Posted on: 25 de agosto de 2021 Posted by: Teia dos Povos Comments: 1

Foto: Andressa Zumpano

Com o respeito de nossos mais velhos,
Com a benção dos mais velhos que nossos mais velhos,
Com a responsabilidade do legado das grandes lutas dos povos,
Aos movimentos sociais,
À militância das esquerdas,
Ao núcleos de base da Teia,
Aos elos da Teia,

Uma guerra pela terra

Onde quer que miremos nosso olhar no Brasil, veremos uma guerra pela terra. Não é uma guerra convencional e declarada. É uma guerra descarada, desavergonhada, que finge respeito à constituição e a viola todos os dias para nos perseguir e matar. Brasília é um simulacro de poder. O poder de fato é a terra. Eles sabem e por isso nos perseguem. Nós só temos nossos corpos, coragem e poucos territórios para viver com alguma dignidade. Eles decidiram que não podemos ter nossas terras, nossos territórios, que tudo deve pertencer, cedo ou tarde, ao latifúndio, à mineração e aos megaempreendimentos. Nós só temos nossos corpos, coragem e poucas lágrimas que ainda não secaram. Pois que seja com isso que nos aprumemos para a batalha!

O poder judiciário da Bahia e do Brasil, a polícia militar e as forças armadas só servem para perseguir, matar , prender pretas e pretos, destruir os Povos Indígenas, Quilombolas, Sem Terras e todas e todos que lutam por dignidade. Pagamos altos salários a esses sujeitos, para servir a elite branca e escravocrata desse país, se comportando como capitães do mato. Agora, nesse exato momento, quantas famílias não estão sendo despejadas enquanto lutam por um pedaço de terra para sobreviver nessa crise de fome, miséria que assola o país, a pandemia. A insensatez é o reino desses políticos que estão no congresso, que estão nos palácios, mal acomunados, fazendo leis pra destruir os Pobres do Brasil e entregar nossas riquezas e nossas terras aos estrangeiros.

O derradeiro dia

Senhores governantes, o dia de vocês vai chegar! Quando os Pobres, as pretas, os pretos, os indígenas e todos os Povos sedentos de justiça se levantarem para cobrar de vocês nossos direitos à terra e ao território, aos meios de produção e tudo que é nosso por direito, o dia derradeiro de vocês chegará! Nos aguarde. Esse dia vai chegar!

O nosso sofrimento e as lágrimas de nossos antepassados que começaram esta longa luta Indígena, Negra e Popular, vão bradar para cobrar essa conta. Se preparem para o cipó de aroeira de volta no lombo de quem mandou dar. Aos companheiros que estão sendo despejados em Porto Seguro (BA), ameaçados em São Francisco de Paula (RS), caçados em Chupinguaia (RO) e em cada rincão deste país, resistam, Insistam, por que a terra é nossa e de nossos antepassados.

Nossos irmãos e irmãs Indígenas estão em Brasília, de pé, em luta, em defesa da terra e do território, em defesa da vida. Assim chamaram seu acampamento: Luta Pela Vida. Continuemos firmes. Essa terra é nossa e, diferente dos brancos, não nos julgamos donos, pois no final das contas, nós é que somos dela. Juramos por tudo que é mais sagrado, vamos vingar todos nossos antepassados que morreram de pé, lutando em defesa da terra, dos territórios. Vingaremos todas as pretas e pretos, Indígenas que foram escravizados, estuprados/as e massacradas/os.

O protagonismo indígena

Acaso nesse momento há algo mais importante ocorrendo no Brasil do que a luta dos povos? Afinal de contas não foram os povos indígenas os que mais colocaram seu corpo e sua vida na luta contra o fascismo? O que esperam as esquerdas para assumir a tarefa histórica de apoiar substancialmente esta luta? Cada centímetro de terra dos povos é um centímetro a menos de terra para os latifúndios. Quanto menos poder os latifundiários tiverem, maios nossas condições de emancipação. Terra indígena, quilombola, de ribeirinhos, de extrativistas tradicionais… são terras coletivas, onde a propriedade fundiária não se converte em mercadoria para o capital especular. Cada luta deste lado fortalece nossa jornada em direção da superação do capitalismo.

Nossas irmãs e irmãos quilombolas, tenham certeza: se o marco temporal passar para os indígenas, vossas terras também estarão em risco. Nossos mais velhos nos dizem que quando a barba do vizinho está pegando fogo, a nossa tem que estar de molho. Perguntamos, então, como unificar estas lutas e construir uma grande aliança? A hora é chegada e quem não se preparar para a guerra, receberá o luto das vítimas em sua casa e contará os corpos de seus filhos.

Não existe conjuntura favorável à luta

Não há mais espaço para o crescimento do capitalismo que não seja com uma robusta espoliação e uma violência desenfreada. Eles estão ávidos para ter um pouco de lastro no seu dinheiro digital e sabem que a terra é um bem fundamental, sem o qual os outros bens não existem. Quando vamos tomar esta lição que estes vermes já aprenderam? Não adiemos nosso levante, pois as polícias transvestidas de milícias já não temem nem seus governantes diretos, servem e querem servir apenas ao fascismo. Cada decisão de cima contra nossos territórios serão cumpridos com requintes de crueldade por cães que estão sedentos por violência contra nós, as, os de baixo. Acaso não devemos nos defender? Será que não devemos repelir a violência com violência proporcional?

Nossos povos fizeram Palmares, os Redutos do Contestado, Canudos, Calderão de Santa Cruz do Deserto, a Balaiada, a Cabanagem… nossos povos são rebeldes e não esperam conjuntura boa para lutar. Zumbi, Antônio Conselheiro, Manuel Balaio não poderiam esperar a mudança de governantes para agirem. Isto é muito sério, minha gente. Se queremos que o derradeiro dia de luta chegue, precisamos hoje amolar as foices, hastear as bandeiras e fazer uma boa roça que nos dê sustança para a batalha. A palavra da hora é autodefesa! O derradeiro dia não chegará se não mostrarmos desde já que é possível, que já soubemos e ainda sabemos fazer. E para isto, não tenham dúvidas, é fundamental a aliança de povos. Nenhum partido, organização ou povo pode unificar tantos povos heterogêneos com sua forma de agir. Então, que tenhamos uma aliança heterogênea, desde baixo, à esquerda e por terra e território.

Esta não é uma carta, é um convite à resistência, um convite a se aprumar para a guerra!

Inté a Guerra!
Rumo a aliança Negra, Indígena e popular!
Diga ao Povo que avance!
Avançaremos! 


Obs: Vamos nos encontrar no final de janeiro de 2022 na Jornada de Agroecologia no Recôncavo da Bahia, até lá vamos nos organizar para os enfrentamentos. Se você está com a mesma atenção que nós, vamos dialogando, pois nossa luta precisa de muita gente, é uma luta de massas e nós estamos construindo isto aos poucos.

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