O trabalho em prol da soberania alimentar em Caxambu (MG). Plantação saudável. Alimentação saudável. População saudável.
A cidade de Caxambu, situada no sul de Minas, tem uma característica única no mundo: um parque com 12 fontes diferentes de água mineral, todas com propriedades curativas já comprovadas.
Agora neste tempo de pandemia e através da Prefeitura Municipal, nasce em Caxambu uma iniciativa pioneira: a Estação Ecológica de Produção Sustentável.
Situa-se numa área central da cidade, com fácil acesso a pé, e ao lado de uma mata com cerca de 14 hectares, onde existem algumas nascentes d’água.
Além do objetivo principal de produzir alimentação saudável, a iniciativa também inclui a produção de mudas e sua articulação com projetos sociais e de saúde, educação ambiental, transferência de tecnologia e geração de renda.
São quatro seus eixos de estruturação: Horta, Horto, Herbário e Ecologia.
Hiran Vilas Boas, engenheiro agrônomo, funcionário da Prefeitura e um dos responsáveis diretos pelo projeto, afirma ser decisivo o momento atual:
“Sabemos que com a pandemia a situação pode se agravar muito. Vamos focar na produção sustentável para o Município ter um abastecimento de alimentos saudáveis. Sempre trabalhando nos três vieses: o econômico, o social e o ambiental.”
Marcos Morais da EMATER-MG de Caxambu (MG), a qual reabriu em Caxambu (MG), também responsável direto pelo projeto, explica a abrangência pretendida:
“Vamos trabalhar com capacitação e transferência de tecnologia para posteriormente estender a produção de alimentos para um quintal, uma propriedade rural, focando na agricultura familiar. E também trabalhar muito com a comunidade escolar.”
A Horta vai inicialmente abastecer as associações e entidades sociais da cidade, como o Asilo Santo Antônio e a Casa da Criança. E também atuar junto com o pessoal do PSF (Programa Saúde da Família).
O Herbário inclui não só a produção das ervas medicinais, com integração com o programa estadual da Farmácia Verde, como identificar no município os raizeiros, para fazer o resgate destes saberes ameaçados.
Hiran Vilas Boas destaca a importância do trabalho já desenvolvido no Horto Municipal:
“O trabalho já há tempos realizado no Horto é muito bem feito, tendo o Allan à frente dele. A questão de trazer o Horto para junto da Horta e do Herbário é apenas mais pelo espaço, que é bem maior, e para manter os quatro eixos articulados num mesmo local.”
A partir de uma base de dados do IBGE foi feito um mapeamento no município, com visitas in loco, compondo um cadastramento com cerca de 140 propriedades rurais, entre elas 47 da cadeia leiteira.
Foi feito um diagnóstico para identificar o tipo de produção, a utilização de agrotóxicos, assim como conhecer necessidade e demandas.
Marcos Morais fala sobre a importância da aproximação e trabalho conjunto com os pequenos produtores de leite:
“Como temos aqui na região uma agroindústria produtora de vários queijos famosos, para as famílias identificadas na bovinocultura de leite vamos levar assistência técnica para uma produção de leite que não agrida o meio ambiente.
Podemos começar a produzir aqui mudas de capim Capiaçu, que veio para a agricultura familiar como substituto do milho, reduzindo os custos com silagem e reduzindo também a área de plantio.
Um dos objetivos é trabalharmos como unidade demonstrativa, onde sejam realizados dias de campo e cursos de capacitação.”
No futuro a intenção é chegar a adotar uma moeda social, para pagamento de serviços prestados e aquisição de bens no pequeno comércio local.
Neste sentido, Hiran Vilas Boas enfatiza a importância do projeto:
“Precisamos contribuir para que os pequenos produtores tenham uma renda capaz de fixar o homem na terra. Para que não tenham que sair e ir para as cidades, procurar emprego, porque a gente já sabe o final desta história.
As tecnologias que pretendemos trazer são principalmente para viabilizar a produção tanto no âmbito econômico, como social e ambiental.”
O Banco de Sementes Crioulas é um dos pontos principais a ser implantado, conforme informa Marcos Morais:
“Para montar o banco de sementes precisamos contar com colaboradores e parceiros, para termos uma variedade imensa de sementes crioulas.
Para isto contamos com o apoio da Teia dos Povos. Para aqui trabalharmos na multiplicação das semente crioulas do milho.”
O projeto já saiu do papel.
A logística dos equipamentos necessários está em andamento. O solo está sendo preparado. E muitas ações estão sendo implementadas, incluindo um plantio inicial de mudas no local, numa parte mais baixa próxima ao curso d’água.
A fase atual inclui a identificação dos funcionários que irão trabalhar diretamente na terra. Para isto é necessário pessoas que tenham envolvimento com a função, mesmo sem disporem de conhecimento específico e prática anterior.
As idéias já estão semeadas na terra. Do trabalho em conjunto da Prefeitura, EMATER-MG e população, unindo esforços, a tendência é colher bons frutos.
sobre os Diários da Pandemia:
- Embora seja tb um trabalho jornalístico, se propõe a muito além disto.
- Tem como objetivo principal tecer uma rede de comunicação entre as diversas lutas localizadas.
- De modo a circular as experiências, para serem reciprocamente conhecidas numa retro-alimentação de auto-fortalecimento.
- Não se trata de tão somente produzir matérias, e sim tornar as matérias instrumento para divulgar conteúdo capaz de impulsionar os movimentos.
- Em suma: colocar a comunicação a serviço das lutas concretas.
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Que relato fantástico! Muito interessante esse diagnóstico local interagindo com as diferentes necessidades. Lembro de um cenário parecido quando visitava as regiões do Projeto Mata Ciliares nas regiões rurais da Grande São Paulo nos anos 2000, que também incentivava a produção sustentável de leite e cuidando das áreas de proteção permanente. Uma das estratégias, desenvolvidas no local, era deixar a água armazenada em pequenos reservatórios que permitiam o gado beber. Ao mesmo tempo que impedia o acesso dos mesmos às matas ciliares, deixar a água nesses reservatórios ou bebedouros aumenta a sua temperatura. Como o gado não possui os dentes esmaltados, isso influencia na quantidade de água que ele pode tomar e, como consequência, na produção de leite. Os agricultores que visitávamos na época falavam que esse método simples permitia o aumento em 20% na produção do leite, além de ajudar a proteger as APPs.
O problema não é a vaca, que são animais adoráveis, e som o tipo de manejo, o sistema de pecuária.
O gado não gosta de água frIa?
São animais muito importantes, parte da história e da cultura de MG. Acho que não seja questão de gostar ou não. O lance de beber mais água em maior temperatura e aumentar a produção leiteira foi um diagnóstico local que os participantes do projeto acabaram achando sem querer, pois o objetivo inicial era a proteção das matas ciliares.
Compreendi.
Mantenha contato com a gente.
Se tiver algum relato de luta concreta que vc participe, nos envie.
Valeu!
Massa, vou ver com o pessoar onde eu faço pesquisa se eles liberam fazer um escrito síntese, atuo numa região onde tem muito projeto bacana. Quero interagir mais com vocês, me identifiquei muito com a proposta do Teia.