentar e da autodeterminação dos Povos.

Estamos entendendo que cuidar das sementes é uma tarefa revolucionária, uma tarefa de garantir autonomia e liberdade na terra, nos territórios e nas comunidades.

Diga ao Povo que avance! Avançaremos!

#fundamentosdospovos

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  1. Lutar pela Terra e território: ferramentas para o bem viver. Soberania alimentar e autonomia: ferramentas de libertação.
    Nossa tarefa é articulação, organização e luta.

  2. […] No dia 12 de Março, Neto Onirê Sankara da Direção Estadual do MST Bahia, e conselheiro da Teia dos Povos, visitou Mestre Joelson Ferreira no Assentamento Terra Vista/BA em busca das sementes de milho crioulo  para a terra da Brigada Ojeffersson e do Quilombo Terra Livre. A partilha de sementes é o primeiro passo para ruptura com a chantagem da fome em que estamos sendo subjugados. É depois dele somos capazes de construir a autonomia alimentar da terra e do território. […]

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