Posted on: 20 de setembro de 2020 Posted by: arkx Brasil Comments: 0

A luta popular por terra, liberdade, saúde e alimentação saudável na Baixada Fluminense (RJ).

Graças a Deus, o coronavírus não foi lá para o Assentamento. Não teve caso nenhum. Teve um caso suspeito, mas o teste foi negativo.

Nós nos cuidamos. Sempre conversando e conscientizando as pessoas, para não se contaminarem e não contaminar os outros. Trabalhamos o Terra Prometida toda. Não só lá, mas em várias favelinhas ali por perto.

Articulamos cestas para entrega, dentro e fora do Terra Prometida. Ficamos na função da entrega dos nossos alimentos naturais para vários lugares. Inclusive o CEDAC (Centro de Ação Comunitária) comprou produção da agricultura familiar para complementar a cesta para entrega nas favelas do centro do Rio, para os moradores de rua, dos hospitais, também na Aldeia Maracanã dos povos indígenas.

As plantas medicinais que levamos para entrega no Morro do Sossego, em Duque de Caxias (RJ), foram uma variedade pouca do  que tem dentro do Assentamento. E naturais, não foi planta da horta não. Nós vamos até fazer uma horta lá, só de plantas medicinais.

Nós levamos: urucum, boldo, capim-limão, erva cidreira, erva Santa Maria, que é para vermes, manjericão, para fazer chá, hortelã roxo e hortelã pimenta.

Levamos também da selva, que é silvestre: assa-peixe, aroeira, alecrim, citronela.

Com fotos de Rogério Duarte

Sobre a nossa produção. Estou montando uma horta com semente crioula, porque não quero plantar outro tipo de semente. É menos gasto, porque já tenho algumas sementes. É cultivar e continuar.

Comprei uma moenda de cana. Para fazer melado, rapadura, açúcar mascavo. E também o melado cremoso. Vou levar a moenda para a feira, ela é pequena e tem um carrinho. Eu e mais uma pessoa vamos ficar nesta tarefa.

Vamos fazer também a feira quinzenal na FioCruz (Fundação Oswaldo Cruz). Vamos articular lá também, a companheirada já nos convidou para participar da feira lá.

Produzo também a carne de jaca, comida vegana muito boa. Vou produzir linguiça de jaca.

Vou fechar uma parceria com o coletivo FALA para ver quando podemos começar também uma feira com eles lá no Parque Barão do Amapá (bairro no distrito de Xerém, em Duque de Caxias, RJ).

Estou também abrindo mais dois espaços. É uma lojinha. Vai ter também a feirinha e o café. Tipo o Raízes do Brasil só que pequeninho. Em São João de Meriti, na casa da companheira Silvana.

Estou conversando com a Marilza para montarmos também uma feirinha no Morro do Sossego.

E junto com as companheiras do Coletivo Hidras fazer a sacola cheia. Para que as pessoas que tem menos possibilidade, menos condições de comprar, possam adquirir uma sacola cheia por R$15.

Vem uma diversidade: banana, batata, inhame, mandioca. Do jeito que dá para a pessoa comer durante a semana, sem precisar gastar tanto. E sabendo a qualidade da comida que estão comendo, legumes e frutas da época.

Estou fazendo um diagnóstico de família para as favelas da Baixada Fluminense. Para fazer mutirões e oficinas em cada local. Inclusive para reforma de casas, porque tem muitas companheiras que precisam aumentar as casas, ou mesmo o telhado, a parede, o esgoto, um caixa d’água…

Assim também fortalecendo as companheiras em cada favela que estão neste trabalho neste momento, neste tempo de pandemia.

Estamos articulando, eu e a Bianca que ficamos nesta função, para aumentar a quantidade de feiras para manter as necessidades das companheiras.

Estamos também conscientizando aqueles que não plantam para passarem a plantar. Este tempo agora nós temos que plantar. E organizar as plantações. Tem gente que planta muito, mas não tem conhecimento de como é o manejo e perde muito para o meio do mato.

Estou fazendo o diagnóstico. Porque fazendo o diagnóstico fica fácil saber o que tem e como pegar esta produção e levar para a cidade e para as favelas.

Estou fazendo este trabalho com os nossos amigos sem terra de Nova Iguaçú (RJ), porque o nosso assentamento tem duas partes a de Caxias e a de Nova Iguaçú.

Também fazer as oficinas para as pessoas que não sabem produzir geléias, para o reaproveitamento das frutas, dá para fazer doces, compotas, conservas, picles.

Isto é importante para gerar renda.

E fazer bioconstrução e reciclagem de material, de madeira, janelas, portas, telhas, de pia, de vaso. Fazer banheiro seco onde não tem esgoto. Conscientizar o povo para ter menos lixo. Um trabalho ambiental também.     

E nas comunidades, onde associação, cooperativa, como dos catadores e catadoras, se tiver um canto, uma casa, fazer a horta nos pequenos espaços, se tiver um quintal nas casas. Incentivar as crianças, as senhorinhas e até mesmo as donas de casa que não trabalham fora para fazer um trabalho juntas. Conscientizar as garotadas que através do trabalho consegue fazer melhor o lugar que moram.

A gente pode fazer uma ciranda dentro da favela.

Se tem uma casa, deixar e cuidar ali das crianças das mulheres que trabalham fora. Se não tem a terra boa, a gente leva esterco para eles plantarem e verem as plantinhas nascerem, comer daquela planta que plantou. Limpar a rua em que moram.

Tirar o lixo da rua, mesmo se não foi eles quem jogaram. Quando a gente vê um monte de lixo jogado, e acha que é o governo, o Governador e o Prefeito quem tem que tirar. A gente também tem que cuidar da nossa parte, não precisa depender deles.

Conscientizar essas crianças que estão vindo aí, para ter um mundo, até mesmo uma favela que é tão feia, que pode ser melhor do que é.

E também a conscientização religiosa que é muito importante nesse tempo. E a política correta, porque temos uma política horrorosa que não podemos nem acreditar mais em nada.

Trabalhar um pelo o outro. Juntos se faz valer o direito de todos.

Nesses espaços sempre tem uma associação ou uma igreja que abrem as portas. Ali fazer um fogão à lenha para fazer uma comida, uma oficina.

Para as mulheres que trabalham fora, vamos arrumar casas, das pessoas que acreditam que ajudando um pouco se torna muito, para pegar as crianças e fazer com elas uma formação de educação do campo. Eles vão aprender a lidar com a terra, a plantar a semente, cuidar das árvores, limpar o lugar que moram. Um monte do coisa para conscientizar os pequenininhos a ser uma pessoa o lugar em que moram melhor do que é hoje.

Nós do Assentamento Terra Prometida temos condições de abranger o Rio de Janeiro inteiro. Podemos fazer crescer muito mais as possibilidades. Tem muita gente capaz, mas que fica invisível. Estamos procurando este povo. Pessoas que sabem e podem fazer.

Estive em várias favelas do Rio, que eu não conhecia, como o Morro do Alemão, a Serra da Misericórdia, até mesmo em Magé, em Manguinhos e na Cidade de Deus.

Mesmo com as dificuldades, tudo tem dificuldade, mas a gente consegue. Se ir fazendo de coração e com perseverança.

Míriam Firmino de Oliveira

moradora do Assentamento do MST Terra Prometida, na Baixada Fluminense (RJ).


sobre os Diários da Pandemia:

  • Embora seja tb um trabalho jornalístico, se propõe a muito além disto.
  • Tem como objetivo principal tecer uma rede de comunicação entre as diversas lutas localizadas.
  • De modo a circular as experiências, para serem reciprocamente conhecidas numa retro-alimentação de auto-fortalecimento.
  • Não se trata de tão somente produzir matérias, e sim tornar as matérias instrumento para divulgar conteúdo capaz de impulsionar os movimentos.
  • Em suma: colocar a comunicação a serviço das lutas concretas.

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