Posted on: 6 de agosto de 2021 Posted by: Teia dos Povos Comments: 0

Texto e imagens por Guandu Grupo Agroecológico

Nós do Guandu Grupo Agroecológico do Assentamento C. Marighella em Santa Maria, RS, em parceria com a Ocupação Vila Resistência e o Mutirão – Grupo de Trabalhadoras e trabalhadores da Terra, vinculados a Teia dos Povos em Luta no RS, estamos convidando companheiras de luta dos grupos e comunidades periféricas a participar de um processo de socialização da terra, de apoio mútuo, solidariedade e de formação popular em Agroecologia. Ao abrir nosso território, estamos possibilitando que famílias, comunidades e indivíduos possam ter acesso a terra, a fim de produzir de forma coletiva alimentos saudáveis e se apropriar de toda a cadeia produtiva dos alimentos, desde a semente até chegar ao prato.

A partir do marco da Campanha de Luta por Vida Digna em 2020, elaboramos um movimento de resgate das sementes crioulas, fortalecimento das hortas e cozinhas comunitárias, firmando uma articulação entre povos do campo e da cidade para encararmos esse contexto genocida e devastador em que vivemos.

Trazendo perspectivas ainda mais assombrosas para os povos oprimidos, o fascismo vem ganhando espaço nas instituições públicas, fortalecendo os conflitos na sociedade e dando sequência ao projeto racista e colonialista de dominação.

Desde os governos traidores, que negociaram com a burguesia nacional e internacional nossas vidas para se manterem no poder, o Agronegócio vem alcançando seu ápice com o aumento do latifúndio, da exploração do trabalho e da degradação da biodiversidade. O projeto de destruição dos povos e da natureza segue como um trem desgovernado em direção ao fim iminente, graças ao governo de extrema direita de Bolsonaro, que facilitou ainda mais o uso desenfreado de agroquímicos nocivos à saúde dos ecossistemas e a invasão e destruição de territórios indígenas e quilombolas.

Com os cortes de direitos, aumento do custo de vida, precarização do trabalho e da vida, a pandemia trouxe consigo o cenário propício para o lucro da indústria e do Estado, em detrimento de nossa saúde, diminuindo nossas possibilidades de sobrevivência e expandindo os abismos da desigualdade e da miséria nas periferias dos grande centros urbanos. Desafios que já vivenciávamos, mas que são validados em absoluto pelas políticas adotadas pelo Estado ultraliberal diante dessa crise sanitária mundial. Vivemos na pele a tragédia, e enxergamos para o futuro a farsa de um mundo melhor.


Acreditamos na agroecologia como princípio fundamental para a resistência, sobrevivência e permanência dos povos em seus territórios e, principalmente, para combater a fome que já atinge mais de 19 milhões de pessoas no Brasil, desde o início da pandemia. Em Santa Maria, por exemplo, mais de 17 mil santa-marienses vivem em situação de extrema pobreza, contabilizando cerca de 5,5 mil famílias que passam o mês com menos de R$85 por pessoa no município.

Com autonomia alimentar poderemos continuar construindo caminhos firmes para a nossa emancipação.
O agro tanto destrói a diversidade da vida com seu único modelo e técnicas agrícolas, como também vem determinando os alimentos e base nutricional de todas as populações. Baseado em comidas industrializadas e hiper processadas, a produção é limitada e limitante para se ter uma boa alimentação e saúde. Permitir seu avanço e desenvolvimento é adoecer a terra, as plantas e os humanos.

Agroecologia e poder popular


Precisamos saber quais são as atividades necessárias para que as nossas comunidades mantenham sua boa saúde e alimentação. Estas atividades, geralmente, envolvem conservar sementes e mudas adaptadas à ecologia local, conhecimentos de plantio e manejo do solo, clima, manutenção do cultivo, cozinhar, organização e divisão do trabalho, entre outras coisas. Tudo isso envolve acesso a práticas e conhecimentos, acesso à terra, máquinas, ferramentas, instrumentos e tecnologias em cada etapa da produção, da semente ao prato. Da mesma forma, é preciso saber qual a melhor organização social para que estas atividades se realizem da melhor forma possível. É essa caminhada que estamos querendo trilhar com esse projeto, entendendo o trabalho coletivo como princípio educativo e de construção da autonomia.

Assim, precisamos especificar tudo isso que sustenta nosso bem estar social e nutricional com organização e autogestão, sem grandes dependências externas. Autonomia é ser capaz de afirmar aquilo que lhe é próprio, ou seja, de determinar o que é preciso para nossa existência. É um princípio ético, necessariamente social, construído de forma coletiva em um processo participativo e popular, que está diretamente relacionado ao poder popular de um povo em direcionar, gerir e produzir suas vidas. É nessa perspectiva que devemos considerar o papel da agroecologia para os povos.

Poderíamos entender a agroecologia como um conjunto de práticas agrícolas, conhecimentos populares e científicos que levam em consideração a interação e o respeito entre a humanidade e a natureza no processo de produção de alimentos, sendo uma alternativa ao agronegócio. Mas para nós, a agroecologia é a garantia de autonomia, sobrevivência e permanência dos povos em seus territórios, quando desenvolvida de forma coletiva e comunitária. Ela se diferencia do agronegócio e das grandes empresas de distribuição de alimentos de várias formas, mas a principal é que na agroecologia os conhecimentos necessários em todas as etapas da semente ao prato (para saber mais, clique aqui, aqui e aqui) estão sob controle popular.

É cultivar a terra, cuidar da vida e lutar por vida digna.


Leave a Comment